sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Safadeza oculta

Encontrei uma moeda na rua, dez centavos, mas estava tão dura que não hesitei em pegar. Se tivesse algum poço por perto jogaria pedindo que ela se multiplicasse. Ou talvez não, desde que o meu irmão morreu, quando eu tinha dez anos, que não sou muito fã de poços. Guardei no bolso, seria muito útil na hora de pagar a passagem do ônibus. Maldito preço quebrado. Queria era enfiar essa moeda no cu de algum dono de empresa de coletivos, capitalistas malditos. Mas quem sou eu pra falar de capitalistas?
Com vinte e cinco anos, já sou mãe e separada, moro na casa da minha mãe e estou no meu primeiro emprego de vergonha. E por falar em vergonha, ainda nem sei quanto vou receber, tive vergonha de perguntar. O fato é que me vejo cada vez mais perto dos trinta, idade limite, para mim, para a “auto sustentação”. Cinco anos antes disso, não avisto a independência financeira.
Não que me cobrem, ao menos não muito, mas à medida que seus pais envelhecem, começam a cansar de trabalhar, ter câncer, água na cabeça, dor nos ossos, falta de memória e você passa a se sentir um peso morto imprestável. Afinal, você tem vinte e cinco anos, ensino superior completo e uma boa educação, o que te falta?
Nunca dou esmolas. Sempre acho que vou me arrepender futuramente, quando estiverem faltando moedas para completar a passagem, a cerveja ou o chiclete pra tirar o gosto do almoço.
Mas não posso me queixar, o ano começou muito bem, esse pessimismo é apenas reflexo do pau que levei na prova do Detran por causa de um cinto de segurança e uma seta errada. A baliza e a meia embreagem foram perfeitas. Puta mundo injusto.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

em cima de mim

mas que merda
você se lambuzou
nas tramas dela
logo você
que a conhecia tão bem

o que existiu entre nós
se dissipou
quando você misturou
em todo aquele veneno
não soube separar
e ao decantar
me desencantei
cansei
quero ir embora
enquanto ainda é tempo
não quero me acabar
com água quente

quando você se deitou
quis gritar
quis sumir
descobri que não dava mais
vá em paz
e me deixe com a minha
quase sozinha

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Marcelo

um abraço
uma dança
e o corpo todo balança
treme
que aflição!
saber o que é certo
pressentir o inevitável

a música envolve
os futuros amantes
como um envelope
e sem pressa
cegos
vêem apenas
seu sangue vermelho bombear
saindo de seu coração
que grita: é agora! é agora!
e explode na boca rubra
um beijo

o primeiro beijo
na primeira dança
do novo casal.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

HEY HO, LET’S GONNA ROCK’N’ROLL

por Rodrigo Rocha

Já faz um século que’u havia prometido ao Edinho e ao Jesuíno André escrever alguma coisa pro Correio Jovem. Eles nunca nem fizeram questão de definir o tema... “Escreve qualquer coisa, Rodrigo, vamu lá!!!” liberou o Edinho, um dia desses, pelo telefone. Teve um domingo aí que o computador já tava ligado, as idéias quase todas na cabeça, aí, “Rooodrigoooo...” Era Júlio Castelliano e Paulo Bala no portão, chamando pra surfar. Fazer o quê??? Também, escrever de graça é f..., né Edinho?
Mas pintou um tema do caramba e aqui estou eu, noite de quarta-feira, o Hardcore inspirador do Minor Threat à toda no sound system e, mais uma vez, com a cabeça cheia de ideias... Ahaaa... e daqui a pouco tem aquele jogão do São Paulo na TV. Portanto, vamu nessa que a cerveja já tá gelando no congelador!!!
Nossa história de hoje começa meses atrás quando a galera, cansada de se espremer no meio dos mauricinhos ali pelos lados do Bahamas, resolveu dar umas voltas por aí. Num minuto, poucos passos percorridos, ali, logo ali, em frente ao Hotel Tambaú, na praça Santo Antônio (acho que é esse o nome), ouviu-se Jimi Hendrix! Fomos seguindo o som e demos no “Bar”. “Que loucura...” alguém falou.
Muitas cervejas depois, Hendrix foi sendo negociado pelo Deep Purple que, na sequência, foi trocado pelo Led, depois pelo Sabbath, depois Grand Funk, depois um ou outro som grunge... depois... Ha, nunca mais tomar cerveja ao som de axé music, nunca mais assistir aquelas brigas que os playboys todo final-de-semana armam... finalmente os roqueiros da cidade tinham endereço: “O Bar” do Ricardo Pordeus.
Ricardo é um roqueirão das antigas, daqueles que crescem, casam, têm filhos... aí separam e montam um negócio bem legal. Hoje todo mundo é amigo do cara, toma altas com ele... ôoops... toma não – nosso amigo não bebe! Mas o bacana mesmo daquele lugar é o som. O cara instalou um CD player (!) do qual todos nós desfrutamos. Se você curte som, sabe: a cerveja desce muito melhor sob os efeitos de uma musiquinha maneira (não que ela seja necessariamente leve, se é que você me entende...).

JUST FOR FUN
As semanas foram passando, até que alguém teve a ideia de fazer um som ao vivo. Foi aí que entrou o The Abyss, uma banda trash/hardcore que, agora, quase todos os sábados toca pra galera. Imagine a cena: Dez, dez e meia da noite, as barracas de artesanato começam a fechar, a roqueirada vai chegando e as primeiras cervas vão sendo abertas. Meia hora depois, já com todas as lojinhas fechadas, o equipamento começa a ser montado. É tudo muito rápido e simples, de uma hora pra outra estão lá Kiko, na guitarra e no vocal, Boy Volênio, na bateria, e Vladimir, no baixo e back vocals.
One, two, three, four... começa o cacete. Nas próximas horas, além das músicas da própria banda, um set alucinante: “This Love” do Pantera, “Subliminaly” do Suicidal Tendencies, “Troops of Doom” do Sepultura, “Whiplash” e “For Whom The Bell Tolls” do Metallica, quer mais? Então toma: “Black Magic” do Slayer, “Some Pain Will Last” do Kreator, “Heartbraker” do Led Zeppelin... aí vem a sessão Seattle: “Would?”, “Them Bones”, “Rain When I Die”, “Man In The Box” e “Angry Chair” do Alice in Chains, a quase “uncoverable” “Searching With My Good Eye Closed” do SoundGarden... e Hendrix, muito Hendrix!!!
Uma vez perguntei a Kiko por que eles faziam essas “maldades” com a galera e ele me respondeu: “Just For Fun, Babe...”. realmente é muito divertido e, se rola um pouco de Rock’n’Roll aí por essas suas veias congestionadas de Coca-Cola, Shopping Center, Radical Chic e todas aquelas porras que “os caras” acham que a gente curte, por favor, não perca o próximo sábado.

A VOLTA DA FEIRINHA
Mas nossa história de hoje não fica por aqui. O negócio é que Ricardo (d’O BAR) se juntou com todo mundo dali da feirinha e bolou um projeto maneiríssimo: eles estão querendo trazer de volta todo aquele agito que rolava ali na feirinha tempos atrás – se você já passou dos 20, sabe do que’u to falando. Eles já conseguiram um palco e agora pleiteiam junto à prefeitura uma melhor infraestrutura (luz, som, segurança etc) para que o projeto comece a ser tocado.
Estão previstos shows (não só de rock, porque nem só de rock vive o homem), peças, oficinas de arte para as crianças, mil histórias. Eles pensam em ocupar a semana inteira com esse tipo de atividade, estão passando um abaixo assinado, já começaram a conversar com as pessoas e tomara que a Prefeitura, a PBtur, o Governo do Estado, os empresários e, principalmente você, meu camaradinha, tome partido. Muita coisa pode ser feita. Vamu nessa??? O melhor, é que a gente já sabe que os sábados são nossos!

João Pessoa, 13/05/1993

Isso é só o começo...
Rodrigo Rocha