domingo, 28 de agosto de 2005

Panqueca americana

- Vá pra merda.
- O correto seria "vá à merda".
- Foda-se. Tome no cu. Quebre a perna, perca a mão, fique cego, tenha um câncer e uma infecção generalizada. Mor-ra.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

O Novo Testamento segundo Thaïs

Para grande surpresa de seu marido, a Virgem Julia estava grávida. Felizmente, um anjo explicou para Virgem Julia que seu filho era Juvêncio Cristo, Senhor do mundo, o glorioso irmão de Deus (e estudante nas horas vagas). No dia de seu nascimento, os anjos ordenaram que os pastores seguissem o brilho da buceta para encontrá-lo. Além disso, três doentes macacos vieram trazendo valiosos presentes: camas e chuveiros. Passado algum tempo, sucedeu que Juvêncio Cristo foi batizado, sendo submergido em sakê. Então proferiu o sermão da ilha. No sermão da ilha, Juvêncio Cristo ensinou: Bem-aventurados os homofóbicos, pois eles serão os claustrofóbicos; Bem-aventurados são os hipocondríacos, pois deles será o Reino dos Céus. Juvêncio Cristo também fez muitos milagres, como quando transformou demente em ninfomaníaca durante o casamento de um amigo; também fez um incoerente recuperar-se com uma simples palavra. Infelizmente, os governantes ficaram muito bravos com a influência de Juvêncio Cristo, e então voaram e bateram e correram Juvêncio Cristo, que apenas disse: perdoai-os, eles não sabem o que fazem. Mas algum dia ele retornará em glória e magnificência para o julgamento final, então prepare-se! Juvêncio Cristo retornará. O fim está próximo.

Ateus.net

terça-feira, 23 de agosto de 2005

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Em Brasília...

- O senhor está dizendo que no meu lugar assumiria a culpa? Não que eu tenha o que assumir, mas eu não vi o senhor assumindo qualquer coisa até o momento em que foi descoberto. Mas se eu estivesse envolvido em qualquer maracutaia, eu agiria como um homem e assumiria a culpa agora na frente de vocês.
Nesse momento um grito ecoa do fim da sala:
- Bicha!

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Pé, mão, e cabeça na estrada

Eu tinha acabado de ler "On the road - Pé na estrada" e senti - como a maioria das pessoas deve ter sentido - aquela necessidade urgente de cair na estrada.
Juntei a grana que tinha ganhado da minha vó no natal e peguei um ônibus até a BR para Recife. Lá comecei a pedir caronas. Imaginei que seria mais fácil para mim, pelo fato de eu ser mulher. Não cheguei a pegar chuva nem nada. Consegui uma carona até Goiana e lá passei a noite para descansar um pouco. Eu estava meio preguiçosa, provavelmente não tinha pego ainda o espírito da estrada.
No dia seguinte voltei para a beira do asfalto e comecei a balançar minha mão. Eu estava com menos sorte nesse segundo dia e tive a brilhante idéia de pôr uma saia pra chamar mais atenção. Foi pei, buf. Em quinze minutos eu estava dentro de um carro com mais dois homens a caminho de Maceió. Boa carona, pensei eu.
Passamos de Recife e já perto da fronteira com Alagoas o rapaz que estava dirigindo entrou em uma estrada de terra. Era óbvio que aquele não era o caminho para Maceió. Mas já era cerca de cinco horas da tarde, achei que eles pudessem estar procurando um restaurante para jantar.
Cada vez ficávamos mais longe da civilização e passei a ficar mais aflita. Perguntei ao colega dele por que estávamos indo naquela direção e o outro freou o carro bruscamente. Parecia que eles estavam só esperando essa pergunta minha. Malditos carros de duas portas. Cada um trancou a sua respectiva e passou para o banco de trás, ficando cada um de um lado meu. Suei frio, senti uma dor de barriga estranha, uma vontade de vomitar, fiquei desesperada. Me agarrei à minha mochila e eles me agarraram. Gritei e o motorista me mandou calar a boca. Esperneei e ele mirou o cano de uma arma na minha testa. Falou que se eu resistisse morria ali, on the road. Esbravejei que preferia morrer a me deixar se estuprada e ainda cuspi no olho dele. Haha. Que satisfação. Pei, no meio da testa e buf no banco do carro.
Eu estava com menos sorte no segundo dia.

sábado, 6 de agosto de 2005

Dez é um real

- Dez é um real, tem de doce-de-leite e chocolate.
Vi aquele homem entrando no ônibus com um macacão azul e uma fala mecânica. Demorei para entender o que ele dizia.
- Dez para sair, obrigado e boa viagem.
Mas quando ele se aproximou vi que carregava algum doce na mão.
- Dez é um real e dá direito a um chocolate.
A mulher sentada mais próxima de mim perguntou se ele vendia pastilha e o homem dos caramelos respondeu:
- Dez é um real, tem de doce-de-leite e chocolate.
Só então entendi o que diabos o homem do macacão azul repetia como um robô.

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Caçando calangos: primeiro capítulo III

Quando saí de casa, minha cadela estava fuçando as pedras do quintal atrás de lagartixas. Ela foi contaminada pelos homens calangos, pensei. Eu estava ficando paranóica. Pelo menos foi o que concluí naquela hora. Ela nem me deu atenção enquanto eu era ‘escoltada’ pelos calanguinhos. Não pude me despedir dela nem da minha família, fui informada pelos homens que eu não poderia informar a minha missão a pessoa alguma, e por isso me obrigaram a deixar o celular desligado em casa. Eu só poderia me comunicar por e-mails devidamente autorizados. Eu estava em cativeiro. Eu estava sendo mantida em cativeiro por um calango.
Malditos sulistas e malditos nordestinos. Eu estava cagando e andando pra toda essa história de levar o calango pro sul. Eu queria ficar junto da minha família, do meu namorado, da minha cadela, queria continuar o meu curso (que agora eu provavelmente seria muitíssimo prejudicada sendo reprovada por faltas), queria arranjar um trabalho pra comprar aquele depilador eletrônico, queria comprar uma roupinha pra minha cadela não passar frio e queria continuar minha coleção de mangá.
Mas não, vá ajudar os fracos e oprimidos nordestinos que estão sendo tão injustiçados. E não sou eu uma fraca e oprimida nordestina? Quer injustiça maior que obrigar uma jovem de dezenove anos a obedecer um maníaco que acredita ter o plano perfeito para acabar com os preconceitos contra os paraíbas?


No Rio de Janeiro fui hospedada em um quarto com apenas uma cama de solteiro (o maldito nem pra me arranjar uma cama de casal), um computador ligado à internet e um guarda-roupa. Como não tive tempo nem de pegar um livro antes de sair de casa, só me restou o computador para entretenimento. Depois de colocar minhas roupas todas no guarda-roupa, liguei o computador e tive mais notícias do calango chefe.

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Era uma vez

Era uma vez duas irmãs: Anike e Anego. Era ou eram? Uma vez?
Eram duas vezes duas irmãs. Eram sim, porque mais tarde cada uma debandou para seu lado na vida.

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Haikai

Spik(sic)tupinik
(Glauco Mattoso)


Rebel without a cause, vômito do mito
da nova nova nova nova geração,
cuspo no prato e janto junto com palmito
o baioque (o forrock, o rockixe), o rockão.
Receito a seita de quem samba e roquenrola:
Babo, Bob, pop, pipoca, cornflake;
take a cocktail de coco com cocacola,
de whisky e estricnina make a milkshake.
Tem híbridos morfemas a língua que falo,
meio nega-bacana, chiquita-maluca;
no rolo embananado me embolo, me embalo,
soluço - hic - e desligo - clic - a cuca.

Sou luxo, chulo e chic, caçula e cacique.
I am a tupinik, eu falo em tupinik.



bunda no trono
assim que amanhece
dor de barriga

Thaïs Gualberto