segunda-feira, 7 de abril de 2008

Autobiografia de uma desconhecida I

1. O dia em que eu nasci


A única coisa da minha vida que eu posso falar anterior aos meus quatro anos foi do dia em que eu nasci. Não que eu me lembre, obviamente, mas os detalhes me foram contados inúmeras vezes, de maneira que eu possa descrevê-los como se estivessem vívidos em minha memória.

Depois de ler Léboyer, minha mãe entrou na viagem do parto humanizado (assim como eu, mas não vamos adiantar os fatos) e resolveu que eu nasceria em casa. E o meu pai embarcou na dela, pro desespero do obstetra. Apesar de muito querer, não conseguiu convencer o médico a fazer o parto na água (o que também era a minha vontade, mas o plano de saúde não cobria) e eu acabei nascendo na sala de casa. Pensando bem, acho que é melhor nascer em uma sala do que em um banheiro...

Nascida eu, começaram os desejos de me carregar nos braços (afinal, qual é o tesão que todos têm de carregar os filhos dos outros nos braços?), mas Léboyer alertava em “Nascer sorrindo” para ter cuidado com os olhos dos recém-nascidos, então todos que me seguravam tinham que andar de costas para que a luz do sol não ferisse as minhas sensíveis retinas. Ainda bem que ninguém tropeçou.

Eu também queria ter a minha filha em casa, mas hoje em dia eu meio que agradeço por não ter sido o caso, não sei o que teria sido de mim sem a epidural.

Enfim, eu nasci no dia vinte e cinco de outubro de mil novecentos e oitenta e cinco. Tenho certeza de que muita coisa importante aconteceu nesse ano, mas obviamente não lembro o quê.

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