Por causa disso, todos os dias entrava em conflito com a professora: gritos, agressões verbais, expulsões de classe e algumas vezes chegava ao cúmulo de ser suspensa. Os pais de Sandra não se conformavam com a situação e tentavam convencer a filha a escrever com a mão certa. Se ela ainda fosse canhota, pensavam eles, poderia até fazer sentido, mas a menina era destra desde o nascimento, aquilo tudo era inconcebível!
Da mesma forma que fazia com a professora, Sandra tentava convencer os pais da sua nobre causa: ela não era canhota, mas os demais alunos que eram obrigados a mudar a sua natureza? Sua mãe sempre dizia que os outros não eram filhos dela e que nem ela nem a filha tinham a obrigação de se importar com eles. Pobres garotos, respondia ela, que não tinham nem o direito de ter um porta-voz contra os desmandos insanos da professora beata.
Um dia ela resolveu radicalizar. Chamou todos para o pátio da escola, subiu em um banco e começou a discursar:
– Temos aqui em nossa instituição de ensino uma professora com mentalidade e práticas medievais!
A maioria dos alunos observava curiosa, apenas os canhotos da sua sala a aplaudiam fervorosamente.
– Esta carola, meus colegas – aponta para a professora ditadora – obriga-nos a escrever com a mão direita e estamos sujeitos a severas punições se não a obedecermos!
A esta altura a acusada olhava para os lados, desconfiada de tudo e de todos, rezando para que tudo aquilo fosse um sonho.
– Pois bem, eu estou aqui para desafiá-la. Se ela não parar com essa perseguição eu serei obrigada a cortar fora a minha mão direita!
Todos os presentes a encararam incrédulos.
– Se duvidam é só me trazerem um machado!
Aos poucos foram se afastando um por um.
– Vamos, o que estão esperando? Vão deixar que o preconceito vença a justiça?
Até que só sobrassem no pátio Sandra e a acusada.
– É, parece que só sobramos nós duas...
– Deixa logo de brincadeira, Sandra, e vai pra sala. Você hoje não sai daqui sem uma suspensão.
– Me deixa em paz, senão eu cumpro o que prometi!
– Tá certo, agora entra na sala que eu vou pensar o que faço com você.
– Você acha que eles acreditaram?
– É claro que não. Ora essa, cortar a mão. Você bem acha que eu não sei que é destra?
– Você sabe? Desde quando?
– Desde que eu vi os seus garranchos pela primeira vez. Por que você acha que eu insisti tanto para que escrevesse com a mão certa?
– Porque você é uma beata ditadora!
– Você tem muita imaginação, minha querida, deveria ser escritora.
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