terça-feira, 15 de abril de 2008

Autobiografia de uma desconhecida III

3. A minha melhor amiga

Eu sempre costumo dizer que a minha vida daria um livro. Talvez dê mesmo, isso depende de quem vai escrevê-lo. O que estou fazendo aqui? Apenas um relato despretensioso.

Voltei do Rio, onde eu estudava em uma escolinha da farda branca e vermelha chamada Ioiô (ou seria Yoyô?) da qual eu me lembro apenas da festinha de aniversário que tive lá, para estudar em uma escolinha chamada Risque Rabisque. Era uma escolinha a três quarteirões da minha casa cujo nome eu adorava brincar. Isque Uísque. Fiquei empolgadíssima com a escolinha nova.

Cheguei lá em plena festinha de carnaval, todos dançando super fantasiados e eu vestindo apenas uma camisetinha do bloco de carnaval “Muriçocas do Miramar”. Parecia que eu era a única no lugar que não estudava lá desde o maternal. Menina tímida, deslocada, tive a minha salvação em uma menina magra vestida de pirata que logo veio à minha direção para me conhecer. Mais tarde descobri que era de praxe ela ser a primeira a fazer amizade com os novatos.

E foi assim que eu conheci a minha melhor amiga. Ao longo desses dezoito anos já brigamos muito, fizemos as pazes, viajamos, bebemos juntas, mas tudo começou com uma muriçoca e uma pirata no meio das fadas e princesas

terça-feira, 8 de abril de 2008

Autobiografia de uma desconhecida II

2. O Balão de Lula-lá


1989. eu tinha quatro anos e dormia numa gaveta. Minha raiva do mundo se resumia a isso. Meu irmão dormia na cama e eu na gaveta debaixo da cama. Obviamente, pensando no assunto hoje em dia chego à conclusão lógica de que não era uma gaveta, mas uma bicama. Mas não importa o que eu descobri agora, mas no que eu acreditava então.

Era o ano das eleições para presidente e eu estava no Rio de Janeiro com os meus pais e meu irmão Thiago. Morávamos num apartamento no Humaitá próximo ao corpo de bombeiros. O Gol vermelho do meu pai foi roubado na calçada do prédio.

Eu torcia para Lula-lá, mas por causa dele passei por uma das maiores frustrações da minha vida (que meu pai faz questão de não me deixar esquecer jamais!) Depois de um comício pedi para meus pais me comprarem um daqueles balões metálicos em forma de coração cheio de hélio, hidrogênio ou sei lá o quê. Quando chegamos no carro pedi ao meu pai que segurasse o meu balão para que eu entrasse no carro. Confiando nele, soltei o balão, que voou para a liberdade sem nem ao menos me dar um tchau. Aí eu desatei a chorar. E para me vingar, disse claramente que não votaria ais em Lula-lá. O foda é que doze anos depois eu quebrei a minha promessa.

Enfim, aquele foi o meu primeiro e último balão metálico de hélio, hidrogênio ou sei lá o quê.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Autobiografia de uma desconhecida I

1. O dia em que eu nasci


A única coisa da minha vida que eu posso falar anterior aos meus quatro anos foi do dia em que eu nasci. Não que eu me lembre, obviamente, mas os detalhes me foram contados inúmeras vezes, de maneira que eu possa descrevê-los como se estivessem vívidos em minha memória.

Depois de ler Léboyer, minha mãe entrou na viagem do parto humanizado (assim como eu, mas não vamos adiantar os fatos) e resolveu que eu nasceria em casa. E o meu pai embarcou na dela, pro desespero do obstetra. Apesar de muito querer, não conseguiu convencer o médico a fazer o parto na água (o que também era a minha vontade, mas o plano de saúde não cobria) e eu acabei nascendo na sala de casa. Pensando bem, acho que é melhor nascer em uma sala do que em um banheiro...

Nascida eu, começaram os desejos de me carregar nos braços (afinal, qual é o tesão que todos têm de carregar os filhos dos outros nos braços?), mas Léboyer alertava em “Nascer sorrindo” para ter cuidado com os olhos dos recém-nascidos, então todos que me seguravam tinham que andar de costas para que a luz do sol não ferisse as minhas sensíveis retinas. Ainda bem que ninguém tropeçou.

Eu também queria ter a minha filha em casa, mas hoje em dia eu meio que agradeço por não ter sido o caso, não sei o que teria sido de mim sem a epidural.

Enfim, eu nasci no dia vinte e cinco de outubro de mil novecentos e oitenta e cinco. Tenho certeza de que muita coisa importante aconteceu nesse ano, mas obviamente não lembro o quê.