quinta-feira, 31 de março de 2005

Quais seriam as sensações do amor?
- Êpa...
- O que foi?
- Acho que vou vomitar...
- Você está passando mal?
- ... Alarme falso, só estou amando.



PERGUNTA: Se Cebola é sobrenome, qual o verdadeiro nome do Cebolinha? Ele é judeu, pra ter nome de tubérculo? Pode reparar que ele não gosta de emprestar dinheiro...

quarta-feira, 30 de março de 2005


Eu os observo. Bebendo, conversando, trabalhando e anotando. Na esquina do bar eu os observo, sendo pouco observada. Melhor assim. Penso, e muito, mas nada encontro. Queria criar, mas minha musa parece estar de recesso. Não crio, não converso nem me divirto. E há quem não compreenda como se fica sozinho em meio à multidão. Posted by Hello

terça-feira, 29 de março de 2005

Pedro Bó pergunta, Umbigo responde.

- Por que as coisas estão sempre no último lugar que procuramos?
- Porque você não vai continuar procurando depois de encontrar, vai?

sábado, 26 de março de 2005

Barbie de cinema. Sem sentido nem qualidade.

- Eu ainda tô sentindo o cheiro de Barbie do cinema...
- Tinha uma Barbie no cinema?
- Não.
- E de onde vinha o cheiro?
- Do cinema.
- Mas de que lugar do cinema?
- O cinema tem cheiro de Barbie.
- Barbie?
- É, Barbie nova.
- Você tá maluca?
- É que você nunca teve uma Barbie, não sabe como é o cheiro.
- Quem te disse que não?
- Você tinha uma Barbie?
- Eu não disse que tinha.
- Você sabe como é o cheiro de Barbie nova?
- Eu poderia saber.
- Como? Roubando as Barbies da sua irmã? Ou pedindo uma de presente pro seu pai?
- Por que não?
- É...
- As pessoas são capazes de coisas mais estranhas.
- Você não cheirava as caixas de Barbie, cheirava?
- Elas tinham um cheiro tão bom...

quarta-feira, 16 de março de 2005

Musicalidade II

Se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isso vai lhe causar muita dor
Vou enfiar meu microfone pela sua boca
Não terá coragem nem de dizer que estou rouca

sexta-feira, 11 de março de 2005

Menina e mulher II

Outra coisa que me assustou no meu “novo corpo” foi o aumento da minha libido: de repente eu passei a sentir uns arrepios ao ver passar aqueles jovens saudáveis e cheios de vida...
Comecei a procurar namorados, mas logo me dei conta de que era algo muito mais difícil do que eu imaginava. Acho que as outras, que envelheceram antes de mim, foram mais espertas e pegaram logo todos que prestavam e eram heterossexuais. Primeiro eu pensei em “converter” um gay, mas depois vi que era mais fácil, lógico e saudável converter um não-gay, mesmo. Resolvi me contentar com os homens comuns e até que me renderam boas experiências, mas a vida útil dos relacionamentos era muito curta. Em menos de um ano o prazo de validade expirava e eu tinha que sair correndo. De vez em quando uma das mais experientes abria mão dos seus e eu conseguia fisgar, mas eu não era competente o suficiente para segura-lo e em pouco tempo ele me escapava.
Desisti da pesca muito cedo, mas não virei vegetariana, ainda tenho a esperança de que um peixe vai sair da água e vir pulando até mim. Não que isso seja provável, mas até lá eu me faço de celibatária.

quinta-feira, 10 de março de 2005

Menina e mulher I

O mundo tem mistérios que às vezes ninguém explica e estou certa que um dos mais absurdos aconteceu comigo.
Até os meus dez anos sempre levei uma vida normal e fazia tudo que as garotas da minha idade faziam: brincava de boneca, pulava corda e vivia me desentendendo com os meninos.
No dia vinte e quatro de outubro de mil novecentos e noventa e seis eu fui dormir da mesma maneira que vinha fazendo por toda a minha vida, mas por algum motivo que eu não saberia explicar, foi a noite mais estranha que já tive. Eu faria onze anos no dia seguinte, mas acordei com vinte e um. A primeira coisa que senti foi dor. A dor de ter todos os meus órgãos esticados e também a dor que eu sentia por estar usando uma calcinha apertada demais. Então veio a necessidade urgente de encontrar uma tesoura. Corri até o escritório da minha mãe (já que no meu estojo eu só tinha tesoura sem ponta para cortar papel) e cortei minha calcinha. Foi aí que eu conheci os meus pêlos pubianos. Corri de volta para o quarto e comecei a explorar as mudanças mais assustadoras. Além dos pêlos, haviam crescido também os meus seios e aparecido o meu primeiro desgosto de mulher: eu estava cheia de estrias.

quarta-feira, 9 de março de 2005

Miss Bitter's Blues

Mamma
They wanna get me insane
Help me mamma
Help me please
They're playin' with me, mamma
Kill 'em all

They're mean
I've seen
They're bad
Made me sad
And their beauty...
Their damn beauty
Makes me feel so mad

Pappa
What could you do?
They lied to me, pappa
And I hate liars
Will you kill them, pappa?
Do you promise?

Sister
Do you still remember your name?

segunda-feira, 7 de março de 2005

Last nite

- Ô morena...
- Esse não é o meu nome.
- Então me diga qual é.
- Pra quê?
- Para que eu possa repeti-lo em meus sonhos.
- Mas como é galanteador.
- Sou apenas sincero.
- Duvido muito.
- Não seja tão incrédula.
- Só se você parar de mentir.
- E por que acha que estou mentindo?
- Porque é o que todos fazem.
- Você está muito tensa. Olha, eu não vou te fazer mal.
- Claro que vai.
- ... Eu vou ali pegar uma cerveja, tá?
- Bush it.



Foi-se o tempo das comédias românticas, agora é a hora das tragédias.

domingo, 6 de março de 2005

sexta-feira, 4 de março de 2005

O julgamento de incógnitas

- A sessão está aberta. A promotoria pode ser apresentar.
Uma mulher morena de cabelos presos em coque se levanta e começa a falar em um tom sério:
- A senhora X admitiu ter matado friamente o seu namorado...
- Não.
A juíza a repreende pela interrupção e a ré se desculpa. A promotora prossegue:
- A senhora nega ter matado o senhor Y?
- Não.
- Mas não foi o que acabou de dizer?
- Eu não neguei tê-lo matado. Mas ele nunca disse ser meu namorado. Sempre me apresentava como uma amiga. E tampouco o fiz friamente, muito pelo contrário, eu estava em chamas.
- Será que poderia explicar para o júri o que quer dizer com “em chamas”?
- Eu estava furiosa com ele.
- E a senhora estava na TPM, então não pôde controlar seus impulsos?
- Ele foi um filho da puta.
A juíza fez outra repreensão.
- Por favor, controle o seu linguajar.
- Perdão, meritíssima. Mas a senhora, como mulher, e até mesmo a promotora, com certeza conhecem tão bem quanto eu os motivos pelos quais me deixei levar pelos meus impulsos, como bem disse.
A promotora se apressou em discordar da ré.
- Não sou eu quem está sendo acusada por assassinato.
- Mas vai me dizer que nunca teve vontade de esganar um namorado mentiroso?
- Ora, não vejo motivos para expor minha intimidade aqui para você.
- Eu só estou tentando lhe mostrar que a minha intimidade não é tão diferente da sua.
- Então me mostre. Quais foram os justificáveis motivos do homicídio?
- Nunca disse que eram justificáveis, promotora. E gostaria que a senhora fosse menos sarcástica. É a minha vida que está em jogo, não me faça sentir incontroláveis impulsos de estrangulá-la.
Essa última frase fez com que todos no local ficassem inquietos e causou problemas para que a juíza conseguisse controlar os ânimos dos presentes.
- Que pessoal sem senso de humor...
- Senhora X, por favor deixe de lado as piadinhas e diga o que tiver a dizer em sua defesa. – falou a juíza em um tom sério.
- Sim senhora.
Só então as faces da promotora começaram a retornar à sua cor original.
- Então... Ele foi muito gentil para me conquistar, mas isso é meio óbvio. No início dava sempre notícias, me informava sobre os detalhes da vida dele, me fazia quer que teríamos um futuro.
- Aí ele fez sexo com você e foi embora? Isso não é uma exclusividade sua, sabia? – interrompeu a promotora, impaciente.
- Nada do que eu vou dizer será inédito, promotora. Aliás, qual é o seu nome?
- Z.
- Z, ótimo. Então, Z, ele não estava comigo por causa do sexo. Eu não sou a Hilda Furacão, mas se fosse por isso eu entenderia e me contentaria em desprezá-lo. Mas ele sempre me tratou muito bem e parecia se preocupar comigo.
- Um motivo plausível para um assassinato.
- Mas será que dá pra você calar essa sua boca venenosa? – gritou X, impaciente.
A juíza começou a bater seu martelo, exigindo ordem. Mas X continuou:
- Não se preocupe, eu sei que vou ser presa! Eu só quero ter a chance de me explicar, será que eu posso? Afinal, foi para isso que convocaram esse julgamento, não é mesmo? Porque se for uma só uma encenação eu paro por aqui e me deixo ser levada para a cadeia.
Todos na sala permaneceram temerosos e silenciosos.
- Obrigada. – e continuou – Eu apenas cansei de ouvir sempre as mesmas desculpas. Eu cansei de me iludir com falsas promessas.
Z se controlava para não interrompê-la.
- Pra que ele dizia que era especial? Era a mim ou a si próprio que queria enganar? Eu juro diante deste tribunal que não vejo o que poderia tê-lo feito mentir para mim. Por que em um dia ele está todo carinhoso comigo e no outro se mostra totalmente blasé? Por mais que eu tenha tentado intensivamente nesses poucos anos da minha vida, nunca consegui entender o que os homens queriam. Talvez os exemplares masculinos do nosso júri possam me explicar. – nenhum jurado ousava abrir a boca – Não se preocupem, eu não vou matá-los, ninguém aqui me iludiu.
A juíza falou em um tom meio maternal:
- Senhora X, nós seres humanos somos volúveis. Um dia acordamos e vemos que o eu achávamos que queríamos ontem não é o que queremos hoje. Todos temos os nossos problemas, mas isso não é motivo para sairmos matando uns aos outros.
- Não... às vezes eu acho que eles fazem de propósito.
- Eles?
- Os homens.
- Ora essa, tenho certeza de que há muito homens sensíveis e muitas mulheres insensíveis por aí.
- Mas são justamente esses os piores! Eles te dizem o quanto gostam de crianças, o quanto os seus olhos são bonitos e um dia simplesmente descobrem que procuram algo mais especial. E você, que acreditava ter encontrado o cara com quem seria guardada junto em um vaso de porcelana, de repente perde as asas e cai. Aquelas palavras antes tão doces e melodiosas agora só servem para arranhar o seu coração.
X pára de falar e pode-se ouvir o choro de uma mulher no fundo da sala. A juíza pede a um guarda que a leve para fora, mas ela recusa o auxílio do segurança e se retira sozinha.
- Isso é tudo que eu tenho a dizer em meu favor.
- Mas e quanto à cena do crime
- Z, vamos fazer um recesso de dez minutos e depois você pergunta isso, ta? – a juíza engole toda a água que estava em sua boca e em seu copo e se retira do recinto.
A promotora fita a ré e esta fita suas mãos. A primeira sumiu, mas o julgamento foi retomado e a segunda se limitou a confirmar ou negar os fatos. Obviamente, foi condenada e passou longos vinte e cinco anos sem ouvir as mentiras ou as verdades ditas pelos homens. Saiu da cadeia envelhecida e amargurada, passando o resto a vida a cuidar de um furão que ganhou assim que teve a liberdade, o último homem da sua vida. Suicidou-se quando este morreu.



Thaïs Gualberto

quinta-feira, 3 de março de 2005

Não dou mais tiros no escuro, só no claro. Agora só falta lembrar de fazer a mira.



Essa noite eu sonhei que era presa. Presa a algo eu com certeza estou. Meus paradigmas nunca me abandonam. Malditos.

quarta-feira, 2 de março de 2005

O rei e a rainha

- Um, dois, três...
- Ô meu rei, você tá bem?
- Tô sim, pode dormir.
- Tu sabe que eu só durmo quando tu se deita.
- Uma mania muito feia, por sinal. Dorme que jajá eu vou pra cama.
- Eita home teimoso. Tá bom, vou tentar. Boa noite.
- Boa noite, minha abelha rainha.
- Eita home romântico...
- Doze, treze, catorze, tá quase lá... dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte.
Ele fecha a torneira e coloca a pasta na escova de dentes. Escova-os minuciosamente para não correr o risco de se esquecer de um dente sequer. Enxágua a boca e bochecha a água diversas vezes até certificar-se de que não há mais resquícios de pasta em sua boca. Guarda a escova de dentes com carinho e com cuidado e finalmente vai se deitar.
- O que é que você contava tanto lá, home?
- Tenho que tomar cuidado para não "ingerir coliformes fecais" por causa da escova de dentes. Você tem tampado a privada para dar a descarga?
- Boa noite, rei.
- Boa noite uma pinóia, me responda.


Thaïs Gualberto