quarta-feira, 27 de maio de 2009

Indiana Thaïs

Cara, eu tô sonhando di-re-to com um danado de um templo escondido em uma casa enorme, que tem um dono malvado, laser e o caralho a quatro, aí quando eu chego no santuário tenho que escolher: ou fujo do lugar por um túmulo falso, ou sigo até o templo escondido pela passagem secreta que tem em um depósito, despensa, sei lá. Mas sabe o que é foda? Toda vez que a aventura termina eu sempre me dou conta de que deixei as minhas coisas na casa do vilão. O que será que isso quer dizer?

terça-feira, 26 de maio de 2009

Figuras notáveis dos bares noite afora

  • A solteirona amazona: sai para caçar (geralmente em bando).
  • O boêmio fiel (ou bat-boêmio): comparece (quase) todos os dias, na mesma bat-hora, no mesmo bat-local.
  • O viajante cósmico: o tempo, o mundo, as pessoas, tudo é motivo para uma conversa existencialista.
  • O poeta punheteiro: tem sempre um versinho na ponta da língua para xavecar uma mulher moderninha.
  • O maconheiro solidário: sempre te chama pra fumar um.
Quais as figuras notáveis que você conhece?

O mistério da autofecundação humana

Acordei e fui no banheiro fazer xixi. Ao tirar a minha calcinha me deparei com uma coisa estranha: havia sangue nela. Isso pode parecer uma observação banal, mas eu já tinha menstruado esse mês e não tomei pílula do dia seguinte nem nada do tipo. Fiquei assustada e pensativa.
Resolvi assistir um pouco de televisão pra desopilar. Liguei e um plantão estava no ar. Uma repórter dizia que a mudança de clima tinha afetado o aparelho reprodutor de muitas mulheres no mundo, que afirmavam ter engravidado sem relações sexuais. Algumas em êxtase, certas de que era uma obra do Espírito Santo, outras confusas e desesperadas, sem saber o que fazer. A repórter disse que o governo brasileiro ia averiguar o caso para saber se essas poderiam realizar um aborto legal, já que se fosse confirmada a autofecundação, a taxa de natalidade no país poderia aumentar muito, chegando a níveis insustentáveis.
Desliguei a TV. Aquilo tudo era muito bizarro, mesmo para mim. De fato eu não tinha feixo sexo no último mês e aquele sangue era muito esquisito. Senti então uma cólica atordoante, corri até o banheiro e vomitei. Depois me sentei no vaso e mais sangue jorrou. Eu abortei da mesma forma que engravidei: do nada.
Me recompus: tomei um banho, escovei os dentes, coloquei uma roupa limpa e fiz um miojo para o almoço. Me acomodei na minha rede e liguei novamente a TV. O plantão ainda estava lá. A repórter parecia assustada. Dizia que as mulheres que estavam grávidas pela autofecundação começaram a abortar espontaneamente uma a uma. Estudiosos de diversas áreas de conhecimento estavam ao seu lado. Um psicólogo dizia que se tratava de um delírio coletivo de mulheres estéreis histéricas. Um ufólogo afirmava que os extraterrestres tinham realizado uma experiência com fins de pesquisar uma possível reprodução da espécie em caso de invasão e os biólogos continuavam afirmando que era a mudança diária do clima que havia feito os óvulos se subdividirem mesmo sem ter sido fecundados. Defendidas as teorias, a repórter, ainda confusa e assustada (provavelmente com medo de se autofecundar também), se despede, prometendo trazer novas informações.
Aquele dia estava todo muito louco. Resolvi voltar para a cama na esperança de ter outro sonho erótico.

domingo, 24 de maio de 2009

Cartilha do sexo

- Amiga, eu preciso fazer sexo.
- Namora o meu irmão.
- Não, obrigada. Acho que vou criar uma cartilha. "Passo a passo para transar comigo".
- Hahahahahaha
- Número um: leia. Mas leia muito. E não vale ler Paulo Coelho ou Dan Brown. Leia beatniks, russos, japoneses. De preferência coisas que eu nao tenha lido, para que você possa me trazer algo novo. Número dois: é obrigatório gostar de cinema. Se for cineasta melhor ainda, cinco estrelinhas. Mas não vale ser metido, não suporto gente que baba o próprio ovo. Número três: tem que gostar de música boa. Jazz, bossa nova, blues e por aí vai. Mas tem que ter uma tendência pras coisas antigas, porque eu sou uma mulher do século passado. Número quatro: tem que gostar de crianças e animais. Necessariamente nessa ordem. Número cinco: bom humor é indispensável. Não aguento homem moribundo. Hum, o que mais? Só cinco é pouco, não sou tão fácil assim, heuehuheuheuh.
- Heiehiehiehie. Menina. Assim você não vai fazer sexo nunca.
- Auhuahuahuahuahuhauhauhauhuahuahuaha.
- Ó, minhas regras pra fazer sexo.
- Diga mermo.
- Tem que ter pau bonito.
- Hauhuahauhauhuaha.
- Saber dedar. Usar camisinha. Chupar bem e com vontade. E ter todos os dentes. Ehiehiehieheihie. Aí já tá bom demais. Eheiheiheihei.
- É mesmo, esqueci de mencionar que tem que usar camisinha!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Minha namorada

Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porquê
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

Vinicius de Moraes e Carlos Lyra


Eita que esses românticos dão um trabalho danado...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Réquiem

Hoje eu sinto a necessidade de prestar uma homenagem aos mortos. Muita coisa aconteceu nesses últimos tempos, algumas secretas, divido apenas com os mais próximos, outras não são segredo nenhum, estão aí, visíveis, para quem quiser saber. O fato é que a morte mostrou-se excessivamente ameaçadora e presente este ano. Dessa maneira ela me obriga a pensar "pra que tudo isso"? Por que me preocupar com tantos problemas pequenos? Mas agora penso que eles são necessários para que os grandes problemas não me engulam.
Camila, Igor... Eu não tinha proximidade com nenhum dos dois. Mas de repente achei tudo tão frágil ao meu redor. E me entristeci com a ausência deles na vida de todos que os queriam bem. Lembrei-me então do meu irmão. O primeiro contato que tive com a morte. Eu o olhava no caixão, intrigada, me perguntando por que os mortos tinham as sobrancelhas raspadas. Só anos mais tarde me dei conta que isso não era uma prática rotineira, mas necessária no caso dele, porque as suas tinham sido queimadas na explosão.
Sem contar das vezes que eu, criança, me debulhei em lágrimas ao perder cachorrinhos, gatinhos, pintinhos e depois, já não tão criança, a minha porquinha-da-índia.
Uma vez me perguntei se as pessoas sentiriam a minha falta quando eu morresse. Uma bobagem, descobri que sentiriam.
Existe também a morte dos idosos, tão triste quanto a dos jovens, porque a cada aniversário eles a sentem cada vez mais próxima. O pai da minha mãe, já no final da sua vida, sempre que me via, chorava. Tão terno. Dizia com frequência que era a última vez que me via, o último aniversário, o último dia dos pais... A gente tende a banalizar esses presságios, mas de fato, chega um momento em que eles se mostram reais.
Esse ano tive conhecimento de uma morte diferente. Morte, ainda assim. Ela transformou muita coisa dentro de mim e mais ainda ao meu redor. Ela tem mesmo esse poder de modificar tudo. De fazer a gente pensar na vida. Já que afinal, me perdoem a falta de originalidade, a única certeza da vida é a morte.

sábado, 16 de maio de 2009

Abro os olhos

Impossível fugir a essa dura realidade
Ne
ste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

(O dia da criação, Vinicius de Moraes)



Abro os olhos. A enxaqueca passou. Ainda bem. Esse remédio é mesmo muito bom. Demoro ainda uma meia hora para criar coragem e me levantar da cama. Tenho medo que ela apareça novamente.

Levanto-me e vou até o espelho. Decrépita, como já era esperado. Pego o pote com algodão e o demaquilante para tirar a maquiagem preta dos olhos. Um pouco mais apresentável, apesar dos cabelos indomáveis.

Meu estômago se revira, mas não tenho vontade de comer. Na geladeira tenho umas goiabas do tamanho de um mamão. Pego uma dessas, passo uma água e a mordo. Vou para o computador. Ainda é cedo, ele não deve estar lá. Aliás, já fazem alguns dias que não o vejo. No fim das contas não faz diferença, a gente quase não se fala mesmo.

Saio do computador, estou com vontade de assistir um filme. Meu DVD não pega. Droga, só fazem três meses que o comprei, será que essa porcaria já quebrou? Bom era no tempo da minha avó, que as coisas duravam uma vida inteira. Meu toca-discos era dela. Mas fazer o quê, no tempo da minha avó não tinha DVD...

Assisto a outro filme, um que estava no meu mp4. Pelo menos o USB do DVD ainda funcionava. Esse filme não tinha legenda, mas até que consegui entender boa parte do que diziam. Terminado o filme meu estado de espírito se manteve o mesmo. Voltei para o computador, mas ele ainda não estava lá. Será que viajou?

Fui para a sala ler um pouco, mas a fome bateu violenta. Com preguiça de viver, engatinhei até a cozinha, mas antes de chegar à geladeira deitei-me no chão, frio. Lembrei novamente dele e fiquei excitada. Apesar de estar menstruada, me masturbei pensando nele. Mas lembrei-me dos vizinhos, olhei pela janela da cozinha e constatei que ninguém me observava. Senti-me patética. Deitada no chão da cozinha, quis chorar, mas não consegui.

Que boba. Não aprendeu nada em todos esses anos? Você nem ama esse homem. E mesmo se amasse, até isso passaria um dia. O problema é que você ama a ideia dele. A ideia de amar, sendo correspondida ou não. Pois bem, vou te dizer uma coisa: você não é mais nenhuma adolescente. Por mais que queira ser, o tempo só avança.

O tempo só avança. Sinto-me na obrigação de não ficar mais parada. É sempre assim. E provavelmente vai ser até o final da minha vida. Afinal, é assim mesmo que eu sou. Melhor começar a fazer o meu almoço.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

BASEADO EM FATOS REAIS: Foi engano

Chego na porta de casa e o telefone toca. Abro a porta, apressada, a chave prende, agonia maior do mundo, entro e atendo.
- Alô?
- Bom dia, é do Banco do Brasil?
- Não.
- O telefone é 3341-4841?
- Não.
- Ah, tá bom, desculpe.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"You are stardust"

Eu sempre penso no conceito de alma gêmea. Aliás, a alma em si me intriga. Um dos motivos pelos quais a "bilogia" "Antes do amanhecer" e "Antes do pôr-do-sol" me fascina é que eles têm basicamente as mesmas impressões do assunto que eu. Mas não vou fazê-lo assistir aos filmes para descobrir quais são (apesar de achar que deveria).
Em primeiro lugar, se a alma é imortal, então as almas de todas as pessoas que já morreram, vivem ou ainda vão nascer já existem em algum lugar do universo, certo? Digamos que não, que na verdade o que existe é a reencarnação. Eu morrerei e outra pessoa "herdará" a minha alma. Mas se hoje em dia existem muito mais pessoas no planeta do que existiam há 2000 anos, de onde vieram todas essas almas? Estariam estocadas? Ou será que as almas atuais são fragmentos das almas dos nossos antepassados? Isso poderia ser uma explicação para o fato de não existirem outros Da Vincis perambulando por aí...
Se for assim então a minha alma gêmea está fragmentada em diversos pedacinhos, assim como a minha própria. Menos cruel. Mas se ela for única, morar no Afeganistão e tiver 68 anos? Eu devo então me conformar em viver eternamente como uma cuia, sem tampa? Cruel, não é mesmo? Falo de almas gêmeas porque sou uma eterna romântica, mas acreditar mesmo, eu acredito no amor de Vinícius. "Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure".