sexta-feira, 27 de março de 2009

Autobiografia de uma desconhecida IV

4. Colônias de férias

Um capítulo à parte na minha vida são as colônias de férias. Parando agora pra pensar, vejo que já fui a muitas delas, sempre por sugestão dos meus pais, provavelmente para que pudessem curtir as férias sem a pentelha aqui para cortar o barato deles. A que mais me marcou, talvez por ter sido a única que eu frequentei por vários anos, ou talvez por ter sido a última e, consequentemente, na qual eu estava mais velha, foi a do curso de teatro para crianças do grupo de palhaços Agitada Gang. Eu sonhava em ser atriz, então esse curso caiu como uma luva para mim e para os meus pais, que não queriam uma menina desocupada comendo biscoito o dia inteiro na frente da televisão. Muito provavelmente, foi lá que eu cheguei à conclusão de que não tinha o dom para a coisa.

No primeiro ano as aulas foram no Teatro Lima Penante. Sempre fui uma menina tímida e aquela atmosfera esmagava o que restava da minha autoconfiança. Mas mesmo assim, eu adorava aquele lugar. Subir num palco, mesmo sem platéia, era de uma magia indescritível e todas as pessoas ao meu redor pareciam fascinantes. Muito mais fascinantes do que eu, diga-se de passagem. Outra lembrança vívida dos tempos do curso é a dos casarões que ficavam nos arredores do teatro, todos belos e velhos, mas um em especial sempre mexeu com a minha imaginação pueril. Ele era enorme e tinha uma vasta área verde, com árvores altas e uma casinha nos fundos, provavelmente o banheiro.

Nos anos seguintes o teatro estava em reformas e as aulas aconteceram no Departamento de Comunicação da UFPB (que por sinal também precisava ser reformado) e na Casa Rosa (não a da Argentina, a de João Pessoa). Só no último ano que voltamos ao Lima Penante. Durante todo esse tempo eu levei minhas amigas para participarem do curso comigo, fiz papel de integrante de circo, paciente do SUS, contadora de histórias, criança mimada, nada de muito destaque, para a minha frustração. Mas existem momentos que passei lá que continuam vívidos na minha mente. Foi nessa época em que eu voltei a ter os dentes incisivos superiores (passei anos da minha infância complexada sem sorrir nas fotos), que eu tive a minha primeira guerra de tortas, que eu me apresentei no Theatro Santa Roza (ou Teatro Santa Rosa), caí de costas no palco ao tentar fazer uma “estrelinha”, usei um camarim e tive uma festa de encerramento das apresentações.

Não há dúvidas que nenhuma outra colônia de férias tenha me marcado como as do curso de teatro, mas há detalhes de outras que não foram esquecidos. Uma delas, talvez a mais remota, marcou-me pelo fato de termos feito biscoitos caseiros. Lembro-me dos formatos divertidos que todos faziam, como sofás, cadeiras, etc., enquanto eu, artista frustrada, não conseguia fazer mais que bolinhas ordinárias. Outra colônia da qual eu me lembro foi em uma fazenda. Pegamos um ônibus para chegar lá e eu nem sei quanto tempo ficamos, mas me recordo bem de uma apresentação que teve da história da Dona Baratinha (que anos mais tarde viria a se tornar um dos meus alteregos).

Não sei se a minha filha vai curtir as colônias de férias como eu, mas depois de todos esses anos eu reconheço que é um ótimo lugar para se saber um pouco mais sobre si mesmo, além de, obviamente, dar uma folguinha para os pobres pais, exaustos de cuidarem de crianças pentelhas como eu fui.

quinta-feira, 26 de março de 2009

A ditadura da direita

Sandra era destra, mas gostava de escrever com a mão esquerda. Só para se mostrar reacionária diante da professora semi-ditadora que obrigava todos os alunos a escrever com a mão direita. Alegava que bons cristãos não deveriam usar a mão esquerda, caso contrário, o diabo guiaria suas palavras. A garota achava aquilo tudo uma bobagem e por mais que para ela fosse muito mais difícil, continuava fingindo sua “canhotice”.
Por causa disso, todos os dias entrava em conflito com a professora: gritos, agressões verbais, expulsões de classe e algumas vezes chegava ao cúmulo de ser suspensa. Os pais de Sandra não se conformavam com a situação e tentavam convencer a filha a escrever com a mão certa. Se ela ainda fosse canhota, pensavam eles, poderia até fazer sentido, mas a menina era destra desde o nascimento, aquilo tudo era inconcebível!
Da mesma forma que fazia com a professora, Sandra tentava convencer os pais da sua nobre causa: ela não era canhota, mas os demais alunos que eram obrigados a mudar a sua natureza? Sua mãe sempre dizia que os outros não eram filhos dela e que nem ela nem a filha tinham a obrigação de se importar com eles. Pobres garotos, respondia ela, que não tinham nem o direito de ter um porta-voz contra os desmandos insanos da professora beata.
Um dia ela resolveu radicalizar. Chamou todos para o pátio da escola, subiu em um banco e começou a discursar:
– Temos aqui em nossa instituição de ensino uma professora com mentalidade e práticas medievais!
A maioria dos alunos observava curiosa, apenas os canhotos da sua sala a aplaudiam fervorosamente.
– Esta carola, meus colegas – aponta para a professora ditadora – obriga-nos a escrever com a mão direita e estamos sujeitos a severas punições se não a obedecermos!
A esta altura a acusada olhava para os lados, desconfiada de tudo e de todos, rezando para que tudo aquilo fosse um sonho.
– Pois bem, eu estou aqui para desafiá-la. Se ela não parar com essa perseguição eu serei obrigada a cortar fora a minha mão direita!
Todos os presentes a encararam incrédulos.
– Se duvidam é só me trazerem um machado!
Aos poucos foram se afastando um por um.
– Vamos, o que estão esperando? Vão deixar que o preconceito vença a justiça?
Até que só sobrassem no pátio Sandra e a acusada.
– É, parece que só sobramos nós duas...
– Deixa logo de brincadeira, Sandra, e vai pra sala. Você hoje não sai daqui sem uma suspensão.
– Me deixa em paz, senão eu cumpro o que prometi!
– Tá certo, agora entra na sala que eu vou pensar o que faço com você.
– Você acha que eles acreditaram?
– É claro que não. Ora essa, cortar a mão. Você bem acha que eu não sei que é destra?
– Você sabe? Desde quando?
– Desde que eu vi os seus garranchos pela primeira vez. Por que você acha que eu insisti tanto para que escrevesse com a mão certa?
– Porque você é uma beata ditadora!
– Você tem muita imaginação, minha querida, deveria ser escritora.

Explosão

Fui à geladeira e servi-me um copo d’água. Poucos líquidos são tão bons quanto ela. Voltei pro computador e esperei, esperei infinitamente que algo acontecesse. Nada aconteceu. Pessoas iam e vinham, como sempre, mas eu estava ansiosa. Meus olhos tremiam e tudo que eu pensava era “será que eu estou prestes a ter um AVC”? Sempre fui muito agourenta. E melodramática. Eu passeava pelas páginas da internet à procura de algo que ocupasse a minha mente dos pensamentos inúteis, mas tudo que é inútil nos cerca como cães famintos.
Já sei, vou escrever, é sempre bom para exorcizar os fantasmas, pensei eu. Basta. Eles já fazem parte de mim e gritam frequentemente “desiste, estamos aqui para ficar”! Sempre tive medo de fantasma, melhor não mexer muito com eles. Que tal cantar? Afinal, “quem canta seus males espanta”, não é mesmo? Depende da música... Lembra daquela que dizia “meu bem, meu zen, meu mal”? Então...
Então ler! Uma leitura é sempre boa para acalmar os ânimos, esquecer do mundo exterior e lembrar-se apenas do universo que existe naquelas linhas. Mas quem consegue se concentrar com a mente cheia de fantasmas, cães, AVCs, males, bens e zens? Eu deveria mesmo é desistir e ir dormir, amanhã é um longo dia, cheio de revelações, emoções e por que não, perdições? Talvez porque as responsabilidades não me permitem. Mas que se explodam! Ou explodo eu.

Quem saiu foi tu!

Eu não estou ficando mais novo. Muitos dizem isso. Eu também não estou ficando mais nova. Pode parecer bobagem dizer isso, mas não é. Chega um momento em nossas vidas em que sentimos uma necessidade urgente de "recuperar o tempo perdido". Há quem chame isso de "crise de meia idade". Não deve ser o caso. Ainda há pouco eu vivia a "flor da idade". Tampouco deve ser depressão. Apenas a constatação do óbvio ululante. Mas ninguém tem nada a ver com isso o azar é todo meu. A-do-le-ta... Quem bebeu mor-reu, quem trepou, fo-deu! Puxa o rabo do tatu...

quarta-feira, 25 de março de 2009

Eu e meus erros

Inspirado ao som de "Lígia"

Eu nunca
soube na verdade
o que fazer
Se devia parar
Ou passar a correr
O amor
sempre foi o motor
mas agora eu não sei
se ele deve valer
todos os sacrifícios
Minha mente inquieta
Saliva dúvidas
por todos os meus poros
A saber
sou egoísta
e romântica
Mas se há uma antítese
o que devo fazer?
Esquecer e amar?
Aceitar e sofrer?

11/01/09

terça-feira, 24 de março de 2009

Música

Ela sempre me diz alguma coisa, mesmo quando não fala. Algumas me confortam, outras me desolam. Existem aquelas que me abraçam, mas às vezes o abraço é de despedida. Mas as mais impressionantes são aquelas que percebem o que acontece dentro de mim, antes de mesmo que eu o saiba; e me mostram, impiedosamente. Há também as que me mostram minhas origens, de onde vim e por que sou o que sou. E há ainda aquelas que falam “bunda, xereca, chifre”, mas essas não me dizem nada.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Blog

Gostaria de me reencontrar contigo. Lembra da época em que você ficava sabendo de tudo que acontecia na minha vida? Eu te contava os meus diálogos, tinha ideias engraçadinhas, estava sempre em busca da minha criatividade. Aí e fui sumindo, me ausentando, assumindo novas responsabilidades e de repente você estava em último lugar da minha lista de prioridades. Passei a te contar apenas frivolidades, coisas desinteressantes, usar-te para mostrar meus vídeos, porque eu sabia que você estaria sempre disponível para mim, sempre que eu precisasse de ti.
Aí a vida deu uma reviravolta. Eu me cansei de tudo e ao olhar para você, para o que você tinha se tornado eu fiquei triste. Você estava abandonado. Como tudo na minha vida, parecia que também era algo passageiro. Mas eu não quero que seja assim. Fico feliz que você esteja presente para me mostrar como eu era, como eu poderia voltar a ser, pelo menos em partes. Você sempre me incitou a estimular a minha criatividade e eu agora preciso retribuir. Vou atrás de coisas novas para que você e eu sejamos felizes novamente. Independente de quem esteja conosco. Esta é a minha declaração para ti, Kisuki.