sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Brios

Estou aqui para um desabafo. Sei que a minha proposta não é fazer daqui um diário, mas às vezes a pessoa precisa falar. E no fim das contas, essa merda é minha, lê quem quer!
Então... Cá estava eu saindo de casa para trabalhar e resolvo passar no posto para comprar uns docinhos (adoro comer docinhos depois do almoço... as pessoas costumam chamar isso de sobremesa... mas continuando!) As coisas já começaram mal lá mesmo. Hormônios flutuando ao meu redor, peguei um pacote de jujubas e quando fui ao balcão para pegar uma trufa de coco a fêmea tenta atingir o macho que se esquiva e tropeça em mim. Não me recordo de ter escutando um pedido de desculpas de nenhuma das partes. Então peguei a trufa e coloquei em cima do balcão, tirei o meu dinheiro e tentei perguntar para alguma das duas atendentes presentes quanto ficava o meu pedido. Mesmo depois da saída do macho nenhuma das duas tinha a intenção de prestar atenção em mim. Eu já devia ter mandado todo mundo tomar no cu dali mesmo, mas sou muito idiota e fiquei tentando chamar a atenção delas educadamente. Minha vingança se limitou a não dizer obrigada...
Mas isso foi o de menos. Saindo da loja de conveniências com minha trufa na mão começo a escutar "ei! ei! ei!" me seguindo insistentemente. Conhecendo as brincadeiras sem graça dessa juventude transviada prefiro fingir que não é comigo, acreditando inocentemente que o "chamador" desistiria. Mas ele não só desiste como acrescenta "ei, me dá um pedaço!". O que leva uma pessoa desconhecida a crer que eu daria um pedaço da minha trufa a ela? Enfim, eu tento ignorá-lo, mas é impossível. Eu digo que não dou, mas ele diz "só um pedaço, vai negar?" Eu digo que vou, mas tenho o costume irritante de ser delicada com pessoas que eu não conheço. Aí ele se enfeza: "num vai me dar um pedaço não, é? rapariga!" Rapariga? Rapariga? O que esses bostinhas pensam que os faz ter direito de me chamar de rapariga? Aí eu, sentindo-me muito corajosa, digo "é tua mãe." Ele me xinga mais uma vez e depois repito a mesma coisa. Pela primeira vez consigo ter um ato de tamanha bravura. Tá certo que ele devia bater no meu ombro, mas poderia ter jogado café morno em mim!
Atravesso a rua para que não haja nenhuma reação tardia contra a minha pessoa, e como de costume, começo a imaginar como eu deveria ter agido. Deveria ter sido mais enfática. Deveria ter dado umas boas bolachas naquele aprendiz de marginal. Quem ele pensa que é pra me chamar de rapariga? Rapariga é a senhora que o colocou no mundo e o deixa por aí pedindo um pedaço da trufa de gente que ele nem conhece. Por que eu daria um pedaço a aquele bostinha? Pra pegar herpes, sapinho, boqueira, cárie, afta, cabelo na língua? Tá, você deve estar pensando "nossa, como ela é preconceituosa, não é só porque ele é um aprendiz de marginal que tem algum problema bucal. de repente ele até tem todos os dentes!" Mas depois de passar 3 anos em Bodocongó, sendo xingada de mizera, rapariga, vendo meu marido apanhar com minha filha de 1 mês no colo, eu sinceramente não me martirizo mais nem um pouco pelo meu preconceito. Só pela minha falta de coragem de dizer a esses filhos da puta (porque raparigas são as mães deles, não eu!) tudo que eles mereciam ouvir.