segunda-feira, 27 de abril de 2009

Samba e amor + Samba do grande amor

Eu faço samba e amor até mais tarde.
Mentira.



Fodido
My hair is completely fodido
My shampoo will be despedido
'Cause I'm completely blowzy!

Paródia infame de Perdido.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Dizem que quem vive de passado é museu.
Ainda bem que meus pais me ensinaram a apreciar uma boa obra de arte.

Real e inusitado

Estava sentada na rede lendo Kafka à beira-mar do Murakami quando minha mãe vai até o terraço me alertar:
– Não fique aqui até tarde, porque o Miramar já não é mais o mesmo!
Respondo com uma afirmativa e continuo a ler. Pouco tempo depois a campainha toca. Quem seria tão sem noção a ponto de bater na casa dos outros a essa hora sem avisar? Fico logo apreensiva. Madona corre para latir ao muro. Avisto uma mulher baixa e magra e me aproximo.
– Cala a boca, Madona! – dirijo-me então para a mulher – Diga?
Ela começa a explicar a sua odisséia. Eu me controlo para prestar mais atenção no que ela diz do que na fedentina que exalavam as suas axilas. Disse-me que tinha acabado de sair do Juliano Moreira e estava precisando de dinheiro para completar o da medicação e para isso estava vendendo um par de sapatos de salto (ou seriam sandálias? Ou tamancos? Eram fechados na frente e abertos atrás), numa cor verde-musgo, que tinham sido doados pela igreja.
Hesitei por um instante, com medo de serem frutos de furto, mas entrei em casa e pedi à minha mãe os quatro reais que ela cobrou. Minha mãe não tinha trocado e o sapato (sandália ou tamanco) acabou ficando por cinco. A mulher me agradece imensamente e vai embora. Levo a nova aquisição para a sua dona de direito, mas não sem antes trancar-me cuidadosamente dentro de casa.
E o sapato? Foi para um brechó por cinco reais.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Empatia

Eu tenho o costume de sentir o que se passa dentro das outras pessoas. Alguns diriam que trata-se de empatia, mas creio ser algo maior, mais profundo. Isso ocorre com mais frequência quando os sentimentos envolvidos são alegria, tristeza ou frustração. Poderia a frustração ser considerada um sentimento? Ou apenas um estado de espírito? O fato é que ela me penetra. Quando estava voltando para casa hoje passei por uma garotinha que conversava com seu pai mototaxista na porta de casa. Ela estava alegre, mas quando passei por eles só escutei "tá vendo, eu disse que ia derrubar, agora nem adianta pegar que não dá mais pra comer!" Me virei e vi um pote no chão e várias rosquinhas de chocolate desperdiçadas. A menina olhava para ele com um sorriso amargo no rosto dizendo "tudo bem, não tem problema" e isso esmagou o meu coração. Ela teve que admitir a derrota. E eu lembrei de todas as frustrações parecidas com essa que tive na minha infância.
Certa vez conheci um rouxinol que havia se desviado muito do seu curso por causa de um avião que julgava ser a Ursa Maior. Seu canto, tão lindo, na minha janela me comoveu. Tive a certeza de saber o que se passava em seu coraçãozinho. Convidei-o a entrar na minha casa e conversamos por horas a fio. Éramos muito parecidos, apesar dele ser uma ave e eu um mamífero. Quando o dia se aproximou precisamos nos despedir. Eu não resisti e pedi um beijo. Vi que bico e boca podem sim se beijar. A despedida foi terna e sem promessas, mas passei, todas as noites a partir daquela, a abrir a janela na esperança de ouvi-lo cantar mais uma vez. Mas ele não voltou. Não sei se encontrou o caminho de casa ou passou a frequentar outras janelas, o fato é que, debruçada no parapeito, eu desejava profundamente que outro avião trouxesse de volta o meu rouxinol desorientado.
Talvez eu tenha me enganado quanto à menina, talvez ela realmente não ligasse para o fato das rosquinhas terem caído no chão, talvez o meu rouxinol também não estivesse tão triste quanto eu julgava, talvez a minha aparente empatia seja apenas uma projeção dos meus sentimentos nas outras pessoas; ou aves.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Mocinhos e vilões

Eu estava sentada em um banquinho ao lado de um restaurante, escrevendo na minha agenda, quando chegou perto de mim uma senhora baixinha, gordinha, de olhinhos puxados, com uma expressão de imensa tristeza. Sorri, mas ela, tremendo-se toda tirou um revólver da bolsa e apontou para mim. Eu fiquei tensa e implorei para que ela não levasse a minha bolsa, porque tinha os meus documentos, coisas que eram importantes para mim, se quisesse eu daria apenas o dinheiro. Ela olhou para mim e perguntou se a minha caneta ainda tinha tinta e eu mostrei que ainda estava na metade. A senhora pegou a caneta e seguiu em frente.
Logo em seguida um carro estaciona bem na minha frente e vários orientais saem de dentro dele. Uma família, suspeitei eu. Agarrei-me às minhas coisas e todos seguiram em direção ao restaurante. Guardei a minha agenda na bolsa e me levantei, entrei no restaurante lentamente, agarrada a ela, quando alguém me vê e grita:
– Ela ta tentando fugir sem nos dar nada!
Eu então começo a tentar me explicar e chorar feito um bebê no meio da fala.
– Não, eu já dei uma caneta para uma senhora, eu pedi para que ela não levasse a minha bolsa e ela aceitou ficar só com a caneta, não quero enrolar ninguém, é a verdade, podem perguntar a ela.
Um dos rapazes se compadece e me abraça. Eu então continuo a falar, só para ele.
– Eu sei que vocês não são más pessoas, que estão fazendo isso só por necessidade...
Eu senti carinho nos braços daquele estranho. Mas alguém o cutuca, avisando que já estavam voltando para o carro e me olha, perguntando na lata:
– E você? É vítima ou cúmplice?
Balanço a cabeça negando e o rapaz dos braços carinhosos vai embora. As pessoas no restaurante me fulminam com um olhar acusador e eu me direciono para a porta dos fundos. Quando eu estava saindo um garçom, pequeno e simpático, me aborda. Os assaltantes tinham deixado sacolas com algumas coisas e ele achando que eu os conhecia, veio me entregar. Perguntei-lhe se achava que todos estavam pensando que eu era cúmplice e ele disse que sim.
– Preciso ir para casa, não posso ficar aqui. Mas vou deixar meu telefone com você para que ninguém pense que estou foragida.
Entreguei-lhe meu número de casa e do celular e fui para a casa de um amigo.
Chegando lá vasculhei as sacolas, cheias de bugigangas aparentemente sem muita importância: carimbos, bonecos, DVDs... Peguei o DVD e coloquei no aparelho do meu amigo. Era uma série de TV. Com os assaltantes. Senti uma enxurrada cair em cima de mim. Toda a família trabalhava no mesmo seriado, que deve ter sido cancelado, deixando-os na penúria. De repente recebo uma ligação.
– Alô, é a Thaïs?
– É sim...
– Oi, é que eu tava assistindo televisão agora e saiu uma matéria falando sobre um assalto em um restaurante e você apareceu como um dos suspeitos...
– O quê? Eu? Mas eu deixei meu telefone lá, por que eles não me ligaram?
– Isso eu não sei, só to te passando o que vi na televisão.
– Obrigada por ter me informado, ta? Só quero que fique sabendo que isso é mentira, eu não tive nada a ver com esse assalto!
– Tudo bem. Boa sorte!
– Obrigada.
Desliguei o telefone, despedi-me do meu amigo e fui para a delegacia. Chegando lá na frente vi que já havia vários repórteres no local. Entrei na sala do delegado e pedi-lhe que apenas uma emissora de TV entrasse na sala para registrar o meu depoimento.
– Tudo bem. - disse-me ele - Mas você tem certeza? Seu depoimento vai ser visto por milhares de pessoas.
– Eu não tenho nada a esconder.
– Ok. Quer ligar pro seu advogado?
– Agora não. Só quero esclarecer logo esse mal-entendido.
O delegado chamou dois representantes da emissora que escolhi para entrar na sala e então comecei o meu depoimento, contando minuciosamente os fatos que eu lembrava.
– E foi isso que aconteceu. Eu só queria que eles soubessem que eu sei que eles não fizeram isso por mal, eu via que eles não estavam felizes em assaltar aquele restaurante, que foi tudo um fruto da necessidade extrema. Se eu pudesse, teria me tornado cúmplice deles, pois sei que eles não merecem ficar presos. Mas eu não posso. Não posso fazer isso com a minha vida. Tenho uma filha que depende de mim e isso não seria justo com ela. Por isso eu trouxe essa sacola que eles deixaram no local. – coloquei a sacola em cima da mesa do delegado e me virei para a câmera – Detesto ter que fazer isso, porque sei que teria gostado muito de conhecê-los em outra ocasião.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Autobiografia de uma desconhecida V

5. Pintinhos coloridos

Suponho que toda criança que viveu sua infância nos anos 90 teve pelo menos um pintinho colorido na vida. Ou talvez isso fosse só mania de paraibano insensível. Porque todos os meus amigos que contavam sobre esses pintinhos terminavam a história com o assassinato das pobres criaturinhas indefesas, e a máquina de lavar roupas era a arma número um. Eu também tive um, mas ao contrário da maioria, eu tinha muito cuidado com ele, não joguei no tanque, não atirei da varanda nem coloquei no forno.

Certo dia chega meu pai (ou terá sido minha mãe?) com dois pintinhos coloridos: um cor-de-rosa para mim e um amarelo para o meu irmão. Nomeei a criança de “Patricinha” e o do meu irmão chamava de “Joãozinho”; só não lembro se foi ele ou fui eu quem o batizou assim. O fato é que ambos cresceram saudáveis e sem grandes sequelas. Pelo menos até que meus pais resolveram cozinhar um deles. Mais cruel do que isso só quem come porquinhos-da-índia. Por mais que eu argumentasse, eles foram irredutíveis. Recusei-me a cometer tão horrendo ato de canibalismo (não que eu seja uma galinha, mas eles eram como filha e sobrinho para mim), tranquei-me no quarto e não quis comer nesse dia. Cientes do choque que haviam me causado, resolveram poupar Patricinha da insensível, cruel e desumana panela.

Mas qual não foi minha surpresa, tempos mais tarde, caída a tinta, que Patricinha estava mais para trava do que pra galinha! Meu pai então resolveu rebatizá-la e Patricinha se tornou Galalau. Galo brabo, corria atrás de todos da casa, então teve que ficar preso. Ele até que durou bastante tempo, porque nesse meio termo um mini-milharal nasceu no meu quintal. Mas os dias de Galalau estavam contados.

Surge então um novo morador na casa: Scooby-Loo, ou simplesmente Bilu. Acho que eu teria ganhado uma bolada colocando Galalau numa briga de galos, porque eita bichinho brabo danado! Arrumou briga com Bilu também, mas o mundo é dos mais fortes, e o galinho atrevido levou a pior. Um desperdício, talvez teria sido melhor se tivesse ido pra panela junto com seu irmão.