As personagens dos filmes de Miyazaki estão longe do padrão dos irmãos Grimm de jovens de beleza invejável que são castigadas por serem belas e no fim são salvas pelo belo príncipe. Nausicäa do Vale dos Ventos (Kaze no tani no Naushika) foi o filme que estabeleceu as bases para a fundação do Studio Ghibli. Baseado em uma obra do próprio Miyazaki, conta a estória de uma garota que luta para salvar a terra em que vive. Um detalhe interessante do filme é a lenda presente na estória, onde é dito que apareceria um salvador para a terra. Como é de se imaginar depois do meu discurso, o que apareceu foi uma salvadora. A Princesa Mononoke (Mononoke Hime) é um dos filmes mais consagrados de Miyazaki. Protagonizado por Ashitaka, um jovem que é responsável pela harmonia da humanidade com a natureza, estando presente para ajudar San, uma jovem que vive na floresta e é tida como filha por uma loba gigante, e por estar sempre tentando conscientizar a sociedade que depende da senhora Eboshi. Nesta estória, o rapaz está constantemente suscetível às sociedades matriarcais, já que Eboshi e San estão longe do padrão "princesa" citado nas estórias do início desse texto, mesmo tendo o filme o título que tem.
Mas não precisamos voltar tanto no tempo (Nausicäa foi produzido em 1984 e Mononoke em 1997), lembremos de A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi), de 2001. Menos independente do que Nausicäa, San e Eboshi, Chihiro tem a ajuda de várias pessoas durante a estória para conseguir salvar seus pais, que foram transformados em porcos. Ela chora em vários momentos do filme, como toda criança chora. Sim, esqueci de mencionar que ela é uma criança. Já vi em uma sinopse a descreverem como "uma criança mimada", mas ela mostra durante o decorrer do filme a perseverança para salvar os pais, que a maioria de nós deve se perguntar se teria a força dela para levar a situação. Este é o único filme de Miyazaki (e do Studio Ghibli) licenciado e disponível em DVD no Brasil.
Este ano foi lançado o último filme dirigido por Hayao Miyazaki: Castelo Animado (Hauru no ugoku shiro), baseado no livro Howl's Moving Castle, de Diana Wynne Jones. Ainda disponível em alguns cinemas do país, a estória de Sophie me comoveu a ponto de escrever esse texto. Logo no início do filme ela é transformada em uma velha de noventa anos e por isso foge da cidade para não ter que enfrentar os seus conhecidos; assim ela acaba chegando no castelo de Howl, um jovem e belo mago. Uma beleza até digna de um príncipe, mas ele nem ao menos consegue desfazer o feitiço que a Bruxa da Terra Abandonada solta em Sophie, além de fugir constantemente dela e da madame Suliman, sua antiga tutora. Mesmo no meio de todos esses feiticeiros (e principalmente feiticeiras), é Sophie que, transformada em uma idosa, tem a força para levar adiante os ânimos dos personagens do filme.
Na hora que seus filhos lhe pedirem para que leia um livro antes de dormir, procure algo além de A Bela Adormecida. Quando forem na locadora e ele não souber o que levar, não leve sempre Branca de Neve e os Sete Anões. E tenha em mente que um desenho animado pode muitas vezes ser mais rico e interessante do que os cinqüenta filmes de super-heróis que são lançados. Nesse texto enfoquei as estórias infantis, mas há outros desenhos com temas mais adultos que são muitíssimo interessantes, mas seria difícil encontrá-los em português fora da internet.
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