Tenho desde muito cedo o costume de pegar os discos da minha mãe para ouvir. Certa vez peguei uma coletânea de jazz cantado só por mulheres. Confesso que foi mais pelo meu espírito feminista, mas acabei gostando verdadeiramente do CD. Eram dois discos: o primeiro com as novas divas do jazz. Adorei de cara. Escutei sem parar por vários dias, até que resolvi escutar o segundo disco, com a “velha guarda”. Tenho (ou pelo menos tinha) um pequeno preconceito com os discos dois dos CDs duplos e a primeira impressão que tive deste foi de “o primeiro é melhor”. Mas felizmente continuei ouvindo o disco dois, não sei se por preguiça de mudar, por persistência ou curiosidade. Passada a primeira impressão comecei a prestar mais atenção nas músicas e acabei sendo cativada por uma voz suave que cantava Stormy weather e Come rain or come shine. Passado algum tempo aquela pequena dose não era mais suficiente: eu estava viciada. Ou melhor, apaixonada. Eu me apaixonei pela voz de Billie Holiday. Constatada a paixão, fui atrás dela e encontrei nos CDs da minha mãe dois dela. Imediatamente os capturei e mantive comigo em meu quarto até eu sair de casa. Mas antes disso tivemos muito tempo juntos. Aquela voz me acompanhou nas noites mais tristes e mais felizes da minha vida.
Mas ter um vício nunca é coisa boa, e houve um tempo que ela começou a me fazer mal. Foi quando eu encontrei um outro amor e ela sabia exatamente o que se passava dentro de mim. Eu sentia então mais do que nunca que estávamos conectadas e por isso eu não queria deixar de sentir o que ela também me dizia que sentia. Até que percebi que isso devia acabar e nos separamos. Tirei seu CD do som e guardei na caixa até me recuperar.
Mas como eu disse, não foi só nas noites tristes que ela me acompanhou. Passada a minha tristeza, senti-me pronta para finalmente voltar ao seu lado. Meu amor então se consolidou sem ninguém para nos atrapalhar. Cheguei a conhecer outras durante todos esses anos, mas nenhuma conseguiu jamais abalar o meu amor.
Bem lembro desses dias de amor, foi logo quando conheci você - melhor dizendo, me tornei próximo a você. E entre umas mp3 e outras tenho coisas da Billie Holiday que foi você que me enviou e apresentou. Lembro até que em uns textos que eu estava escrevendo, onde pessoas conhecidas eram representadas nos personagens, uma cantora de jazz era você, no melhor estilo Billie Holiday. Nesse tempo fazíamos cursinho e comíamos pão com mortadela quando deveríamos estar preocupados com o vestibular também. Seu texto me deixou... Qual é aquela palavra... Saudosista. Assistir O Balconista 1 e 2 ontem também me deixou assim – e meio depressivo por me sentir parecido com o personagem principal, infelizmente.
ResponderExcluirSei como é isso de se sentir igual a um personagem, eu tive isso com o Joel de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Uma hora você abstrai isso... Até rever o filme ;)
ResponderExcluirMas que comentário lindo Samuel!
Eu também tenho me sentido saudosista de vez em quando... Tanta coisa mudou na nossa vida, né? Não que eu esteja me queixando, mas o que é bom, quando se vai, deixa saudades ;)
Fiquei curiosa pra ler esses textos agora... Não lembro se os li na época... Você ainda os tem?
Quanto ao vestibular, acho que não estávamos muito preocupados não, hehehe ;D
tem sim, nos mais antigos e obscuros post do fotolog 10centavos... (pqp pensar que tenho esse bagulho desde 2003!)
ResponderExcluirpronto, achei.. basicamente os posts de 2004 durante o mês de Novembro.
o texto com vc seria http://www.fotolog.com/10centavos/7645818 este.
os outros estao aqui:
http://www.fotolog.com/10centavos/archive?v=month&year=2004&month=11
Ah sim, eu lembro desse texto! Aliás, gostei muito ;D
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