Tenho desde muito cedo o costume de pegar os discos da minha mãe para ouvir. Certa vez peguei uma coletânea de jazz cantado só por mulheres. Confesso que foi mais pelo meu espírito feminista, mas acabei gostando verdadeiramente do CD. Eram dois discos: o primeiro com as novas divas do jazz. Adorei de cara. Escutei sem parar por vários dias, até que resolvi escutar o segundo disco, com a “velha guarda”. Tenho (ou pelo menos tinha) um pequeno preconceito com os discos dois dos CDs duplos e a primeira impressão que tive deste foi de “o primeiro é melhor”. Mas felizmente continuei ouvindo o disco dois, não sei se por preguiça de mudar, por persistência ou curiosidade. Passada a primeira impressão comecei a prestar mais atenção nas músicas e acabei sendo cativada por uma voz suave que cantava Stormy weather e Come rain or come shine. Passado algum tempo aquela pequena dose não era mais suficiente: eu estava viciada. Ou melhor, apaixonada. Eu me apaixonei pela voz de Billie Holiday. Constatada a paixão, fui atrás dela e encontrei nos CDs da minha mãe dois dela. Imediatamente os capturei e mantive comigo em meu quarto até eu sair de casa. Mas antes disso tivemos muito tempo juntos. Aquela voz me acompanhou nas noites mais tristes e mais felizes da minha vida.
Mas ter um vício nunca é coisa boa, e houve um tempo que ela começou a me fazer mal. Foi quando eu encontrei um outro amor e ela sabia exatamente o que se passava dentro de mim. Eu sentia então mais do que nunca que estávamos conectadas e por isso eu não queria deixar de sentir o que ela também me dizia que sentia. Até que percebi que isso devia acabar e nos separamos. Tirei seu CD do som e guardei na caixa até me recuperar.
Mas como eu disse, não foi só nas noites tristes que ela me acompanhou. Passada a minha tristeza, senti-me pronta para finalmente voltar ao seu lado. Meu amor então se consolidou sem ninguém para nos atrapalhar. Cheguei a conhecer outras durante todos esses anos, mas nenhuma conseguiu jamais abalar o meu amor.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Aroma
Agora eu sei como o cara d’O Cheiro do Ralo se sente. Digo “o cara” porque não me recordo dele ter um nome. Mas digo isso não pelo fato dele não ter nome, porque eu tenho e conheço muito bem o meu (só tenho sobrenomes meio obscuros), e sim por causa do cheiro. Ou dos cheiros. O cheiro do ralo também me persegue. Pinçadas aromáticas cutucam meu cérebro calejado de enxaquecas a ponto de me deixar atordoada. Nem sempre provenientes de um ralo, mas também de uma privada, ou até mesmo de uma colega de universidade com um perfume que mais parece A Fantástica Fábrica de Chocolates. Independente de suas procedências, eles pululam e chafurdam em minhas narinas como porcos na lama.
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