Encontrei uma moeda na rua, dez centavos, mas estava tão dura que não hesitei em pegar. Se tivesse algum poço por perto jogaria pedindo que ela se multiplicasse. Ou talvez não, desde que o meu irmão morreu, quando eu tinha dez anos, que não sou muito fã de poços. Guardei no bolso, seria muito útil na hora de pagar a passagem do ônibus. Maldito preço quebrado. Queria era enfiar essa moeda no cu de algum dono de empresa de coletivos, capitalistas malditos. Mas quem sou eu pra falar de capitalistas?
Com vinte e cinco anos, já sou mãe e separada, moro na casa da minha mãe e estou no meu primeiro emprego de vergonha. E por falar em vergonha, ainda nem sei quanto vou receber, tive vergonha de perguntar. O fato é que me vejo cada vez mais perto dos trinta, idade limite, para mim, para a “auto sustentação”. Cinco anos antes disso, não avisto a independência financeira.
Não que me cobrem, ao menos não muito, mas à medida que seus pais envelhecem, começam a cansar de trabalhar, ter câncer, água na cabeça, dor nos ossos, falta de memória e você passa a se sentir um peso morto imprestável. Afinal, você tem vinte e cinco anos, ensino superior completo e uma boa educação, o que te falta?
Nunca dou esmolas. Sempre acho que vou me arrepender futuramente, quando estiverem faltando moedas para completar a passagem, a cerveja ou o chiclete pra tirar o gosto do almoço.
Mas não posso me queixar, o ano começou muito bem, esse pessimismo é apenas reflexo do pau que levei na prova do Detran por causa de um cinto de segurança e uma seta errada. A baliza e a meia embreagem foram perfeitas. Puta mundo injusto.
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