Não me entendam mal, não sou contra o fato de serem criados espaços exclusivos para mostrar a produção feminina, que de outra maneira não está aparecendo, pelo contrário. Faço parte do grupo responsável pela Inverna, uma revista criada para mostrar uma fatia da produção feminina de quadrinhos no Brasil. E sei que essa "reclamação" pode parecer contraditória. Sou aquela pessoa pessoa chata que no meio da mesa redonda pergunta ao editor por que ele não publica mais mulheres. Não porque eu acho que ele tem que ser bonzinho e deixar uma mulher ocupar uma vaga, de forma alguma. Não falo em cotas. Mas, para ele se questionar por que, se Maria é tão boa quanto José ou Jeová, ele escolhe José, Jeová, mas não Maria. Nós não queremos que sejam criadas mesas para falar como são os quadrinhos feitos por mulheres, queremos que numa mesa sobre a problemática da metafísica nos quadrinhos existam mulheres participando, para que não seja necessário perguntar a um homem por que não há mais mulheres fazendo quadrinhos.
Agora é inevitável falar mais uma vez sobre o FIQ. A maior parte da produção de quadrinhos lá exposta era produzida por homens? Sim. A produção feminina era inexpressiva? Não. E como eu sou otimista, diria até que cresce numa progressão geométrica entre as edições do evento. O número menor de quadrinistas se dá, provavelmente, porque as mulheres foram ignoradas durante muito tempo como público ("mulher não gosta de quadrinhos") e como autoras ("não gosto de quadrinhos feitos por mulheres"). Embora os espaços criados para expor os trabalhos femininos sejam muito bem-vindos, não queremos passar o resto da vida dependendo do vagão rosa.
As imagens utilizadas aqui foram retiradas do texto "20 conselhos para artistas femininas de artistas femininas", no site Lady's Comics.
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