sábado, 19 de setembro de 2009

Epifania

Ela terminou de assistir a um filme e sentiu a necessidade de dançar. Colocou uma sonata de violoncelo e começou a correr e girar pela casa. Correu por todos os cômodos, sentindo-se louca, ou agindo como uma. Correndo e dançando desfez-se do vestido. Jogou-o longe. Continuou correndo pela casa, girando e pulando cada vez mais rápido, cada vez mais longe. Tirou também a calcinha e jogou no quarto. Continuou correndo pela casa, sem saber o que queria com aquilo. Talvez desfazer-se de toda a energia que possuía acumulada dentro de si. Parou no meio da sala e girou continuamente até ficar tonta. Depois girou para o lado contrário e ficou tonta mais uma vez. Parou de girar. Parou de correr. Jogou-se no sofá para recobrar a respiração. Agarrou-se no edredom e respirou fundo, até ter condições de se levantar novamente. Levantou-se, ainda agarrada no edredom, apanhou o vestido largado no chão, e largou os dois em cima da cama. Apanhou a calcinha jogada no quarto e levou até o banheiro. Tirou o sutiã e largou no chão. Foi para debaixo do chuveiro. Ligou-o e desfez-se de toda a adrenalina que havia conseguido. Sua epifania acabara.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Auspicioso

Me pergunto se existe algum estudo antropológico realizado nas filas dos sanitários. Lá acontece uma interação social que você não encontra em nenhum outro lugar. Até eu fico simpática em fila de banheiro.
Que as novelas exercem grande influência na vida dos brasileiros não é nenhuma novidade, eu mesma já cansei de ouvir pessoas ao meu redor falando "tic" ou "rarebaba" e afins. Mas quando alguém te diz na fila do banheiro onde há um submarino entalado na privada que ninguém está entrando lá porque ele não está muito "auspicioso", sinto que esse fato merece ser mencionado.

domingo, 6 de setembro de 2009

Acho que preciso me apaixonar

Se a luz do sol
Já não é suficiente pra me acordar
Acho que preciso me apaixonar
Se o cantar dos pássaros de manhã
Só serve para me irritar
Acho que preciso me apaixonar
Se nenhuma música
É capaz de me relaxar
Acho que preciso me apaixonar

Mas se olho para os lados
E meu coração não encontra
Alguém para se entregar
Eu entrego a minha boca
Eu entrego os meus braços
Eu entrego o meu corpo
Sem nunca me apaixonar

Quando o tédio nas conversas
Paira no ar
Sinto que preciso me apaixonar
Quando a lua cheia
É só uma bola no ar
Sinto que preciso me apaixonar
Se até meus amores
Só conseguem me irritar
Sinto que preciso me apaixonar

O mundo está cheio
De homens e mulheres
Com os braços estendidos
Com os lábios entreabertos
Com o corpo estremecido
Mas não encontro
Em nenhum deles
O coração
Para me apaixonar

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Voltei

Às vezes tenho vontade de permanecer incógnita. Até encontrei um lugar para isso, mas não é como aqui. Aqui me sinto à vontade, em casa. Em uma casa só minha, onde ninguém me julga. O que não chega a ser verdade, já que há muitos juízes na minha casa. Muitos nem mesmo compreendem o que digo. Aliás, a maioria não compreende. Sejam juízes ou platéia. Mas é um risco que se corre. Nenhuma paixão está imune, nem mesmo à literatura. Infelizmente, não posso ignorar os meus juízes, mas resolvi não mais me curvar diante deles. Mais uma vez dou a minha cara a tapa. Não tenho porque me esconder. Não fiz nada errado. A hipocrisia não vai me vencer. Minha literatura não é criminosa. Por isso me liberto. Só assim posso me compreender melhor. Só escrevendo sobre mim que consigo me reconhecer. E escrever sobre mim não é fazer um diário, é externar todos os personagens que existem no meu peito, na minha mente, nos meus olhos. O oposto da vida é a morte e não cabe a mim assassiná-los. Todos fazem parte de mim e ao pari-los volto a me sentir viva.