segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

O homem do walkie talkie

Lá estava eu no meio do nada. No cafundó do brejo, onde o vento faz a curva e carrega as botas de Judas. Sentado ao meu lado estava um careca. Assim que bati os olhos nele tive a impressão de que vinha de um lugar que ninguém conhecia. Até aí tudo bem, eu disse a mim mesmo que era uma alucinação. Enquanto esperávamos pelo ônibus (era o ponto final antes do abismo engolidor) o maluco pegou o walkie talkie amarelo que carregava consigo e entrou em contato. Cumprimentou-me de uma forma pouco usual e começou a falar sobre coisas que eu não teria a capacidade de descrever.
Pelo pouco que pude entender, ele é de um lugar chamado Albertane e lá eles utilizam o cérebro bem melhor que nós (o que eu achei suspeito, porque a criatura usava apenas cueca e nunca se barbeava).
Cansado de conversar com um ser inferior, o habitante extra-terrestre catucou seu walkie talkie (ou algum outro equipamento semelhante) e começou a comunicar-se com Marte. Ele conseguiu fazer contato com a nave-mãe e graças à graça de Pete pôde ser resgatado. Nesse curto tempo em que passamos juntos senti o quanto aquela presença me iluminou. Segurei as longas barbas daquele homem careca e implorei que me levasse consigo. Ele me olhou transmitindo confiança e pediu que esperasse até que voltassem para me buscar.
Um bom tempo se passou, o meio do nada se transformou na maior rua da cidade, mas eu continuo esperando por ele. Tento não me barbear, assim como eles, mas o calor da cidade não me permite. Tento manter o cabelo raspado, mas ele cresce rápido demais. Há pessoas que acham que eu sou louco, mas pouco me importa a opinião desses seres inferiores, sei que os homens carecas do pé grande virão me buscar, mesmo que você diga que eu estou hiperventilando, não vou desistir. E só quando eles vierem me buscar é que eu sairei desta parada de ônibus. Pode não ser hoje. Pode ser amanhã.


Thaïs Gualberto

Baseado na música Man From Milwalkee e inspirado no lendário habitante da Epitácio Pessoa

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