Resolvi então, passada a minha infância, não escrever mais cartas de amor, pois a primeira carta escrita para o meu primeiro namorado resultou em uma humilhação pública em sala de aula. Eu o perdoei, como viria fazer mais tarde tantas outras vezes com outros homens. Meus relacionamentos sempre terminam por ausência de amor, e não haveria o primeiro de terminar por causa de uma reação ridícula a uma carta de amor.
Continuei escrevendo-as, mas estas então não eram mais enviadas. Fantasiadas de contos, crônicas, sonhos e diálogos, continuei as produzindo em segredo, porque eu precisava me expurgar daqueles sentimentos, sem necessariamente me expor ao ridículo.
Mas descobri recentemente a tristeza que é não completar o ciclo de uma carta de amor. Sentimentos que nos fazem sentir ridículos podem ser recíprocos. Ou não. Aí a queda é grande. Mas quando ambos são fatalmente vítimas desse sentimento ridículo, ridículo é mantê-lo em segredo. Preso dentro de uma garrafa nunca jogada ao mar, asfixiado até o dia da sua morte.
Aí ele deixa de existir. Deixamos de nos sentir ridículos, abrimos a garrafa e jogamos fora os restos mortais daquela declaração antes tão pulsante. Constatamos então que somos a própria garrafa e estamos tão vazios quanto ela. E morremos pouco-a-pouco, sem aproveitar a oportunidade de nos sentirmos ridiculamente felizes ao receber uma carta de amor.
Dá-le fernando pessoa ;D
ResponderExcluir"A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas."