Estou com as pontas dos dedos geladas. Dizem que é exagero sentir frio aqui no nordeste, que aqui não existe inverno de verdade. Talvez, comparado aos invernos siberianos, o daqui seja realmente apenas uma brisa fresca. Mas eu, eterna moradora de regiões tropicais, não tenho o direito de sentir frio na minha terra natal? Devo esconder meus dedos gelados e fingir estar acostumada a uma temperatura de 20°? Tudo bem, me critiquem, mas umas luvinhas viriam a calhar.
Mas mais do que as mãos, gostaria de aquecer meus pés. Faz tempo que não tenho senão meu edredon para fazê-lo. Isso me incomoda demasiado, mas o que posso fazer? Boto a bota, as mãos nos bolsos e saio pro mundo, à procura nos becos e bares mais improváveis. Lá encontro para me aquecer o álcool, o fumo, a música, a dança e os ambientes fechados. Aí o calor vem pra lascar. Então, com meus pés suando e com os pelos dos meus braços comportados, esqueço a tempestade gélida que tenta se apoderar do interior do meu corpo e não me choco mais com a minha temperatura.
Passo a procurar olhares cálidos, mas não há acordo entre os frios e os quentes. Talvez por culpa minha, mas talvez não. Por fim desisto e olho para o alto. Para a música, para a luz, para o céu. E passa por mim um corpo frio, outrora quente, outrora frio, outrora quente. Finjo que sou também um corpo frio. E ele, como um cubo de gelo, passa escorregadio ao meu lado, deixando apenas um rastro úmido.
E a noite se estende, meu corpo quente finge ser frio e seu corpo frio, em algum momento, finge ser quente. Nossas temperaturas não mais se encontram na tentativa de trocarmos calores à procura de uma sensação tépida, desejo que sim, mas espero que não.
Acho que estou a passar por alguma coisa desse tipo atualmente, e confesso, não é nada bom. Tá bom, o excesso de álcool e bom ^^.
ResponderExcluirÉ bom e não é, né ;)
ResponderExcluirTer um "cobertor de orelha" é tão gostoso.
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