sábado, 26 de novembro de 2005

Polishop

- Mamãe?
- Sim, querida?
- Eu já sei o que vou querer no dia das crianças.
- Ahn, é mesmo? Que bom... E... O que você vai querer, meu anjo?
- Eu quero um Invisible Bra.
- Um sutiã? Mas pra quê?
- E você ainda pergunta?
- Mas meu amor, seus peitos ainda nem cresceram!
- Ai mãe, o que são detalhes?
- Esqueça, Maria Luiza, eu não vou te dar esse sutiã.
- Tá bom! Então eu vou querer uma Flat Hose.

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Eu gostaria de lhes apresentar a minha melhor amiga

1999

- Se você torcer pro vasco eu te arranjo uma foto dos Hanson pelados - disse um garoto que morava no prédio da minha amiga.
- Combinado! - eu falei empolgada.
- Ela já torce pro Vasco - interrompeu a minha melhor amiga.

sábado, 19 de novembro de 2005

Golfinhos

- Está assistindo O Guia do Mochileiro das Galáxias?
- Sim.
- E aí, tá gostando?
- Mais ou menos.
- Por quê?
- Os golfinhos cantam...

sábado, 12 de novembro de 2005

A pata da caverna

Eu estava sentada na mesa da cantina quando percebi a inquietação de um cara da mesma mesa. Cheguei perto dele e perguntei qual era o problema e ele me falou que era seu irmão. Provavelmente guardava seus anseios há muito tempo, pois nem chegou a hesitar em me falar todos os seus problemas em relação ao irmão dele.
Aí começou uma loucura sem fim. O cara não podia ir atrás do irmão e implorou que eu fosse no lugar dele. O que eu podia dizer? Ele estava desesperado. Achei que estivesse louco também, mas aí ele me levou até um lugar do colégio que tinha um buraco no chão que dava pra uma espécie de caverna subterrânea. Eu me senti o próprio Harry Potter. Mas ele pelo menos tinha poderes mágicos e uma amiga CDF. O cara nem pra me acompanhar, disse que eu tinha que fazer tudo sozinha. A única coisa que eu sabia do irmão da criatura era o nome dele. Ia sair pela caverna subterrânea da escola (que loucura, eu ainda não consigo acreditar no que digo!) perguntando o nome de tudo que encontrasse por lá. O que respondesse devia ser o irmão do carinha.
A primeira coisa que encontrei foi logo um velho. Eu estava com uma sacolinha cheia de comprimidos que não sabia ao certo pra que serviam, mas serviriam para o irmão do carinha e quando perguntei ao velho se ele podia me ajudar, me disse que já tinha feito muito por mim. Todos daquela escola eram loucos, ou então eu estava numa pegadinha.
O velho me disse que tinha feito a Julia Roberts pra mim. Eu fiquei olhando pra ele. Nem parecia ser um louco. Mas só podia. Como assim pra mim? Eu não era lésbica e tampouco fã da Julia Roberts. A existência ou não dela não fazia a menor diferença para mim. Eu nem morria de amores pelos filmes que ela tinha feito. Além dela, ele também me disse que tinha feito mais dois homens que eu não conhecia. Um se não me engano era um cientista que tinha criado uma espécie de carro aquático para o exército, ou qualquer coisa do tipo. O outro também era um cientista. Os dois homens criados para mim nasceram pelo menos uns quarenta anos antes de mim. Aquele velho só podia ser maluco. Segui em frente atrás do irmão perdido.
Fui informada de que o irmão do carinha, o Daniel tinha uns probleminhas. Mas acho que quem tinha problemas mesmo era o carinha e não existia Daniel nenhum. Quer nome mais óbvio? É tipo quando um cara vem perguntar o seu nome e você não quer responder e diz “Camila”. É universal. Mas mesmo assim, fui atrás do Daniel. Mesmo me sentindo uma pata. Eu sempre fui uma pata. E de qualquer forma, aquela caverna subterrânea era mesmo muito esquisita.

TBC(?)

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

(In)correspondência

Cara correspondente,
Escrevo-lhe esta carta com o intuito de confessar o meu amor por você. Passo os dias observando as suas janelas e vendo o movimento das suas portas. Meu coração enche-se de felicidade quando tenho a sorte de vê-la saindo de casa ou chegando na mesma.
Meus únicos momentos de desilusão são quando vejo que és visitada por diversos homens. Se me deres a oportunidade, lutarei contra todos que se opuserem à sua pureza.
Atenciosamente,
Seu Admirador.

Caro admirador,
Fiquei surpresa e muitíssimo lisonjeada ao receber a sua carta.
Desde o final do meu último namoro eu vinha me sentindo muito só, e meus amigos foram os que me ajudaram a sair da fossa. Você mesmo, provavelmente não teria me olhado no estado deplorável no qual eu me encontrava antes de receber a força deles.
Então você se pergunta por que eu não pedi ajuda às minhas amigas. Simples: todas elas se encontram comprometidas, e acabamos nos afastando sem percebermos. Portanto, peço-lhe que não veja minhas amizades com eles com maus olhos, pois tratam-se todos de amigos do peito.


Querida Admirada,
É o fato de serem seus amigos do peito que me preocupa. Amigos do peito e de outras partes também.
Se me desses a honra de namorar-te, não precisarias da visitação de outros homens.
Sempre seu.

Sinto decepcioná-lo, mas eu jamais abriria mão das minhas amizades por causa de um namorado. Tenho os meus motivos para não acreditar na eternidade dos relacionamentos e mais ainda para acreditar na eteriedade dos namoros.

Percebo agora o quanto os homens devem tê-la machucado mas peço-lhe que confie em mim, e a farei feliz por toda a eternidade.

Por favor não me escreva mais. A última coisa que preciso é de um psicólogo amador. Espero que não responda essa carta nem escreva outras. Isso é um adeus.

Como posso deixá-la em paz se estou completamente apaixonado?

Simples. Não olhe mais as minhas janelas e esqueça as minhas portas. Não me escreva mais. Esta é a minha última carta endereçada a você.

Suplico-lhe que não me odeie! Eu só quero fazê-la feliz. Por favor me responda. Um beijo.

O que eu fiz para irritá-la? Fui eu descortez e indelicado em algum momento? E quem é aquele homem que tem ido à sua casa todos os dias?

Por que ele só sai da sua casa de madrugada? É mais um dos seus amigos? Sua puta! Eu vou me vingar.

Eu sei que já se passaram muitos anos e que você se mudou dessa casa logo depois que casou. Eu só queria dizer que ainda te amo.

sábado, 5 de novembro de 2005

Fique tício: bebe negão

- É assim que as coisas funcionam. No mundo, ou você rejeita ou é rejeitado.
- Ora, as coisas não são tão simples assim.
- Simples?
- É. Se for apenas esse o problema você só precisa rejeitar quando estiver pressentindo que vai ser rejeitada.
- Não adianta. Você pode até dizer que acabou, mas a rejeitada vai continuar sendo você.
- Eu acho é que você está sendo muito pessimista.
- De jeito nenhum. Estou sendo o mais otimista que posso. Ou pelo menos realista. Eu sei que sou eu a rejeitada dessa vez. Mas estou conformada com isso. Não foi a primeira vez e definitivamente não será a última. Mas por mais que os relacionamentos nos quais eu rejeitei tenham sido mais superficiais, acho que prefiro ser a “rejeitante”.
- Claro, você não é o peso.
- Exato, eu seria quem perderia o peso.
- Por falar em perder peso, estou precisando me exercitar.
- Vá pra academia. Fazer só sexo não adianta. Principalmente se você não faz mais, hehehe.
- Como você sabe?
- Eu estava brincando... Isso significa que você também é a rejeitada?
- Acho que quanto mais velhas ficamos maiores são as chances de sermos as rejeitadas, não é mesmo? Isso não acontecia quando éramos mais novas. Éramos nós que ficávamos fartas dos nossos namorados e acabávamos o namoro. Por que será isso?
- Não sei. Só sei que é um saco.
- Talvez homens gostem mesmo de ninfetas inexperientes.
- E você tinha alguma dúvida quanto a isso?
- Só você pra me fazer rir da minha própria desgraça desse jeito, hehehe.
- Ora, amiga é pra essas coisas. E de qualquer forma, ainda tem muito homem no mundo.
- Heterossexual?
- Bom...
- Eu já te falei do Rodolfo?
- Quem?
- Um rapaz dois anos mais novo por quem eu me interessei há uns três anos.
- Claro que eu não lembro.
- Bom, de qualquer forma, descobri essa semana que ele é gay.
- E daí?
- E daí? Daí que mesmo quando eu não sei que eles são, acabo me interessando por gays!
- É um karma.
- Karma o caralho. Aposto que é macumba.
- Ah, essa aposta é minha! Já marquei até hora em mãe-de-santo.
- Mãe-de-santo? Isso existe?
- Espero que exista. Com o preço que ela cobra dava pra comprar uma grade de cerveja.
- Aposto que o efeito seria o mesmo.
- Cerveja para curar mal-olhado?
- Vodca para trazer de volta a pessoa amada!
- Cachaça para tirar maldição!
- Vamos beber.
- “Eu vou beber pra esquecer meus pobremaaaaaaa!”
- Te amo.
- Também te amo, querida.
- Pena que você não tem um pinto.

terça-feira, 1 de novembro de 2005

Triângulo

Eu estava em casa, fazendo a minha sobrancelha, quando a campainha tocou. Deixei a pinça de lado e três mulheres com cara de mafiosas estavam na porta. Sem dizer uma palavra sequer, fiquei pensando que elas pareciam saídas de um filme sobre a máfia feminina. Nem sei se isso existe, mas era isso que elas pareciam. A mafiosa do meio se movimentou até o meu sofá e se sentou com a maior naturalidade do mundo. Olhei novamente para as outras duas, mas elas permaneciam paradas na porta. Menos mal, pensei. Duas bundas sujas a menos no meu sofá de veludo azul. Tentando se fazer ainda mais folgada, a mafiosa chefe ligou o meu aparelho de som e Bobby Vinton começou a cantar Blue Velvet.
A mafiosa-chefe era dessas mulheres que querem ao mesmo tempo serem fortes e femininas. Ela tinha uma pele morena reforçada por um bronzeamento natural intensivo e um cabelo duro estirado e pintado de loiro. Vestia uma calça jean com lycra, cintura baixa e um salto alto grosso, daqueles que sua vó usaria no seu casamento. Pra completar o quadro, vestia uma daquelas blusas assimétricas, deixando o braço direito descoberto. As companheiras dela eram assumidamente masculinas e usavam ambas os cabelos presos, calças jeans sem lycra e camisetas de algodão de um número menor que os delas.
Confortável com a bunda no meu sofá, a mafiosa-chefe começou a falar:
- Então, Thaïs, surpresa em me ver?
- Quem é você? - perguntei com a maior naturalidade do mundo. Pude ver a surpresa dela. Minha resposta tinha sido inesperada. Hohoho, otária. Ciente do seu deslize ela tentou recuperar seu ar de superioridade.
- Não precisa se fazer de desentendida, mona.
Mona?
- Eu sei que você se lembra de mim. Jamais esqueceria aquela que te ameaçou de morte.
- Morte? Você não está me confundindo com outra pessoa?
- Não se faça de idiota, eu não tenho tempo para as suas gracinhas. - ela me alertou já irritada.
- O que você veio fazer aqui? Me matar?
- Ainda não. Eu vim só te dar um aviso. Se afaste do meu homem, ou da próxima vez eu não serei tão educada.
- Educada? - seus olhos se encheram de fúria e emendei amedrontada - E será que você poderia me dizer ao menos quem é o seu homem?
- Você me irrita, garota!
- Me diga só o nome dele.
- Será que você é tão puta que nem sabe os nomes dos homens com quem dorme?
- Eu sei os nomes de todos, só não faço idéia qual deles seria o "seu". Até onde eu sei, nunca dormi com um homem que estivesse comprometido com outra.
A mafiosa se calou. Olhei para a porta e as duas outras se entreolharam. Por um momento eu pensei que fosse morrer.
- Nós ainda não estávamos comprometidos. Mas ia rolar. Teria rolado se você não tivesse aparecido.
- Olha, eu nem sei de quem você está falando ainda, mas foi uma casualidade. Não era pra ter acontecido entre vocês, é só você partir para outra.
- Ele não partiu para outra! Você partiu o coração dele e eu tentei consolá-lo inúmeras vezes, mas ele não queria saber de mim.
- Olha, eu sinto muito...
- É claro que sente! Todos sentem! Sentem tanto quanto eu!
Ela estava descontrolada.
- Bom, de qualquer forma, pelo que você está dizendo nós nem estamos mais juntos, então o que veio fazer aqui?
- Eu vim te avisar para ficar longe dele. Finalmente estou conseguindo me reaproximar dele e não quero que você estrague tudo novamente, "capitchi"?
- Sim, capisco.
- Você já sabe de quem eu estou falando?
- Acho que sei...
- Ótimo. Então espero que esse seja o nosso adeus.
A mafiosa se levantou do meu sofá e desligou o som, interrompendo Billie Holiday no meio de The man I love, e se juntou novamente às suas guarda-costas na porta. Virou-se mais uma vez para mim e apontou em minha direção, fazendo o sinal de uma arma. Fingiu atirar e piscou o olho. Depois deu-me as costas e foi embora, seguida pelas guarda-costas brutamontes.
Após a saída dela fui até a porta e a tranquei o máximo possível. Fui despindo as minhas roupas até chegar no meu quarto e ser puxada para a cama.
- Ela já foi?
- Já. E me ameaçou de novo.
- Me desculpa. Eu só era simpático com ela porque tinha medo das duas brutamontes. Afinal, eu não bato em mulher.
- Sim, claro.
- Escuta, você quer casar comigo?
- Não.
- Por que não? Não precisa ter medo dela, ela só faz falar, não é do tipo que se arrisca a ter a ficha suja.
- Não é isso.
- Então o que é?
- É que... - hesitei.
- Pode falar, não precisa ter medo.
- Eu não te amo.