Sexta-feira pela manhã caminho em direção à universidade, carregada com duas bolsas, três bandejas e duas garrafas cheias de químicos em uma mão e um misto quente na outra. De repente vejo no horizonte o príncipe encantado a galopar em minha direção. "Não há de ser nada, apenas um transeunte matinal". Mas ele me aborda e pergunta se eu tenho um real. Respondo que não - e era verdade, talvez 0,50, no máximo! - e ele me pede para entregar-lhe a minha bolsa, não por cavalheirismo, mas por marginalismo, mesmo.
A minha bolsa com minha câmera? Ou a minha bolsa com minha carteira, pinças para utilizar na aula, agenda, mp4, óculos, enfim, minha vida? Ele acrescenta que não devo correr e penso "hum, boa idéia, ops, ideia, que agora não tem mais acento - ah essa reforma ortográfica...". Grito "dou não!" e corro então de volta para casa, mas o cavalo era mais rápido que a pata choca carregada aqui. Dou meia-volta e ponho-me a correr na direção oposta. Alguns metros depois constato que ele não está mais no meu encalço e paro de correr. Engolindo o coração de volta, chego à triste conclusão de que não se fazem mais contos de fadas como antigamente.
sábado, 20 de junho de 2009
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Desvirtuando Shakespeare
para Samuel
- Oh, Romeu, onde estás que não me atendes?
- Estou aqui embaixo, bela Julieta!
- Romeu, amor meu, como queria que estivesses aqui ao meu lado nesse instante, mas demoraste muito, não tarda a hora da cotovia cantar.
- Então joga logo as tuas tranças!
- Tranças, Romeu?
- Sim, antes que os sete anões voltem e tu adormeças novamente.
- Ô Romeu, você tá me confundindo com outra?
- Julieta, preciso bater a real contigo. Gosto muito de você, mas não dá mais pra namorar escondido.
- Estás pedindo para que fujamos juntos?
- Ficou louca? Pra sermos perseguidos pelo resto da vida? Olha, não é nada contra você, mas não dá pra namorar com seu pai embaçando o tempo inteiro, entende?
- Então você está me largando?
- Você merece um cara melhor do que eu, alguém que seus pais aceitem.
- Mas é você que eu quero, ó, Romeu!
- E eu também preciso de alguém menos complicada. Lá nos contos de fadas têm umas princesas super gente fina...
- Contos de fadas?
- É, e lá também tem uns príncipes que enfrentam dragões e tudo mais.
- Príncipes?
- É! Então... estamos quites?
- Uma porra. PAIÊEEEEE!
quarta-feira, 10 de junho de 2009
terça-feira, 9 de junho de 2009
Simone
- Cara, é triste, mas a Simone se fudeu bastante.
- Foi? O que houve?
- No relacionamento aberto dela com o Sartre.
- Tadinha...
- Ah... ela ficou velha.
- As mulheres sempre se fodem nos relacionamentos abertos.
- Ele ficou mais famoso que ela.
- Frida também se fodeu, né.
- Ele começou a pegar várias...
- Bom, ela ficou mais famosa.
- Mas assim, eu li a biografia Sartre Simone. Mais da Simone que dele. Ela era muito mais foda que ele, né.
- Ela era mais foda que ele?
- Ele pra mim era um velho babão.
- Uhum. Foda...
- Muito mais.
- Homens sempre parecem velhos babões. Constatei muito disso transando com meus professores. Sempre decepcionantes.
- É... o Sartre era um figura bizarra. A Simone era sensacional. Vou levar o livro que tenho pra você.
- Tá!
- Ela era genial. Obviamente no amor não se dava muito bem. Mas também... quem precisa se dar bem no amor, né?
- Heehehehhe... sei lá.
- Bando de maricas escrotos.
- Eu sou uma romântica de merda. Eu cresci vendo filmes de mulherzinha, não consigo evitar.
- Eu também, eu também.
- Por mais que eu saiba que são um bando de babacas, eu sempre quero me apaixonar.
- Eu também, mas é justamente esse o ponto, se apaixonar. É saber que não vai durar. Zero.
- É.
- É aqui, agora, 6 meses, pronto.
- Exato.
- E isso me deprime também.
- 6 meses e pronto.
- Porque as pessoas dizem...
- Um amor lancinante.
- Ah, depois da paixão, vem o amor.
- Por 6 meses. Ah cara...
- E pra mim nunca veio o amor.
- Eu não sei viver sem paixão. Porque acaba a paixão e os defeitos daquela pessoa passam a me incomodar demais para uma convivência.
- Exato. Pra mim o mesmo. É uma merda, não dá pra viver sem paixão. Pelo menos até agora.
- Aí a questão de viver separado pra mim é só o fato de que os defeitos vão demorar um pouco mais pra aparecer, pra incomodar.
- Cara... esse revival que tive foi ótimo. Porque realmente, eu percebi como é bom morar em casas diferentes.
- Foi? O que houve?
- No relacionamento aberto dela com o Sartre.
- Tadinha...
- Ah... ela ficou velha.
- As mulheres sempre se fodem nos relacionamentos abertos.
- Ele ficou mais famoso que ela.
- Frida também se fodeu, né.
- Ele começou a pegar várias...
- Bom, ela ficou mais famosa.
- Mas assim, eu li a biografia Sartre Simone. Mais da Simone que dele. Ela era muito mais foda que ele, né.
- Ela era mais foda que ele?
- Ele pra mim era um velho babão.
- Uhum. Foda...
- Muito mais.
- Homens sempre parecem velhos babões. Constatei muito disso transando com meus professores. Sempre decepcionantes.
- É... o Sartre era um figura bizarra. A Simone era sensacional. Vou levar o livro que tenho pra você.
- Tá!
- Ela era genial. Obviamente no amor não se dava muito bem. Mas também... quem precisa se dar bem no amor, né?
- Heehehehhe... sei lá.
- Bando de maricas escrotos.
- Eu sou uma romântica de merda. Eu cresci vendo filmes de mulherzinha, não consigo evitar.
- Eu também, eu também.
- Por mais que eu saiba que são um bando de babacas, eu sempre quero me apaixonar.
- Eu também, mas é justamente esse o ponto, se apaixonar. É saber que não vai durar. Zero.
- É.
- É aqui, agora, 6 meses, pronto.
- Exato.
- E isso me deprime também.
- 6 meses e pronto.
- Porque as pessoas dizem...
- Um amor lancinante.
- Ah, depois da paixão, vem o amor.
- Por 6 meses. Ah cara...
- E pra mim nunca veio o amor.
- Eu não sei viver sem paixão. Porque acaba a paixão e os defeitos daquela pessoa passam a me incomodar demais para uma convivência.
- Exato. Pra mim o mesmo. É uma merda, não dá pra viver sem paixão. Pelo menos até agora.
- Aí a questão de viver separado pra mim é só o fato de que os defeitos vão demorar um pouco mais pra aparecer, pra incomodar.
- Cara... esse revival que tive foi ótimo. Porque realmente, eu percebi como é bom morar em casas diferentes.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Migalhas
Até masoquismo tem limites. Mas aqui é tudo mais cruel, mais explícito. O mundo moderno vive deixando migalhas para as nossas ilusões, masoquistas, persistentes. Me pergunto por que as pessoas são tão diferentes. Não compreendo os que não amam, os que não sofrem, os que não se apaixonam e desapaixonam na velocidade da luz, os que não são masoquistas como eu. Que se isolam atrás de uma casca e quando a luz bate diretamente nela, vislumbram apenas sombras e continuam impossibilitados de viver o presente, tendo em mente apenas pálidas ilusões do passado ou os sonhos do futuro.
Mas eu muitas vezes os invejo, pois mais cruéis são os sonhos que estão sempre tão perto e tão longe. Palpáveis, mas inatingíveis. Que te tocam, te beijam, mas não sonham contigo. Exceto nos teus sonhos, onde cada migalha representa uma esperança. Mas ao amanhecer os pássaros já passaram e perdes o caminho de volta e então, na procura de um abrigo, machucas os pés nas pedras e o rosto nos espinhos das árvores.
No fim dessa jornada retornas ao teu casulo, que não é tão duro quanto a casca dos outros, mas serve para vislumbrares também algumas sombras enquanto as chagas que acumulaste cicatrizam e te preparas para mais uma vez sair em busca de migalhas ao entardecer.
Mas eu muitas vezes os invejo, pois mais cruéis são os sonhos que estão sempre tão perto e tão longe. Palpáveis, mas inatingíveis. Que te tocam, te beijam, mas não sonham contigo. Exceto nos teus sonhos, onde cada migalha representa uma esperança. Mas ao amanhecer os pássaros já passaram e perdes o caminho de volta e então, na procura de um abrigo, machucas os pés nas pedras e o rosto nos espinhos das árvores.
No fim dessa jornada retornas ao teu casulo, que não é tão duro quanto a casca dos outros, mas serve para vislumbrares também algumas sombras enquanto as chagas que acumulaste cicatrizam e te preparas para mais uma vez sair em busca de migalhas ao entardecer.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Classificados
Vendo ou troco coração por fígado ou pulmão. Interessados tratar com Dona Baratinha, que cansou-se da desilusão.
Untitled
It is still quite clear in my mind the times when I had near me the ones that were enough. I didn’t realize that after that year, my life would never be the same. Okay, trough our lifetime we have a lot of changes, but this was the biggest I had so far. School years were over and in a moment I saw myself living the same mediocre life of always, while there were no more childhood friends or even the ones to cherish my world.
Sad was the first literature class I had this year. The same teacher I had last year and in my eleven’s, entered the room and I felt completely nostalgic. He was the same, and it was enough to remind me that I had failed. Saturday night, here comes my remainder childhood friend. Let me guess: I’m the first one? Of course you were, you always are… Where’s the vodka? Take the ice and the glasses. Sure, let me put some music. She’s no longer here.
Oh holy night that brought them back for such a short time and reminded me that I can’t live so far away from them; oh profane world that made such an evil separation. Where will I find those happy days? Then the three late ones arrived. Hugs, kisses and strident little screams for the meeting time. So we came inside to listen to the same old soundtrack and have the same behaviour. And it hasn’t changed, after all – thank God.
I can’t remember if I considered myself a happy person in those days… We rarely do. But I was glad to know that I had with me irreplaceable friends. Unfortunately, it has become a problem – now that I really need to substitute them for people who live near me. She took her brother’s digital camera and it was such a party! We forgot everything and had fun, took pictures, danced – as usual – took pictures, talked, took pictures, drank, took pictures and meanwhile, I was looking for something nice to wear.
Fortunately I don’t do this anymore, but we have this bad habit of complaining about this city. If it isn’t because it’s small, it’s because of the weather or just because we have few places to go (and one more time I thank God for that). We make our parties, and one of my best was my eighteen year old party: we did everything we were used to, but with more food, more drinks and a little more people in the house, but they didn’t matter. At that time, two of them weren’t talking to each other, and for my happiness, they were the first ones to come. The bell rang and the two other ones came with their Happiness Kit. It surely wasn’t the most expensive present I’ve ever won, but it was one of those I most liked. In fact, I’m using a part of it right now.
Our last hope is technology. We still can talk to each other every week, see each other trough pictures, but that’s all. Another party, just in three months. I know it isn’t that long, but as long as I don’t find something to trick me here, every week will be too long. I don’t know what I’m going to do; all I know is that I have to study. To live there or here, I need to go to college and need to find my path again so that I can meet them again, no matter where or when.
The radio was on while I had been waiting for my drink and a pop music was playing. It reminded me of one of those days where we used to take pictures and drink and dance and talk and laugh while I was learning how to do a nice make-up.
Sad was the first literature class I had this year. The same teacher I had last year and in my eleven’s, entered the room and I felt completely nostalgic. He was the same, and it was enough to remind me that I had failed. Saturday night, here comes my remainder childhood friend. Let me guess: I’m the first one? Of course you were, you always are… Where’s the vodka? Take the ice and the glasses. Sure, let me put some music. She’s no longer here.
Oh holy night that brought them back for such a short time and reminded me that I can’t live so far away from them; oh profane world that made such an evil separation. Where will I find those happy days? Then the three late ones arrived. Hugs, kisses and strident little screams for the meeting time. So we came inside to listen to the same old soundtrack and have the same behaviour. And it hasn’t changed, after all – thank God.
I can’t remember if I considered myself a happy person in those days… We rarely do. But I was glad to know that I had with me irreplaceable friends. Unfortunately, it has become a problem – now that I really need to substitute them for people who live near me. She took her brother’s digital camera and it was such a party! We forgot everything and had fun, took pictures, danced – as usual – took pictures, talked, took pictures, drank, took pictures and meanwhile, I was looking for something nice to wear.
Fortunately I don’t do this anymore, but we have this bad habit of complaining about this city. If it isn’t because it’s small, it’s because of the weather or just because we have few places to go (and one more time I thank God for that). We make our parties, and one of my best was my eighteen year old party: we did everything we were used to, but with more food, more drinks and a little more people in the house, but they didn’t matter. At that time, two of them weren’t talking to each other, and for my happiness, they were the first ones to come. The bell rang and the two other ones came with their Happiness Kit. It surely wasn’t the most expensive present I’ve ever won, but it was one of those I most liked. In fact, I’m using a part of it right now.
Our last hope is technology. We still can talk to each other every week, see each other trough pictures, but that’s all. Another party, just in three months. I know it isn’t that long, but as long as I don’t find something to trick me here, every week will be too long. I don’t know what I’m going to do; all I know is that I have to study. To live there or here, I need to go to college and need to find my path again so that I can meet them again, no matter where or when.
The radio was on while I had been waiting for my drink and a pop music was playing. It reminded me of one of those days where we used to take pictures and drink and dance and talk and laugh while I was learning how to do a nice make-up.
Metalinguagem
O barulho das chaves me irritou por todo o caminho. Apressei o passo até o portão e as retirei da bolsa. A continuação é óbvia, abri o portão, ultrapassei o jardim, o quintal e abri a porta dos fundos. Entrei na casa escura, sem sentir a necessidade de acender as luzes; tateei um pouco até o caminho do sofá e nele joguei meu corpo. Fechei os olhos e ela veio até mim, meio confusa, cambaleante e insegura. Chamei-a pelos nomes errados e obtive resultados pouco confortantes. Resmunguei palavras de irritação e ela foi embora ainda mais discretamente que chegou.
À noite deitei-me em minha cama e no espaço de tempo entre a tentativa e o sonho pude sentir uma nova aproximação. Percebi sua preferência pela amiga escura, e tímida como ela. Suas ações já não eram tão discretas, e ainda que por um curto tempo e com resultados do mesmo tamanho, apelidei-os de satisfatórios (a verdade é que eu havia adorado).
Agora clamo pela presença dela, mas mostra-se tímida mais uma vez. Mais uma vez reclamo dos resultados insatisfatórios e esqueço que mesmo escondida ela ainda toca meus cabelos. Ouço lamentações sussurradas se afastando e sabendo que serei incapaz de continuar, deito o lápis. Aguardo ansiosa pela chegada da noite, para saber se mais uma vez ela virá ditar suas canções de ninar aos meus ouvidos.
À noite deitei-me em minha cama e no espaço de tempo entre a tentativa e o sonho pude sentir uma nova aproximação. Percebi sua preferência pela amiga escura, e tímida como ela. Suas ações já não eram tão discretas, e ainda que por um curto tempo e com resultados do mesmo tamanho, apelidei-os de satisfatórios (a verdade é que eu havia adorado).
Agora clamo pela presença dela, mas mostra-se tímida mais uma vez. Mais uma vez reclamo dos resultados insatisfatórios e esqueço que mesmo escondida ela ainda toca meus cabelos. Ouço lamentações sussurradas se afastando e sabendo que serei incapaz de continuar, deito o lápis. Aguardo ansiosa pela chegada da noite, para saber se mais uma vez ela virá ditar suas canções de ninar aos meus ouvidos.
terça-feira, 2 de junho de 2009
BASEADO EM FATOS REAIS: Sinceridade
- Cara, eu acho que tô ficando cada dia mais burra...
- Eu também acho... Não! Eu também acho que eu estou ficando mais burra.
- Ah tá...
- Eu também acho... Não! Eu também acho que eu estou ficando mais burra.
- Ah tá...
segunda-feira, 1 de junho de 2009
A Rebimboca da Parafuseta
Uma mulher chega em seu carro na oficina.
- Boa tarde.
- Boa tarde - responde o mecânico, vindo na direção dela.
- O meu carro tá fazendo um barulho estranho, o senhor pode dar uma olhada?
- Claro - responde o mecânico abrindo o capô do carro.
Enquanto ele está olhando o motor um barulho enorme é ouvido. A mulher, que estava olhando para a rua, se vira de súbito e pergunta assustada:
- Nossa senhora, o que foi isso?
- Foi só a Rebimboca da Parafuseta.
- O quê?
- A Rebimboca da Parafuseta.
- Meu senhor, você tá me tirando por alguma idiota?
- Não senhora, por que isso?
- Não é porque eu sou mulher que você vai me enrolar não, tá? - ela fecha o capô bruscamente e entra no carro - Rebimboca da parafuseta, essa é boa! - e arranca para fora da oficina.
O mecânico a vê ir embora intrigado.
- Que mulher doida.
Então ele olha para baixo e diz:
- Tá vendo, Rebimboca? Me fez perder uma cliente!
Nesse instante uma cadelinha vira-lata se encolhe ao lado de um monte de calotas espalhadas no chão.
- Boa tarde.
- Boa tarde - responde o mecânico, vindo na direção dela.
- O meu carro tá fazendo um barulho estranho, o senhor pode dar uma olhada?
- Claro - responde o mecânico abrindo o capô do carro.
Enquanto ele está olhando o motor um barulho enorme é ouvido. A mulher, que estava olhando para a rua, se vira de súbito e pergunta assustada:
- Nossa senhora, o que foi isso?
- Foi só a Rebimboca da Parafuseta.
- O quê?
- A Rebimboca da Parafuseta.
- Meu senhor, você tá me tirando por alguma idiota?
- Não senhora, por que isso?
- Não é porque eu sou mulher que você vai me enrolar não, tá? - ela fecha o capô bruscamente e entra no carro - Rebimboca da parafuseta, essa é boa! - e arranca para fora da oficina.
O mecânico a vê ir embora intrigado.
- Que mulher doida.
Então ele olha para baixo e diz:
- Tá vendo, Rebimboca? Me fez perder uma cliente!
Nesse instante uma cadelinha vira-lata se encolhe ao lado de um monte de calotas espalhadas no chão.
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