domingo, 26 de junho de 2005

Caçando calangos

Eu estava sóbria quando ele me apareceu. Devia ter cerca de um metro e sessenta de "altura", cabeça chata (provavelmente de ter carregado muita lata d'água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Mariiiiiiiia...) pele morena queimada do sol e um olhar desconcertante. Eu estava descendo a Epitácio Pessoa às nove da noite, preocupada e com medo de que saísse algum meliante das matas do rio Jaguaribe quando ele me apareceu. Acho que melei minha calcinha de cocô quando essa figura parou na minha frente, mas com medo da reação dele ao farejar meu medo, fiz o possível para cumprimentá-lo normalmente. Ele não só ignorou a minha rara demonstração de educação como falou da maneira mais seca e grossa possível. Aí eu tive certeza de que estava melada.
O sertanejo entregou-me um folheto de cordel com a xilogravura de um calango na capa. Pelo menos eu achei que fosse um calango. Nunca tive muita certeza da diferença entre calango, lagartixa e víbora. Acho que nunca tinha visto um calango. A única coisa que ele me disse foi que voltasse para casa, lesse aquele folheto e voltasse no dia seguinte para aquele mesmo ponto da avenida, no mesmo horário para encontrá-lo.
Foi aí que minha curiosidade superou o meu medo.

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