quinta-feira, 28 de julho de 2005

Caçando calangos: primeiro capítulo II

Eu precisava saber mais antes de me meter em um avião para o Rio de Janeiro. Pelo menos eu esperava que fosse um avião. Só faltava ele querer me mandar em um pau-de-arara.
Esperei que fosse tudo um mal-entendido. Esperei que o subalterno dele fosse mais idiota que eu e tivesse abordado a garota errada, mas eu sabia que isso era muito improvável. Alguém que soubesse tanto da minha vida não cometeria um erro tão banal. A única coisa inaceitável era abaixar a cabeça para tudo e seguir copiosamente o plano desse tal C.
Escrevi novamente para o e-mail dele, mas a única resposta de recebi foi uma “mail delivery failed”. E agora? Seria eu obrigada mesmo a largar tudo e ir pro Rio de Janeiro como queria o maldito?

No dia seguinte acordei com dois homens batendo na minha porta. Às cinco da manhã, acordei com o barulho da campainha. Campainha maldita, olha a hora que voltou a funcionar. Devia ter continuado quebrada. Enrolei-me no roupão e meti a cara na janela, louca para xingar um. Ainda com a vista meio embaçada, vi do outro lado do muro dois homens de estatura média, com uma pele morena desbotada e um cabelo castanho cortado de qualquer jeito que não chame a atenção. Vestidos de marrom da cabeça aos pés, gritaram ao me ver na janela:

- Arrume-se, viemos te buscar!

Entrei em pânico. Abaixei-me bruscamente e fiz o maior esforço para pensar em algo a uma hora daquelas. Mas eu não era uma pessoa produtiva pela manhã...

quinta-feira, 21 de julho de 2005

Para Quaintance,

o leitor crítico sabe que o seu atual repertório de informações é confiável porque é submetido a constantes avaliações. Ele também sabe o valor relativo de cada elemento da sua hierarquia de valores. Ele está consciente dos conceitos que são estrelas e constelações a guiar sua vida, dos conceitos que são satélites dependentes, dos conceitos que são apenas meteoros de breve intensidade.


Para Quaintance, o leitor crítico é um computador.



* SILVA, Ezequiel Theodoro da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas; SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1998 (Coleção Leituras no Brasil).

terça-feira, 19 de julho de 2005

sexta-feira, 1 de julho de 2005

QUAL TEU STYLO?

stylo?

ESTILO

sim, eu entendi que você quis dizer estilo
mas eu não sigo um estilo

ENTÃO QUAL TEU PADRÃO?

eu não sigo um estilo, nem um padrão, nem uma regra
eu sou o que tiver vontade de ser na hora

BLZ

Caçando calangos: primeiro capítulo I

Pai, me ensina a ser palhaço?


O sertanejo tinha esquecido de me dizer para qual e-mail mandaria as informações. Imaginei que fosse o e-mail do meu MSN, já que ele estava disponível no meu fotolog e orkut. Não era. Comecei a pensar que ele estivesse blefando. Onde ele encontraria os endereços dos meus outros e-mails? Vasculhei o meu gmail, mas fui encontrar o e-mail do calango chefe no endereço que eu só divulgava aos meus amigos. O homem tinha mesmo pesquisado sobre minha vida.

Boa noite.

Sei que você deve estar confusa a essa altura, mas espero que entenda melhor o meu propósito depois de ler esta mensagem.
Meu subalterno deve ter lhe informado do supérfluo, e para isto estou escrevendo-lhe este e-mail. Infelizmente não posso encontrá-la pessoalmente, estou atualmente morando em São Paulo. Aliás, foi aqui que conheci o autor do cordel que pedi para que te entregassem. Só depois que passei a trabalhar com construção civil pude perceber como os nordestinos que fugiram da seca vêm sofrendo física e psicologicamente. Sei que você é uma garota inteligente e vai me ajudar a combater esse problema.
Por enquanto, envio-te apenas essa MP3 anexa. A música é de um grupo chamado Cordel do Fogo Encantado e tem muito a ver com o tema que estamos discutindo.
Amanhã enviarei outra mensagem dizendo tudo que quero que você faça. Sei que depois de ouvir essa música não terá mais dúvidas quanto à sua missão.

Até a próxima,
C.


O e-mail não serviu para tirar minhas dúvidas. Aliás, só me deixou mais irritada. Eu conhecia o grupo que ele mencionou, o nome da música que ele mandou anexa era Morte e vida Stanley. Fiz o download e comecei a escutá-la enquanto pensava na merda na qual tinham me jogado. Resolvi responder o e-mail do calango chefe:

Obrigada pela música, é mesmo muito boa. No mais, não tenho o que agradecer. Eu gostaria que você parasse de brincar com a minha vida e dissesse de uma vez o que está tramando.
É engraçado você dizer que eu sou uma garota inteligente, porque o seu “subalterno” discorda piamente da sua opinião.

Atenciosamente,
Garota Calango


E esperei ansiosamente pela resposta no dia seguinte. Aliás, esse maldito mobilizou o resto da minha vida. Não me interessava por qualquer coisa na internet que não fossem meus e-mails. Não tinha mais vontade de ver meu namorado e minha cadela estava carente. O calango já estava roubando três dias da minha vida, eu tinha que dar um basta nessa situação.
Exatamente ao meio dia a resposta chegou.

Minha querida,

Não se preocupe com o que diz o meu subalterno, ele é um idiota.


Agora eu já sabia porque o homem calango tinha tanto gosto em me chamar assim.

Voltando ao que nos interessa, não imaginei que a minha intromissão fosse deixá-la possessa. Peço desculpas quanto a isso. Espero que entenda o quanto é necessária para mim. É óbvio que não a escolhi aleatoriamente. Peço desculpas novamente, por ter me intrometido tão profundamente na sua vida, imagino o desconforto que isso deve estar lhe causando.
Como prometido, irei dizer-lhe agora o que quero que faça por mim. Infelizmente, preciso dizer que isso não é um pedido. Você não está em condições de se recusar a fazer o que eu quero. Só espero que reaja melhor que o meu subalterno que conheceu. Ele foi muitíssimo mal-educado.
Em primeiro lugar, espero que tenha entendido que apenas usei o calango como metáfora. Da mesma maneira poderia ter escolhido o peba ou o urubu, mas tenho certeza de que sabe tão bem quanto eu o quanto os nascidos na parte sul do país gostam de associar a nossa imagem á de caçadores de calango vestidos de cangaceiros.
Eu preciso que você se torne uma estrela nacional. Se possível internacional. Sei o quanto adora cantar e escrever, e preciso de uma jovem paraibana para mostrar ao país e talvez até ao mundo que precisam abrir a cabeça e os olhos. Não se preocupe com a mídia, eu cuido dela. Quero apenas que vá para o Rio de Janeiro e lá receberá o resto das instruções. Creio que essa será a última vez que nos falaremos, então gostaria de agradecer de antemão o favor que fará a todos os seus conterrâneos.
E não se preocupe com meus outros subalternos, serão todos mais simpáticos que o primeiro.

Um abraço sincero do seu amigo,
C.

PS.: Adorei o codinome que adotou.


No final das contas, o e-mail dele não esclareceu muita coisa. Pareceu-me um riquinho querendo entrar na indústria da música. Mas se fosse só isso não faria sentido ter escolhido a mim. Com certeza existiriam milhares de garotas pelo mundo que cantariam melhor que eu e seriam mais bonitas também. Não que eu seja feia...