terça-feira, 26 de maio de 2009

O mistério da autofecundação humana

Acordei e fui no banheiro fazer xixi. Ao tirar a minha calcinha me deparei com uma coisa estranha: havia sangue nela. Isso pode parecer uma observação banal, mas eu já tinha menstruado esse mês e não tomei pílula do dia seguinte nem nada do tipo. Fiquei assustada e pensativa.
Resolvi assistir um pouco de televisão pra desopilar. Liguei e um plantão estava no ar. Uma repórter dizia que a mudança de clima tinha afetado o aparelho reprodutor de muitas mulheres no mundo, que afirmavam ter engravidado sem relações sexuais. Algumas em êxtase, certas de que era uma obra do Espírito Santo, outras confusas e desesperadas, sem saber o que fazer. A repórter disse que o governo brasileiro ia averiguar o caso para saber se essas poderiam realizar um aborto legal, já que se fosse confirmada a autofecundação, a taxa de natalidade no país poderia aumentar muito, chegando a níveis insustentáveis.
Desliguei a TV. Aquilo tudo era muito bizarro, mesmo para mim. De fato eu não tinha feixo sexo no último mês e aquele sangue era muito esquisito. Senti então uma cólica atordoante, corri até o banheiro e vomitei. Depois me sentei no vaso e mais sangue jorrou. Eu abortei da mesma forma que engravidei: do nada.
Me recompus: tomei um banho, escovei os dentes, coloquei uma roupa limpa e fiz um miojo para o almoço. Me acomodei na minha rede e liguei novamente a TV. O plantão ainda estava lá. A repórter parecia assustada. Dizia que as mulheres que estavam grávidas pela autofecundação começaram a abortar espontaneamente uma a uma. Estudiosos de diversas áreas de conhecimento estavam ao seu lado. Um psicólogo dizia que se tratava de um delírio coletivo de mulheres estéreis histéricas. Um ufólogo afirmava que os extraterrestres tinham realizado uma experiência com fins de pesquisar uma possível reprodução da espécie em caso de invasão e os biólogos continuavam afirmando que era a mudança diária do clima que havia feito os óvulos se subdividirem mesmo sem ter sido fecundados. Defendidas as teorias, a repórter, ainda confusa e assustada (provavelmente com medo de se autofecundar também), se despede, prometendo trazer novas informações.
Aquele dia estava todo muito louco. Resolvi voltar para a cama na esperança de ter outro sonho erótico.

5 comentários:

  1. definitivamente seria o texto que eu escreveria se eu entendense de mulheres...porra ficou otimo thaiis!!

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  2. Sério? Eu nem tinha achado, hehehehe ;D
    Que bom então!

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  3. olha, o texto tá bem engraçado! dei mesmo risadas! me envolvi nessa situação de saramago e seus cegos...
    veja, se não viu, o romeno '4 meses, 3 semanas e dois dias' - aborto à moda da máfia local.

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