- Pai, eu quero fazer tênis.
- Quer fazer o quê, menina?
- Tênis.
- Aaaah, tênis!
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
domingo, 11 de dezembro de 2005
13/06/05
Os dias seguiam-se normalmente.
Eu estava na casa de uma amiga, coisa cada vez mais rara nos últimos tempos, divertindo-me, quando recebi a ligação: minha mãe me dizia que ela estava morrendo. Ou quase isso. Na verdade só falou para eu comprar remédio quando voltasse para casa. Eu não me dei conta do quanto o organismo dela era frágil e nem me preocupei muito. Pensei: "quando eu estiver voltando compro". Fiquei um pouco preocupada, mas continuei lá.
Pouco depois minha mãe ligava novamente dizendo "deixa pra lá, agora não adianta mais". Foi aí que eu engoli um coco com um elefante pesando na minha cabeça. Eu andava triste com o fim do meu namoro, mas a morte dela foi o que me permitiu liberar toda a solidão e impotência que me consumiam. Eu me sentia cada vez mais incapaz de cuidar do que eu gostava.
Quando cheguei em casa ela estava deitada no chão do meu quarto, dura e morta, como um animal empalhado. tranquei-me no quarto e pela primeira vez depois de muito tempo, eu chorei de verdade. Sem medo de quem poderia me ouvir, sem apreensão do que poderiam pensar de mim. Chorei pela morte dela, pela partida dele, pela solidão que eu sentia. Chorei por todos os choros que prendi nos últimos tempos, por todas as mágoas que não liberei por não afogá-las o suficiente.
O pior foi que nessa situação eu sabia que só encontraria conforto nos braços que abandonei. Ela também era filha dele, só ele poderia me entender naquele momento.
Depois a irmã dela fugiu de casa.
Apesar de tê-las amado, decidi que não teria mais porquinhas-da-índia.
Eu estava na casa de uma amiga, coisa cada vez mais rara nos últimos tempos, divertindo-me, quando recebi a ligação: minha mãe me dizia que ela estava morrendo. Ou quase isso. Na verdade só falou para eu comprar remédio quando voltasse para casa. Eu não me dei conta do quanto o organismo dela era frágil e nem me preocupei muito. Pensei: "quando eu estiver voltando compro". Fiquei um pouco preocupada, mas continuei lá.
Pouco depois minha mãe ligava novamente dizendo "deixa pra lá, agora não adianta mais". Foi aí que eu engoli um coco com um elefante pesando na minha cabeça. Eu andava triste com o fim do meu namoro, mas a morte dela foi o que me permitiu liberar toda a solidão e impotência que me consumiam. Eu me sentia cada vez mais incapaz de cuidar do que eu gostava.
Quando cheguei em casa ela estava deitada no chão do meu quarto, dura e morta, como um animal empalhado. tranquei-me no quarto e pela primeira vez depois de muito tempo, eu chorei de verdade. Sem medo de quem poderia me ouvir, sem apreensão do que poderiam pensar de mim. Chorei pela morte dela, pela partida dele, pela solidão que eu sentia. Chorei por todos os choros que prendi nos últimos tempos, por todas as mágoas que não liberei por não afogá-las o suficiente.
O pior foi que nessa situação eu sabia que só encontraria conforto nos braços que abandonei. Ela também era filha dele, só ele poderia me entender naquele momento.
Depois a irmã dela fugiu de casa.
Apesar de tê-las amado, decidi que não teria mais porquinhas-da-índia.
sábado, 3 de dezembro de 2005
sábado, 26 de novembro de 2005
Polishop
- Mamãe?
- Sim, querida?
- Eu já sei o que vou querer no dia das crianças.
- Ahn, é mesmo? Que bom... E... O que você vai querer, meu anjo?
- Eu quero um Invisible Bra.
- Um sutiã? Mas pra quê?
- E você ainda pergunta?
- Mas meu amor, seus peitos ainda nem cresceram!
- Ai mãe, o que são detalhes?
- Esqueça, Maria Luiza, eu não vou te dar esse sutiã.
- Tá bom! Então eu vou querer uma Flat Hose.
- Sim, querida?
- Eu já sei o que vou querer no dia das crianças.
- Ahn, é mesmo? Que bom... E... O que você vai querer, meu anjo?
- Eu quero um Invisible Bra.
- Um sutiã? Mas pra quê?
- E você ainda pergunta?
- Mas meu amor, seus peitos ainda nem cresceram!
- Ai mãe, o que são detalhes?
- Esqueça, Maria Luiza, eu não vou te dar esse sutiã.
- Tá bom! Então eu vou querer uma Flat Hose.
segunda-feira, 21 de novembro de 2005
Eu gostaria de lhes apresentar a minha melhor amiga
1999
- Se você torcer pro vasco eu te arranjo uma foto dos Hanson pelados - disse um garoto que morava no prédio da minha amiga.
- Combinado! - eu falei empolgada.
- Ela já torce pro Vasco - interrompeu a minha melhor amiga.
- Se você torcer pro vasco eu te arranjo uma foto dos Hanson pelados - disse um garoto que morava no prédio da minha amiga.
- Combinado! - eu falei empolgada.
- Ela já torce pro Vasco - interrompeu a minha melhor amiga.
sábado, 19 de novembro de 2005
Golfinhos
- Está assistindo O Guia do Mochileiro das Galáxias?
- Sim.
- E aí, tá gostando?
- Mais ou menos.
- Por quê?
- Os golfinhos cantam...
- Sim.
- E aí, tá gostando?
- Mais ou menos.
- Por quê?
- Os golfinhos cantam...
sábado, 12 de novembro de 2005
A pata da caverna
Eu estava sentada na mesa da cantina quando percebi a inquietação de um cara da mesma mesa. Cheguei perto dele e perguntei qual era o problema e ele me falou que era seu irmão. Provavelmente guardava seus anseios há muito tempo, pois nem chegou a hesitar em me falar todos os seus problemas em relação ao irmão dele.
Aí começou uma loucura sem fim. O cara não podia ir atrás do irmão e implorou que eu fosse no lugar dele. O que eu podia dizer? Ele estava desesperado. Achei que estivesse louco também, mas aí ele me levou até um lugar do colégio que tinha um buraco no chão que dava pra uma espécie de caverna subterrânea. Eu me senti o próprio Harry Potter. Mas ele pelo menos tinha poderes mágicos e uma amiga CDF. O cara nem pra me acompanhar, disse que eu tinha que fazer tudo sozinha. A única coisa que eu sabia do irmão da criatura era o nome dele. Ia sair pela caverna subterrânea da escola (que loucura, eu ainda não consigo acreditar no que digo!) perguntando o nome de tudo que encontrasse por lá. O que respondesse devia ser o irmão do carinha.
A primeira coisa que encontrei foi logo um velho. Eu estava com uma sacolinha cheia de comprimidos que não sabia ao certo pra que serviam, mas serviriam para o irmão do carinha e quando perguntei ao velho se ele podia me ajudar, me disse que já tinha feito muito por mim. Todos daquela escola eram loucos, ou então eu estava numa pegadinha.
O velho me disse que tinha feito a Julia Roberts pra mim. Eu fiquei olhando pra ele. Nem parecia ser um louco. Mas só podia. Como assim pra mim? Eu não era lésbica e tampouco fã da Julia Roberts. A existência ou não dela não fazia a menor diferença para mim. Eu nem morria de amores pelos filmes que ela tinha feito. Além dela, ele também me disse que tinha feito mais dois homens que eu não conhecia. Um se não me engano era um cientista que tinha criado uma espécie de carro aquático para o exército, ou qualquer coisa do tipo. O outro também era um cientista. Os dois homens criados para mim nasceram pelo menos uns quarenta anos antes de mim. Aquele velho só podia ser maluco. Segui em frente atrás do irmão perdido.
Fui informada de que o irmão do carinha, o Daniel tinha uns probleminhas. Mas acho que quem tinha problemas mesmo era o carinha e não existia Daniel nenhum. Quer nome mais óbvio? É tipo quando um cara vem perguntar o seu nome e você não quer responder e diz “Camila”. É universal. Mas mesmo assim, fui atrás do Daniel. Mesmo me sentindo uma pata. Eu sempre fui uma pata. E de qualquer forma, aquela caverna subterrânea era mesmo muito esquisita.
Aí começou uma loucura sem fim. O cara não podia ir atrás do irmão e implorou que eu fosse no lugar dele. O que eu podia dizer? Ele estava desesperado. Achei que estivesse louco também, mas aí ele me levou até um lugar do colégio que tinha um buraco no chão que dava pra uma espécie de caverna subterrânea. Eu me senti o próprio Harry Potter. Mas ele pelo menos tinha poderes mágicos e uma amiga CDF. O cara nem pra me acompanhar, disse que eu tinha que fazer tudo sozinha. A única coisa que eu sabia do irmão da criatura era o nome dele. Ia sair pela caverna subterrânea da escola (que loucura, eu ainda não consigo acreditar no que digo!) perguntando o nome de tudo que encontrasse por lá. O que respondesse devia ser o irmão do carinha.
A primeira coisa que encontrei foi logo um velho. Eu estava com uma sacolinha cheia de comprimidos que não sabia ao certo pra que serviam, mas serviriam para o irmão do carinha e quando perguntei ao velho se ele podia me ajudar, me disse que já tinha feito muito por mim. Todos daquela escola eram loucos, ou então eu estava numa pegadinha.
O velho me disse que tinha feito a Julia Roberts pra mim. Eu fiquei olhando pra ele. Nem parecia ser um louco. Mas só podia. Como assim pra mim? Eu não era lésbica e tampouco fã da Julia Roberts. A existência ou não dela não fazia a menor diferença para mim. Eu nem morria de amores pelos filmes que ela tinha feito. Além dela, ele também me disse que tinha feito mais dois homens que eu não conhecia. Um se não me engano era um cientista que tinha criado uma espécie de carro aquático para o exército, ou qualquer coisa do tipo. O outro também era um cientista. Os dois homens criados para mim nasceram pelo menos uns quarenta anos antes de mim. Aquele velho só podia ser maluco. Segui em frente atrás do irmão perdido.
Fui informada de que o irmão do carinha, o Daniel tinha uns probleminhas. Mas acho que quem tinha problemas mesmo era o carinha e não existia Daniel nenhum. Quer nome mais óbvio? É tipo quando um cara vem perguntar o seu nome e você não quer responder e diz “Camila”. É universal. Mas mesmo assim, fui atrás do Daniel. Mesmo me sentindo uma pata. Eu sempre fui uma pata. E de qualquer forma, aquela caverna subterrânea era mesmo muito esquisita.
TBC(?)
segunda-feira, 7 de novembro de 2005
(In)correspondência
Cara correspondente,
Escrevo-lhe esta carta com o intuito de confessar o meu amor por você. Passo os dias observando as suas janelas e vendo o movimento das suas portas. Meu coração enche-se de felicidade quando tenho a sorte de vê-la saindo de casa ou chegando na mesma.
Meus únicos momentos de desilusão são quando vejo que és visitada por diversos homens. Se me deres a oportunidade, lutarei contra todos que se opuserem à sua pureza.
Atenciosamente,
Seu Admirador.
Caro admirador,
Fiquei surpresa e muitíssimo lisonjeada ao receber a sua carta.
Desde o final do meu último namoro eu vinha me sentindo muito só, e meus amigos foram os que me ajudaram a sair da fossa. Você mesmo, provavelmente não teria me olhado no estado deplorável no qual eu me encontrava antes de receber a força deles.
Então você se pergunta por que eu não pedi ajuda às minhas amigas. Simples: todas elas se encontram comprometidas, e acabamos nos afastando sem percebermos. Portanto, peço-lhe que não veja minhas amizades com eles com maus olhos, pois tratam-se todos de amigos do peito.
Querida Admirada,
É o fato de serem seus amigos do peito que me preocupa. Amigos do peito e de outras partes também.
Se me desses a honra de namorar-te, não precisarias da visitação de outros homens.
Sempre seu.
Sinto decepcioná-lo, mas eu jamais abriria mão das minhas amizades por causa de um namorado. Tenho os meus motivos para não acreditar na eternidade dos relacionamentos e mais ainda para acreditar na eteriedade dos namoros.
Percebo agora o quanto os homens devem tê-la machucado mas peço-lhe que confie em mim, e a farei feliz por toda a eternidade.
Por favor não me escreva mais. A última coisa que preciso é de um psicólogo amador. Espero que não responda essa carta nem escreva outras. Isso é um adeus.
Como posso deixá-la em paz se estou completamente apaixonado?
Simples. Não olhe mais as minhas janelas e esqueça as minhas portas. Não me escreva mais. Esta é a minha última carta endereçada a você.
Suplico-lhe que não me odeie! Eu só quero fazê-la feliz. Por favor me responda. Um beijo.
O que eu fiz para irritá-la? Fui eu descortez e indelicado em algum momento? E quem é aquele homem que tem ido à sua casa todos os dias?
Por que ele só sai da sua casa de madrugada? É mais um dos seus amigos? Sua puta! Eu vou me vingar.
Eu sei que já se passaram muitos anos e que você se mudou dessa casa logo depois que casou. Eu só queria dizer que ainda te amo.
Escrevo-lhe esta carta com o intuito de confessar o meu amor por você. Passo os dias observando as suas janelas e vendo o movimento das suas portas. Meu coração enche-se de felicidade quando tenho a sorte de vê-la saindo de casa ou chegando na mesma.
Meus únicos momentos de desilusão são quando vejo que és visitada por diversos homens. Se me deres a oportunidade, lutarei contra todos que se opuserem à sua pureza.
Atenciosamente,
Seu Admirador.
Caro admirador,
Fiquei surpresa e muitíssimo lisonjeada ao receber a sua carta.
Desde o final do meu último namoro eu vinha me sentindo muito só, e meus amigos foram os que me ajudaram a sair da fossa. Você mesmo, provavelmente não teria me olhado no estado deplorável no qual eu me encontrava antes de receber a força deles.
Então você se pergunta por que eu não pedi ajuda às minhas amigas. Simples: todas elas se encontram comprometidas, e acabamos nos afastando sem percebermos. Portanto, peço-lhe que não veja minhas amizades com eles com maus olhos, pois tratam-se todos de amigos do peito.
Querida Admirada,
É o fato de serem seus amigos do peito que me preocupa. Amigos do peito e de outras partes também.
Se me desses a honra de namorar-te, não precisarias da visitação de outros homens.
Sempre seu.
Sinto decepcioná-lo, mas eu jamais abriria mão das minhas amizades por causa de um namorado. Tenho os meus motivos para não acreditar na eternidade dos relacionamentos e mais ainda para acreditar na eteriedade dos namoros.
Percebo agora o quanto os homens devem tê-la machucado mas peço-lhe que confie em mim, e a farei feliz por toda a eternidade.
Por favor não me escreva mais. A última coisa que preciso é de um psicólogo amador. Espero que não responda essa carta nem escreva outras. Isso é um adeus.
Como posso deixá-la em paz se estou completamente apaixonado?
Simples. Não olhe mais as minhas janelas e esqueça as minhas portas. Não me escreva mais. Esta é a minha última carta endereçada a você.
Suplico-lhe que não me odeie! Eu só quero fazê-la feliz. Por favor me responda. Um beijo.
O que eu fiz para irritá-la? Fui eu descortez e indelicado em algum momento? E quem é aquele homem que tem ido à sua casa todos os dias?
Por que ele só sai da sua casa de madrugada? É mais um dos seus amigos? Sua puta! Eu vou me vingar.
Eu sei que já se passaram muitos anos e que você se mudou dessa casa logo depois que casou. Eu só queria dizer que ainda te amo.
sábado, 5 de novembro de 2005
Fique tício: bebe negão
- É assim que as coisas funcionam. No mundo, ou você rejeita ou é rejeitado.
- Ora, as coisas não são tão simples assim.
- Simples?
- É. Se for apenas esse o problema você só precisa rejeitar quando estiver pressentindo que vai ser rejeitada.
- Não adianta. Você pode até dizer que acabou, mas a rejeitada vai continuar sendo você.
- Eu acho é que você está sendo muito pessimista.
- De jeito nenhum. Estou sendo o mais otimista que posso. Ou pelo menos realista. Eu sei que sou eu a rejeitada dessa vez. Mas estou conformada com isso. Não foi a primeira vez e definitivamente não será a última. Mas por mais que os relacionamentos nos quais eu rejeitei tenham sido mais superficiais, acho que prefiro ser a “rejeitante”.
- Claro, você não é o peso.
- Exato, eu seria quem perderia o peso.
- Por falar em perder peso, estou precisando me exercitar.
- Vá pra academia. Fazer só sexo não adianta. Principalmente se você não faz mais, hehehe.
- Como você sabe?
- Eu estava brincando... Isso significa que você também é a rejeitada?
- Acho que quanto mais velhas ficamos maiores são as chances de sermos as rejeitadas, não é mesmo? Isso não acontecia quando éramos mais novas. Éramos nós que ficávamos fartas dos nossos namorados e acabávamos o namoro. Por que será isso?
- Não sei. Só sei que é um saco.
- Talvez homens gostem mesmo de ninfetas inexperientes.
- E você tinha alguma dúvida quanto a isso?
- Só você pra me fazer rir da minha própria desgraça desse jeito, hehehe.
- Ora, amiga é pra essas coisas. E de qualquer forma, ainda tem muito homem no mundo.
- Heterossexual?
- Bom...
- Eu já te falei do Rodolfo?
- Quem?
- Um rapaz dois anos mais novo por quem eu me interessei há uns três anos.
- Claro que eu não lembro.
- Bom, de qualquer forma, descobri essa semana que ele é gay.
- E daí?
- E daí? Daí que mesmo quando eu não sei que eles são, acabo me interessando por gays!
- É um karma.
- Karma o caralho. Aposto que é macumba.
- Ah, essa aposta é minha! Já marquei até hora em mãe-de-santo.
- Mãe-de-santo? Isso existe?
- Espero que exista. Com o preço que ela cobra dava pra comprar uma grade de cerveja.
- Aposto que o efeito seria o mesmo.
- Cerveja para curar mal-olhado?
- Vodca para trazer de volta a pessoa amada!
- Cachaça para tirar maldição!
- Vamos beber.
- “Eu vou beber pra esquecer meus pobremaaaaaaa!”
- Te amo.
- Também te amo, querida.
- Pena que você não tem um pinto.
- Ora, as coisas não são tão simples assim.
- Simples?
- É. Se for apenas esse o problema você só precisa rejeitar quando estiver pressentindo que vai ser rejeitada.
- Não adianta. Você pode até dizer que acabou, mas a rejeitada vai continuar sendo você.
- Eu acho é que você está sendo muito pessimista.
- De jeito nenhum. Estou sendo o mais otimista que posso. Ou pelo menos realista. Eu sei que sou eu a rejeitada dessa vez. Mas estou conformada com isso. Não foi a primeira vez e definitivamente não será a última. Mas por mais que os relacionamentos nos quais eu rejeitei tenham sido mais superficiais, acho que prefiro ser a “rejeitante”.
- Claro, você não é o peso.
- Exato, eu seria quem perderia o peso.
- Por falar em perder peso, estou precisando me exercitar.
- Vá pra academia. Fazer só sexo não adianta. Principalmente se você não faz mais, hehehe.
- Como você sabe?
- Eu estava brincando... Isso significa que você também é a rejeitada?
- Acho que quanto mais velhas ficamos maiores são as chances de sermos as rejeitadas, não é mesmo? Isso não acontecia quando éramos mais novas. Éramos nós que ficávamos fartas dos nossos namorados e acabávamos o namoro. Por que será isso?
- Não sei. Só sei que é um saco.
- Talvez homens gostem mesmo de ninfetas inexperientes.
- E você tinha alguma dúvida quanto a isso?
- Só você pra me fazer rir da minha própria desgraça desse jeito, hehehe.
- Ora, amiga é pra essas coisas. E de qualquer forma, ainda tem muito homem no mundo.
- Heterossexual?
- Bom...
- Eu já te falei do Rodolfo?
- Quem?
- Um rapaz dois anos mais novo por quem eu me interessei há uns três anos.
- Claro que eu não lembro.
- Bom, de qualquer forma, descobri essa semana que ele é gay.
- E daí?
- E daí? Daí que mesmo quando eu não sei que eles são, acabo me interessando por gays!
- É um karma.
- Karma o caralho. Aposto que é macumba.
- Ah, essa aposta é minha! Já marquei até hora em mãe-de-santo.
- Mãe-de-santo? Isso existe?
- Espero que exista. Com o preço que ela cobra dava pra comprar uma grade de cerveja.
- Aposto que o efeito seria o mesmo.
- Cerveja para curar mal-olhado?
- Vodca para trazer de volta a pessoa amada!
- Cachaça para tirar maldição!
- Vamos beber.
- “Eu vou beber pra esquecer meus pobremaaaaaaa!”
- Te amo.
- Também te amo, querida.
- Pena que você não tem um pinto.
terça-feira, 1 de novembro de 2005
Triângulo
Eu estava em casa, fazendo a minha sobrancelha, quando a campainha tocou. Deixei a pinça de lado e três mulheres com cara de mafiosas estavam na porta. Sem dizer uma palavra sequer, fiquei pensando que elas pareciam saídas de um filme sobre a máfia feminina. Nem sei se isso existe, mas era isso que elas pareciam. A mafiosa do meio se movimentou até o meu sofá e se sentou com a maior naturalidade do mundo. Olhei novamente para as outras duas, mas elas permaneciam paradas na porta. Menos mal, pensei. Duas bundas sujas a menos no meu sofá de veludo azul. Tentando se fazer ainda mais folgada, a mafiosa chefe ligou o meu aparelho de som e Bobby Vinton começou a cantar Blue Velvet.
A mafiosa-chefe era dessas mulheres que querem ao mesmo tempo serem fortes e femininas. Ela tinha uma pele morena reforçada por um bronzeamento natural intensivo e um cabelo duro estirado e pintado de loiro. Vestia uma calça jean com lycra, cintura baixa e um salto alto grosso, daqueles que sua vó usaria no seu casamento. Pra completar o quadro, vestia uma daquelas blusas assimétricas, deixando o braço direito descoberto. As companheiras dela eram assumidamente masculinas e usavam ambas os cabelos presos, calças jeans sem lycra e camisetas de algodão de um número menor que os delas.
Confortável com a bunda no meu sofá, a mafiosa-chefe começou a falar:
- Então, Thaïs, surpresa em me ver?
- Quem é você? - perguntei com a maior naturalidade do mundo. Pude ver a surpresa dela. Minha resposta tinha sido inesperada. Hohoho, otária. Ciente do seu deslize ela tentou recuperar seu ar de superioridade.
- Não precisa se fazer de desentendida, mona.
Mona?
- Eu sei que você se lembra de mim. Jamais esqueceria aquela que te ameaçou de morte.
- Morte? Você não está me confundindo com outra pessoa?
- Não se faça de idiota, eu não tenho tempo para as suas gracinhas. - ela me alertou já irritada.
- O que você veio fazer aqui? Me matar?
- Ainda não. Eu vim só te dar um aviso. Se afaste do meu homem, ou da próxima vez eu não serei tão educada.
- Educada? - seus olhos se encheram de fúria e emendei amedrontada - E será que você poderia me dizer ao menos quem é o seu homem?
- Você me irrita, garota!
- Me diga só o nome dele.
- Será que você é tão puta que nem sabe os nomes dos homens com quem dorme?
- Eu sei os nomes de todos, só não faço idéia qual deles seria o "seu". Até onde eu sei, nunca dormi com um homem que estivesse comprometido com outra.
A mafiosa se calou. Olhei para a porta e as duas outras se entreolharam. Por um momento eu pensei que fosse morrer.
- Nós ainda não estávamos comprometidos. Mas ia rolar. Teria rolado se você não tivesse aparecido.
- Olha, eu nem sei de quem você está falando ainda, mas foi uma casualidade. Não era pra ter acontecido entre vocês, é só você partir para outra.
- Ele não partiu para outra! Você partiu o coração dele e eu tentei consolá-lo inúmeras vezes, mas ele não queria saber de mim.
- Olha, eu sinto muito...
- É claro que sente! Todos sentem! Sentem tanto quanto eu!
Ela estava descontrolada.
- Bom, de qualquer forma, pelo que você está dizendo nós nem estamos mais juntos, então o que veio fazer aqui?
- Eu vim te avisar para ficar longe dele. Finalmente estou conseguindo me reaproximar dele e não quero que você estrague tudo novamente, "capitchi"?
- Sim, capisco.
- Você já sabe de quem eu estou falando?
- Acho que sei...
- Ótimo. Então espero que esse seja o nosso adeus.
A mafiosa se levantou do meu sofá e desligou o som, interrompendo Billie Holiday no meio de The man I love, e se juntou novamente às suas guarda-costas na porta. Virou-se mais uma vez para mim e apontou em minha direção, fazendo o sinal de uma arma. Fingiu atirar e piscou o olho. Depois deu-me as costas e foi embora, seguida pelas guarda-costas brutamontes.
Após a saída dela fui até a porta e a tranquei o máximo possível. Fui despindo as minhas roupas até chegar no meu quarto e ser puxada para a cama.
- Ela já foi?
- Já. E me ameaçou de novo.
- Me desculpa. Eu só era simpático com ela porque tinha medo das duas brutamontes. Afinal, eu não bato em mulher.
- Sim, claro.
- Escuta, você quer casar comigo?
- Não.
- Por que não? Não precisa ter medo dela, ela só faz falar, não é do tipo que se arrisca a ter a ficha suja.
- Não é isso.
- Então o que é?
- É que... - hesitei.
- Pode falar, não precisa ter medo.
- Eu não te amo.
A mafiosa-chefe era dessas mulheres que querem ao mesmo tempo serem fortes e femininas. Ela tinha uma pele morena reforçada por um bronzeamento natural intensivo e um cabelo duro estirado e pintado de loiro. Vestia uma calça jean com lycra, cintura baixa e um salto alto grosso, daqueles que sua vó usaria no seu casamento. Pra completar o quadro, vestia uma daquelas blusas assimétricas, deixando o braço direito descoberto. As companheiras dela eram assumidamente masculinas e usavam ambas os cabelos presos, calças jeans sem lycra e camisetas de algodão de um número menor que os delas.
Confortável com a bunda no meu sofá, a mafiosa-chefe começou a falar:
- Então, Thaïs, surpresa em me ver?
- Quem é você? - perguntei com a maior naturalidade do mundo. Pude ver a surpresa dela. Minha resposta tinha sido inesperada. Hohoho, otária. Ciente do seu deslize ela tentou recuperar seu ar de superioridade.
- Não precisa se fazer de desentendida, mona.
Mona?
- Eu sei que você se lembra de mim. Jamais esqueceria aquela que te ameaçou de morte.
- Morte? Você não está me confundindo com outra pessoa?
- Não se faça de idiota, eu não tenho tempo para as suas gracinhas. - ela me alertou já irritada.
- O que você veio fazer aqui? Me matar?
- Ainda não. Eu vim só te dar um aviso. Se afaste do meu homem, ou da próxima vez eu não serei tão educada.
- Educada? - seus olhos se encheram de fúria e emendei amedrontada - E será que você poderia me dizer ao menos quem é o seu homem?
- Você me irrita, garota!
- Me diga só o nome dele.
- Será que você é tão puta que nem sabe os nomes dos homens com quem dorme?
- Eu sei os nomes de todos, só não faço idéia qual deles seria o "seu". Até onde eu sei, nunca dormi com um homem que estivesse comprometido com outra.
A mafiosa se calou. Olhei para a porta e as duas outras se entreolharam. Por um momento eu pensei que fosse morrer.
- Nós ainda não estávamos comprometidos. Mas ia rolar. Teria rolado se você não tivesse aparecido.
- Olha, eu nem sei de quem você está falando ainda, mas foi uma casualidade. Não era pra ter acontecido entre vocês, é só você partir para outra.
- Ele não partiu para outra! Você partiu o coração dele e eu tentei consolá-lo inúmeras vezes, mas ele não queria saber de mim.
- Olha, eu sinto muito...
- É claro que sente! Todos sentem! Sentem tanto quanto eu!
Ela estava descontrolada.
- Bom, de qualquer forma, pelo que você está dizendo nós nem estamos mais juntos, então o que veio fazer aqui?
- Eu vim te avisar para ficar longe dele. Finalmente estou conseguindo me reaproximar dele e não quero que você estrague tudo novamente, "capitchi"?
- Sim, capisco.
- Você já sabe de quem eu estou falando?
- Acho que sei...
- Ótimo. Então espero que esse seja o nosso adeus.
A mafiosa se levantou do meu sofá e desligou o som, interrompendo Billie Holiday no meio de The man I love, e se juntou novamente às suas guarda-costas na porta. Virou-se mais uma vez para mim e apontou em minha direção, fazendo o sinal de uma arma. Fingiu atirar e piscou o olho. Depois deu-me as costas e foi embora, seguida pelas guarda-costas brutamontes.
Após a saída dela fui até a porta e a tranquei o máximo possível. Fui despindo as minhas roupas até chegar no meu quarto e ser puxada para a cama.
- Ela já foi?
- Já. E me ameaçou de novo.
- Me desculpa. Eu só era simpático com ela porque tinha medo das duas brutamontes. Afinal, eu não bato em mulher.
- Sim, claro.
- Escuta, você quer casar comigo?
- Não.
- Por que não? Não precisa ter medo dela, ela só faz falar, não é do tipo que se arrisca a ter a ficha suja.
- Não é isso.
- Então o que é?
- É que... - hesitei.
- Pode falar, não precisa ter medo.
- Eu não te amo.
quinta-feira, 27 de outubro de 2005
Gatos em pedaços
Sentada na privada lendo Sonhos de Bunker Hill, lembrei-me do sonho que tive esta noite. Quando ele (refiro-me aqui a Arturo Bandini) falou dos gatos do editor Gustave Du Mont, voltou à minha mente a imagem dos gatos mutilados na porta da minha cozinha. Eles estavam enlouquecidos de fome, e eram os gatos da universidade (a UFPB tem muitos gatos), alguns inclusive grávidos e/ou de coleira. Lembro de uma gata grávida de coleira me atacando, desesperada por comida. Será que alguém os alimenta durante a greve? No momento seguinte eles estavam mutilados no quintal da minha casa, e eu podia vê-los embaixo da porta da cozinha (a porta é dessas que abrem em cima e embaixo), um estava com o corpo remendado, quem nem o cachorro do anime Beck, mas os outros eram só pedaços. Lembro até de um que tinha um dedo enfiado no cu. De quem seria aquele dedo?
quinta-feira, 13 de outubro de 2005
O submarino voador
Eu tenho um pequeno submarino em casa. Na verdade é do meu irmão, foi ele quem o montou todo. O sonho dele era sair dentro desse submarino a toda velocidade, mas desde que tinha ficado noivo, meu irmão só queria saber da namorada dele. Ela era um porre.
Um dia eu conheci um homem. Maravilhoso, encantador, etc e tal. O homem dos meus sonhos. Eu o desejava e ele a mim. Ele veio até a minha casa e descobriu o submarino. Ficou fascinado. Lembrou-me até o Dean Moriarity. Foi até o quarto do meu irmão para pedir a autorização dele para andarmos no submarino. Foi expulso pelos gritos da talzinha. Saímos no submarino sem a autorização, mesmo.
Era um sonho. Ele parecia saber de tudo. Conhecemos tantos lugares e pessoas fantásticas...
O submarino do meu irmão também voava. Era isso que fazíamos a maior parte do tempo. Não lembro direito o motivo, mas precisávamos deixá-lo mais rápido, então voltamos pra casa. Eu, Dean, o submarino e um maluco que ele dizia ser o seu mestre, que também era terrivelmente charmoso.
Mostrei um treco de hidrogênio que meu irmão sempre quis montar no submarino mas não pôde depois que começou a namorar o monstro. Ao ouvir a nossa algazarra (Dean e seu mestre eram muito afobados) meu irmão veio correndo para o quintal. As atitudes dele pareciam as da monstrinha dele (ela na verdade era linda, mas tinha uma personalidade terrível), brigando e gritando conosco por causa do submarino. Eu disse a ele que tínhamos feito o submarino voar, e que tínhamos voltado para pôr o treco de hidrogênio que ele tinha arranjado. Depois de tanto tempo, os olhos dele começaram a brilhar novamente, e meu irmão se juntou a mim e a Dean no aperfeiçoamento do nosso submarino. A monstrinha tinha sido abandonada e só fazia resmungar pela casa, e o mestre só saía pra beber e curtir, chamando sempre todos os rapazes pra sair. Eu fui deixada de lado assim que o submarino pousou no meu quintal.
Um belo dia, cansados do trabalho, meu irmão, Dean e o mestre saíram para relaxar. Como o mestre passava o dia relaxando, voltou mais cedo.
- E aí, menina?
- Oi, mestre. De volta tão cedo? Logo você?
- É que eu não me dei tão bem quanto os rapazes.
- Como assim?
- Você sabe...
Eu entrei em pânico. Obriguei o mestre a me levar onde eles estavam, mas ele se recusava. O monstrinho também tinha ouvido, mas ela andava cada vez mais quieta, só se recolheu chorosa para o quarto do meu irmão.
O mestre também sentia uma atração por mim. Foi aí que viu a sua chance, resolveu me levar. Ele me mandava olhar pra cima o tempo todo. Até que os vi. Nem reparei na companhia do meu irmão, mas o meu Dean estava com uma negra de pernas enormes e cabelos curtos. Fiquei em estado de choque por longos minutos, até que o mestre me arrastou de volta pra casa.
Antes que eu começasse a chorar olhei pro rosto dele e me deparei com aqueles olhos dos quais eu fugia diariamente para não ceder ao desejo. Agora eu não tinha mais essa obrigação. Não precisava mais me manter fiel ao Dean. Abri a porta do submarino e o chamei para dentro. Assim que ele a fechou eu o ataquei. Pulei na sua boca como se quisesse toda sua saliva para mim, enquanto ele apertava o meu corpo como se quisesse arrancar pedaços e guardá-los para si ou comê-los.
A partir daquele dia fazíamos sexo sempre que meu irmão e Dean saíam sós. Dean via as marcas no meu corpo, mas nunca falávamos sobre elas. Claro que o mestre tinha outras mulheres quando saía só, mas isso não me dizia respeito.
- Viu só, cara? Teu mestre só sai sozinho agora.
- Vai ver ele se cansou de ouvir vocês falarem sobre esse submarino.
- Ih, minha irmãzinha tá parecendo alguém que eu conheço...
- Não me compare à sua monstrinha. Fui eu quem uniu vocês dois e fez esse maldito submarino voar, pra início de conversa.
- E aposto que agora se arrepende!
- Não me arrependo, só gostaria que vocês saíssem menos e terminassem logo essa arrumação.
Dean ficou calado o tempo todo. Nós quase não nos falávamos mais. A única coisa que estava cada vez melhor era o sexo. Talvez ele tivesse aprendido com as vadias que catava na rua. Talvez eu tivesse aprendido com o mestre. Talvez ambos. A única coisa que sei é que o sexo estava melhor do que nunca.
Um dia entrei no submarino com o mestre e ele estava gelado, cheio de pedaços de gelo. Estávamos prontos para partir. Isso que meu irmão e Dean tinham saído para comemorar. Provavelmente seria a minha última transa com o mestre, já que passaríamos a maior parte do tempo voando juntos no submarino que, devo acrescentar, não tinha cômodos.
No dia seguinte entramos eu, o mestre, a monstrinha (afinal, ela ainda era a noiva do meu irmão), meu irmão e Dean. Achei que assim que voltássemos todos ao submarino eu voltaria a ser a garota dele, mas ele continuava tão frio quanto aquela nave.
Foi uma loucura. Voávamos a uma velocidade incrível. Meu irmão e Dean tinham feito um trabalho maravilhoso. Imagino como tenha sido a comemoração deles. Nós quase passamos ilesos por uma ventania. Se a nave tivesse menos gente teríamos passado numa boa, mas cinco pessas era demais para aquela banheira. A monstrinha começou a chorar e reclamar. Tava na cara que meu irmão já não agüentava mais. Largou a menina no meio do nada, chorando. Eu quase senti simpatia por ela. Meu irmão tinha sido muito cruel. Será que Dean seria cruel assim comigo? Será que meu irmão deixaria?
O mestre passou a me tratar como uma desconhecida depois que a nave decolou. Eu estava cada vez mais triste. O único que não me ignorava naquele lugar era o meu irmão. Graças a ele eu ainda não tinha me jogado lá de cima. O mestre estava tentando se aproximar novamente de Dean, mas ele também só conversava com o meu irmão.
Depois de um tempo comecei a sentir uma fúria nos olhos do mestre. Acho que tanto tempo dentro de um lugar fechado não estava fazendo bem a ele. Sugeri ao meu irmão que descêssemos um pouco. Ele adorou a idéia, afinal, estávamos acima de um belo campo aberto. Um pouco de contato com a natureza ia fazer bem, pensei.
Então Dean pousou a nave e descemos todos. Tentei me aproximar do mestre, mas ele me repeliu como se faz a uma muriçoca. Decidi me deitar um pouco na grama. Tirei um bom cochilo. Como era bom finalmente esticar as pernas. Acho que eu também estava ficando louca depois de tanto tempo trancada naquele lugar pequeno. Acordei com Dean deitado ao meu lado, me abraçando. Fiquei tão feliz. Queria beijá-lo e abraçá-lo de volta, mas ele fingiu estar dormindo. Olhei ao meu redor e vi o meu irmão. Só estávamos nós três lá. O mestre tinha sumido. Levantei-me para te rum ângulo de visão melhor e Dean me olhou com aqueles olhos carinhosos de antes. O mestre tinha sumido mesmo.
Peguei a mão de Dean e o conduzi até o submarino (que de submarino só teve o nome), fechei a porta e o beijei. Céus, que saudades eu tinha daquele beijo! O sexo tinha melhorado depois do mestre, mas Dean tinha parado de me beijar. Mas agora não, agora ele me beijava com a mesma paixão dos nossos primeiros beijos, me abraçava como se tivesse medo que eu fosse embora assim que ele me soltasse. Eu me sentia desejada novamente, depois de tanto tempo apenas desejando. Eu não queria saber de preliminares, eu só queria o Dean em mim, estava alucinada. Meu irmão passou a noite do lado de fora, porque Dean e eu precisávamos de muito tempo para matar as saudades. Foi tudo muito diferente. Pela primeira vez eu voei sem precisar do submarino.
Um dia eu conheci um homem. Maravilhoso, encantador, etc e tal. O homem dos meus sonhos. Eu o desejava e ele a mim. Ele veio até a minha casa e descobriu o submarino. Ficou fascinado. Lembrou-me até o Dean Moriarity. Foi até o quarto do meu irmão para pedir a autorização dele para andarmos no submarino. Foi expulso pelos gritos da talzinha. Saímos no submarino sem a autorização, mesmo.
Era um sonho. Ele parecia saber de tudo. Conhecemos tantos lugares e pessoas fantásticas...
O submarino do meu irmão também voava. Era isso que fazíamos a maior parte do tempo. Não lembro direito o motivo, mas precisávamos deixá-lo mais rápido, então voltamos pra casa. Eu, Dean, o submarino e um maluco que ele dizia ser o seu mestre, que também era terrivelmente charmoso.
Mostrei um treco de hidrogênio que meu irmão sempre quis montar no submarino mas não pôde depois que começou a namorar o monstro. Ao ouvir a nossa algazarra (Dean e seu mestre eram muito afobados) meu irmão veio correndo para o quintal. As atitudes dele pareciam as da monstrinha dele (ela na verdade era linda, mas tinha uma personalidade terrível), brigando e gritando conosco por causa do submarino. Eu disse a ele que tínhamos feito o submarino voar, e que tínhamos voltado para pôr o treco de hidrogênio que ele tinha arranjado. Depois de tanto tempo, os olhos dele começaram a brilhar novamente, e meu irmão se juntou a mim e a Dean no aperfeiçoamento do nosso submarino. A monstrinha tinha sido abandonada e só fazia resmungar pela casa, e o mestre só saía pra beber e curtir, chamando sempre todos os rapazes pra sair. Eu fui deixada de lado assim que o submarino pousou no meu quintal.
Um belo dia, cansados do trabalho, meu irmão, Dean e o mestre saíram para relaxar. Como o mestre passava o dia relaxando, voltou mais cedo.
- E aí, menina?
- Oi, mestre. De volta tão cedo? Logo você?
- É que eu não me dei tão bem quanto os rapazes.
- Como assim?
- Você sabe...
Eu entrei em pânico. Obriguei o mestre a me levar onde eles estavam, mas ele se recusava. O monstrinho também tinha ouvido, mas ela andava cada vez mais quieta, só se recolheu chorosa para o quarto do meu irmão.
O mestre também sentia uma atração por mim. Foi aí que viu a sua chance, resolveu me levar. Ele me mandava olhar pra cima o tempo todo. Até que os vi. Nem reparei na companhia do meu irmão, mas o meu Dean estava com uma negra de pernas enormes e cabelos curtos. Fiquei em estado de choque por longos minutos, até que o mestre me arrastou de volta pra casa.
Antes que eu começasse a chorar olhei pro rosto dele e me deparei com aqueles olhos dos quais eu fugia diariamente para não ceder ao desejo. Agora eu não tinha mais essa obrigação. Não precisava mais me manter fiel ao Dean. Abri a porta do submarino e o chamei para dentro. Assim que ele a fechou eu o ataquei. Pulei na sua boca como se quisesse toda sua saliva para mim, enquanto ele apertava o meu corpo como se quisesse arrancar pedaços e guardá-los para si ou comê-los.
A partir daquele dia fazíamos sexo sempre que meu irmão e Dean saíam sós. Dean via as marcas no meu corpo, mas nunca falávamos sobre elas. Claro que o mestre tinha outras mulheres quando saía só, mas isso não me dizia respeito.
- Viu só, cara? Teu mestre só sai sozinho agora.
- Vai ver ele se cansou de ouvir vocês falarem sobre esse submarino.
- Ih, minha irmãzinha tá parecendo alguém que eu conheço...
- Não me compare à sua monstrinha. Fui eu quem uniu vocês dois e fez esse maldito submarino voar, pra início de conversa.
- E aposto que agora se arrepende!
- Não me arrependo, só gostaria que vocês saíssem menos e terminassem logo essa arrumação.
Dean ficou calado o tempo todo. Nós quase não nos falávamos mais. A única coisa que estava cada vez melhor era o sexo. Talvez ele tivesse aprendido com as vadias que catava na rua. Talvez eu tivesse aprendido com o mestre. Talvez ambos. A única coisa que sei é que o sexo estava melhor do que nunca.
Um dia entrei no submarino com o mestre e ele estava gelado, cheio de pedaços de gelo. Estávamos prontos para partir. Isso que meu irmão e Dean tinham saído para comemorar. Provavelmente seria a minha última transa com o mestre, já que passaríamos a maior parte do tempo voando juntos no submarino que, devo acrescentar, não tinha cômodos.
No dia seguinte entramos eu, o mestre, a monstrinha (afinal, ela ainda era a noiva do meu irmão), meu irmão e Dean. Achei que assim que voltássemos todos ao submarino eu voltaria a ser a garota dele, mas ele continuava tão frio quanto aquela nave.
Foi uma loucura. Voávamos a uma velocidade incrível. Meu irmão e Dean tinham feito um trabalho maravilhoso. Imagino como tenha sido a comemoração deles. Nós quase passamos ilesos por uma ventania. Se a nave tivesse menos gente teríamos passado numa boa, mas cinco pessas era demais para aquela banheira. A monstrinha começou a chorar e reclamar. Tava na cara que meu irmão já não agüentava mais. Largou a menina no meio do nada, chorando. Eu quase senti simpatia por ela. Meu irmão tinha sido muito cruel. Será que Dean seria cruel assim comigo? Será que meu irmão deixaria?
O mestre passou a me tratar como uma desconhecida depois que a nave decolou. Eu estava cada vez mais triste. O único que não me ignorava naquele lugar era o meu irmão. Graças a ele eu ainda não tinha me jogado lá de cima. O mestre estava tentando se aproximar novamente de Dean, mas ele também só conversava com o meu irmão.
Depois de um tempo comecei a sentir uma fúria nos olhos do mestre. Acho que tanto tempo dentro de um lugar fechado não estava fazendo bem a ele. Sugeri ao meu irmão que descêssemos um pouco. Ele adorou a idéia, afinal, estávamos acima de um belo campo aberto. Um pouco de contato com a natureza ia fazer bem, pensei.
Então Dean pousou a nave e descemos todos. Tentei me aproximar do mestre, mas ele me repeliu como se faz a uma muriçoca. Decidi me deitar um pouco na grama. Tirei um bom cochilo. Como era bom finalmente esticar as pernas. Acho que eu também estava ficando louca depois de tanto tempo trancada naquele lugar pequeno. Acordei com Dean deitado ao meu lado, me abraçando. Fiquei tão feliz. Queria beijá-lo e abraçá-lo de volta, mas ele fingiu estar dormindo. Olhei ao meu redor e vi o meu irmão. Só estávamos nós três lá. O mestre tinha sumido. Levantei-me para te rum ângulo de visão melhor e Dean me olhou com aqueles olhos carinhosos de antes. O mestre tinha sumido mesmo.
Peguei a mão de Dean e o conduzi até o submarino (que de submarino só teve o nome), fechei a porta e o beijei. Céus, que saudades eu tinha daquele beijo! O sexo tinha melhorado depois do mestre, mas Dean tinha parado de me beijar. Mas agora não, agora ele me beijava com a mesma paixão dos nossos primeiros beijos, me abraçava como se tivesse medo que eu fosse embora assim que ele me soltasse. Eu me sentia desejada novamente, depois de tanto tempo apenas desejando. Eu não queria saber de preliminares, eu só queria o Dean em mim, estava alucinada. Meu irmão passou a noite do lado de fora, porque Dean e eu precisávamos de muito tempo para matar as saudades. Foi tudo muito diferente. Pela primeira vez eu voei sem precisar do submarino.
segunda-feira, 3 de outubro de 2005
Paradise Kiss, de Ai Yazawa
- Entendo. Então o Arashi Gritou com ela... e ela foi embora. Eu deveria saber que você iria ferrar com tudo, Arashi. Nunca confie a um garoto o trabalho de um homem.
- ... Johji! Nem vem, tenho ensaio da banda! NÃO ENFIA ISSO NA MINHA BUNDA, SEU MALDITO!
- ENTÃO NÃO DIGA MEU NOME EM KANJI!
- BESTEIRA! É O MESMO SOM, SEU FRUFRU!
- "ESTILO IMPORTA ATÉ MESMO QUANDO SE VAI MATAR" ISSO FOI O QUE BRYAN SLADE DISSE!
- Quem é esse idiota?
- George está sob influência de outro filme.
- Miwako também gostou! "Velvet Goldmine". Miwako viu três vezes.
Disponível em http://www.tsumi.cjb.net
segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Entre castelos e princesas
Ao contrário dos clássicos da Disney (Cinderela, Branca de Neve, A Pequena Sereia, A Bela Adormecida...) e de outros clássicos da literatura infantil que fazem parte da infância das nossas crianças (Chapeuzinho Vermelho, etc), as estórias mostradas nos filmes de Hayao Miyazaki (A Viagem de Chihiro, Castelo Voador) podem ser um bom exemplo para as crianças (principalmente as meninas).
As personagens dos filmes de Miyazaki estão longe do padrão dos irmãos Grimm de jovens de beleza invejável que são castigadas por serem belas e no fim são salvas pelo belo príncipe. Nausicäa do Vale dos Ventos (Kaze no tani no Naushika) foi o filme que estabeleceu as bases para a fundação do Studio Ghibli. Baseado em uma obra do próprio Miyazaki, conta a estória de uma garota que luta para salvar a terra em que vive. Um detalhe interessante do filme é a lenda presente na estória, onde é dito que apareceria um salvador para a terra. Como é de se imaginar depois do meu discurso, o que apareceu foi uma salvadora. A Princesa Mononoke (Mononoke Hime) é um dos filmes mais consagrados de Miyazaki. Protagonizado por Ashitaka, um jovem que é responsável pela harmonia da humanidade com a natureza, estando presente para ajudar San, uma jovem que vive na floresta e é tida como filha por uma loba gigante, e por estar sempre tentando conscientizar a sociedade que depende da senhora Eboshi. Nesta estória, o rapaz está constantemente suscetível às sociedades matriarcais, já que Eboshi e San estão longe do padrão "princesa" citado nas estórias do início desse texto, mesmo tendo o filme o título que tem.
Mas não precisamos voltar tanto no tempo (Nausicäa foi produzido em 1984 e Mononoke em 1997), lembremos de A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi), de 2001. Menos independente do que Nausicäa, San e Eboshi, Chihiro tem a ajuda de várias pessoas durante a estória para conseguir salvar seus pais, que foram transformados em porcos. Ela chora em vários momentos do filme, como toda criança chora. Sim, esqueci de mencionar que ela é uma criança. Já vi em uma sinopse a descreverem como "uma criança mimada", mas ela mostra durante o decorrer do filme a perseverança para salvar os pais, que a maioria de nós deve se perguntar se teria a força dela para levar a situação. Este é o único filme de Miyazaki (e do Studio Ghibli) licenciado e disponível em DVD no Brasil.
Este ano foi lançado o último filme dirigido por Hayao Miyazaki: Castelo Animado (Hauru no ugoku shiro), baseado no livro Howl's Moving Castle, de Diana Wynne Jones. Ainda disponível em alguns cinemas do país, a estória de Sophie me comoveu a ponto de escrever esse texto. Logo no início do filme ela é transformada em uma velha de noventa anos e por isso foge da cidade para não ter que enfrentar os seus conhecidos; assim ela acaba chegando no castelo de Howl, um jovem e belo mago. Uma beleza até digna de um príncipe, mas ele nem ao menos consegue desfazer o feitiço que a Bruxa da Terra Abandonada solta em Sophie, além de fugir constantemente dela e da madame Suliman, sua antiga tutora. Mesmo no meio de todos esses feiticeiros (e principalmente feiticeiras), é Sophie que, transformada em uma idosa, tem a força para levar adiante os ânimos dos personagens do filme.
Na hora que seus filhos lhe pedirem para que leia um livro antes de dormir, procure algo além de A Bela Adormecida. Quando forem na locadora e ele não souber o que levar, não leve sempre Branca de Neve e os Sete Anões. E tenha em mente que um desenho animado pode muitas vezes ser mais rico e interessante do que os cinqüenta filmes de super-heróis que são lançados. Nesse texto enfoquei as estórias infantis, mas há outros desenhos com temas mais adultos que são muitíssimo interessantes, mas seria difícil encontrá-los em português fora da internet.
As personagens dos filmes de Miyazaki estão longe do padrão dos irmãos Grimm de jovens de beleza invejável que são castigadas por serem belas e no fim são salvas pelo belo príncipe. Nausicäa do Vale dos Ventos (Kaze no tani no Naushika) foi o filme que estabeleceu as bases para a fundação do Studio Ghibli. Baseado em uma obra do próprio Miyazaki, conta a estória de uma garota que luta para salvar a terra em que vive. Um detalhe interessante do filme é a lenda presente na estória, onde é dito que apareceria um salvador para a terra. Como é de se imaginar depois do meu discurso, o que apareceu foi uma salvadora. A Princesa Mononoke (Mononoke Hime) é um dos filmes mais consagrados de Miyazaki. Protagonizado por Ashitaka, um jovem que é responsável pela harmonia da humanidade com a natureza, estando presente para ajudar San, uma jovem que vive na floresta e é tida como filha por uma loba gigante, e por estar sempre tentando conscientizar a sociedade que depende da senhora Eboshi. Nesta estória, o rapaz está constantemente suscetível às sociedades matriarcais, já que Eboshi e San estão longe do padrão "princesa" citado nas estórias do início desse texto, mesmo tendo o filme o título que tem.
Mas não precisamos voltar tanto no tempo (Nausicäa foi produzido em 1984 e Mononoke em 1997), lembremos de A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi), de 2001. Menos independente do que Nausicäa, San e Eboshi, Chihiro tem a ajuda de várias pessoas durante a estória para conseguir salvar seus pais, que foram transformados em porcos. Ela chora em vários momentos do filme, como toda criança chora. Sim, esqueci de mencionar que ela é uma criança. Já vi em uma sinopse a descreverem como "uma criança mimada", mas ela mostra durante o decorrer do filme a perseverança para salvar os pais, que a maioria de nós deve se perguntar se teria a força dela para levar a situação. Este é o único filme de Miyazaki (e do Studio Ghibli) licenciado e disponível em DVD no Brasil.
Este ano foi lançado o último filme dirigido por Hayao Miyazaki: Castelo Animado (Hauru no ugoku shiro), baseado no livro Howl's Moving Castle, de Diana Wynne Jones. Ainda disponível em alguns cinemas do país, a estória de Sophie me comoveu a ponto de escrever esse texto. Logo no início do filme ela é transformada em uma velha de noventa anos e por isso foge da cidade para não ter que enfrentar os seus conhecidos; assim ela acaba chegando no castelo de Howl, um jovem e belo mago. Uma beleza até digna de um príncipe, mas ele nem ao menos consegue desfazer o feitiço que a Bruxa da Terra Abandonada solta em Sophie, além de fugir constantemente dela e da madame Suliman, sua antiga tutora. Mesmo no meio de todos esses feiticeiros (e principalmente feiticeiras), é Sophie que, transformada em uma idosa, tem a força para levar adiante os ânimos dos personagens do filme.
Na hora que seus filhos lhe pedirem para que leia um livro antes de dormir, procure algo além de A Bela Adormecida. Quando forem na locadora e ele não souber o que levar, não leve sempre Branca de Neve e os Sete Anões. E tenha em mente que um desenho animado pode muitas vezes ser mais rico e interessante do que os cinqüenta filmes de super-heróis que são lançados. Nesse texto enfoquei as estórias infantis, mas há outros desenhos com temas mais adultos que são muitíssimo interessantes, mas seria difícil encontrá-los em português fora da internet.
sexta-feira, 23 de setembro de 2005
Psicologia de outro vencido
Eu tinha orgulho de nunca ter tido grandes arrependimentos na vida. Eu poderia até dizer que estava vivendo da melhor maneira possível. Mas hoje eu gostaria de refazê-la. Eu sei, eu sou cheia de dramas. Mas eu podia ter vivido melhor. Podia ter feito melhor as minhas escolhas. Podia ter ficado trancada em casa, protegida de todos os germes da sociedade. Podia até ter brincado de bonecas até os dezoito anos. Eu podia ter feito milhares de coisas diferente. Agora eu já nem sei o que posso mais.
terça-feira, 20 de setembro de 2005
25 de outubro
Está em pânico, sem saber se eu gostarei do que você irá me dar de aniversário? Seus problemas acabaram! Este é O Guia Para Presentes de Aniversário de Thaïs.
- livro "Dance Dance" de Haruki Murakami, editora Estação Liberdade (se não achar esse pode me dar qualquer outro livro desse autor, as editoras que o publicaram foram Estação Liberdade e Objetiva).
- livro "Chega de Saudade" de Ruy Castro, editora Companhia das Letras.
- livro "As Irmãs Makioka" de Jun'ichiro Tanizaki, editora Estação Liberdade.
- CD da Bebel Gilberto, tá por "apenas" R$ 50,00 nas Lojas Americanas. Mas é duplo!
- CDs ou vinis de bossa nova e/ou jazz. Se preferir também aceito um aparelho que toque vinil. Que esteja funcionando, de preferência.
- passagem de avião de ida e volta pro Rio de Janeiro (eu enjôo viajando de ônibus). Em janeiro. São vinte anos, meu povo!
- camisetas do site Gambler$ (exceto as pretas com logo vermelho, por favor ;P): Miyavi, Kagrra, Dir en grey e em último caso Malice Mizer ou Pierrot.
- tinturas Jeans Color do site Gambler$ azul ou verde. Se alguém quiser pode me dar também uma lente de contato, mas duvido que alguém vá querer...
Em último caso, compre a primeira coisa japonesa que vir pela frente. Mas só em último caso. E o meu Philipps Massager minha mãe já disse que me dava ;D
Por enquanto é só, pessoal!
- livro "Dance Dance" de Haruki Murakami, editora Estação Liberdade (se não achar esse pode me dar qualquer outro livro desse autor, as editoras que o publicaram foram Estação Liberdade e Objetiva).
- livro "Chega de Saudade" de Ruy Castro, editora Companhia das Letras.
- livro "As Irmãs Makioka" de Jun'ichiro Tanizaki, editora Estação Liberdade.
- CD da Bebel Gilberto, tá por "apenas" R$ 50,00 nas Lojas Americanas. Mas é duplo!
- CDs ou vinis de bossa nova e/ou jazz. Se preferir também aceito um aparelho que toque vinil. Que esteja funcionando, de preferência.
- passagem de avião de ida e volta pro Rio de Janeiro (eu enjôo viajando de ônibus). Em janeiro. São vinte anos, meu povo!
- camisetas do site Gambler$ (exceto as pretas com logo vermelho, por favor ;P): Miyavi, Kagrra, Dir en grey e em último caso Malice Mizer ou Pierrot.
- tinturas Jeans Color do site Gambler$ azul ou verde. Se alguém quiser pode me dar também uma lente de contato, mas duvido que alguém vá querer...
Em último caso, compre a primeira coisa japonesa que vir pela frente. Mas só em último caso. E o meu Philipps Massager minha mãe já disse que me dava ;D
Por enquanto é só, pessoal!
sábado, 17 de setembro de 2005
Chuva de cinzas
Quando eu nasci choveu sangue, minha mãe falou. Contei pras minhas amigas mas elas não acreditaram em mim. A chuva era ácida e queimou os meus olhos. Por isso eu vejo em preto-e-branco. A chuva era cinza. A cinza queimou os meus olhos. Eu pedi pra minha mãe me contar a verdade. Meu pai vivia pedindo pra ela parar de fumar. Ela parou de fumar depois que eu nasci. O mundo dela também ficou preto-e-branco. E eu não lembro do meu pai. Minha mãe não fala dele. Ela só diz que choveu sangue.
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
Consciência sem correção e com rabiscos
Imitando Nassar fiz meu Consciência sem pontos ou parágrafos, e agora tento recriá-la sem as correções do primeiro com a fluidez da fala. Obviamente não sairá igual (a parte da ausência dos pontos acabou de ser descartada, eu definitivamente não tenho a capacidade de Raduan ou Kerouac para fazer períodos gigantescos), já que a fala costuma ser instantânea e a escrita obviamente não. A falta de imaginação me faz escrever essas asneiras desinteressantes que nem eu mesma tenho vontade de reler e dias depois (já que não tive tempo ou saco de terminar esse texto de uma vez) de ter começado sinto-me cada vez mais desmotivada em continuar com essa besteira, de modo que, como vocês acabaram de observar, chego agora à conclusão de que é melhor pensar (mesmo que seja um pouco) antes de escrever, pois se é difícil encontrar alguém que leia o que eu escrevo pensando e recorrigindo over and over, será impossível consegui-lo para uma asneira como esta. Perdoem-me, leitores meus! Juro que a partir de hoje tornarei a escrever pensando bem antes de fazê-lo. Pena que antes mesmo de ter terminado de escrever a frase anterior eu tenha mudado de idéia. A consciência é melhor guardada na cabeça, o lugar dela não é o papel. Ploft.
quinta-feira, 15 de setembro de 2005
quarta-feira, 14 de setembro de 2005
Homem casado mente rápido
- Quando é que você vai fazer outra tatuagem?
- Quando eu tiver dinheiro.
- Vamos fazer um acordo? Eu pago e você faz a tatuagem.
- Só isso?
- Só. Mas peraí, onde você vai fazer a tatuagem?
- Eu tava pensando em fazer nas costas...
- Ah não, nas costas não tem graça.
- E você quer o que? Que eu faça uma na bunda, também?
- Pode s... Peraí, por que também?
- Você me disse que tinha uma tatuagem na bunda.
- Não, eu tinha feito uma tatuagem de henna...
- Ah tá. Sei...
- Quando eu tiver dinheiro.
- Vamos fazer um acordo? Eu pago e você faz a tatuagem.
- Só isso?
- Só. Mas peraí, onde você vai fazer a tatuagem?
- Eu tava pensando em fazer nas costas...
- Ah não, nas costas não tem graça.
- E você quer o que? Que eu faça uma na bunda, também?
- Pode s... Peraí, por que também?
- Você me disse que tinha uma tatuagem na bunda.
- Não, eu tinha feito uma tatuagem de henna...
- Ah tá. Sei...
domingo, 11 de setembro de 2005
Ave Maria
- A garota está sozinha?
- Não. Estou com a minha amiga Affy Maria.
- Quem?
- Affy Maria.
- Ah... E a Maria foi dar uma volta?
- Não, ela está bem aqui, sentada ao meu lado.
- Ah, Entendi. Tá fazendo jogo duro, né? Adoro garotas brabas!
- Bom pra você. Affy Maria é o cão. Vou até deixá-los a sós.
Ela se levanta e sai andando.
- Garota maluca... Afe.
- Não. Estou com a minha amiga Affy Maria.
- Quem?
- Affy Maria.
- Ah... E a Maria foi dar uma volta?
- Não, ela está bem aqui, sentada ao meu lado.
- Ah, Entendi. Tá fazendo jogo duro, né? Adoro garotas brabas!
- Bom pra você. Affy Maria é o cão. Vou até deixá-los a sós.
Ela se levanta e sai andando.
- Garota maluca... Afe.
sábado, 10 de setembro de 2005
BASEADO EM FATOS REAIS: Vira vira
O CD de Mamonas Assassinas está tocando ao fundo.
- Pai, o que é suruba?
- Pai, o que é suruba?
quinta-feira, 8 de setembro de 2005
Eu lia um livro de um autor japonês enquanto estava no ônibus. A cidade para a qual me dirigia não ficava longe, mas eu me sentia desolada e distante do mundo enquanto avançava. Parei de ler um pouco e ao virar o rosto para a direita me deparei com uma plantação de cana-de-açúcar e me senti inspirada. Comparei-me à personagem do livro, sozinho em uma ilha grega, esperando por uma mulher que só conhecia pelos relatos da mulher que amava.
Decidi escrever algo. O livro também falava sobre leitores e escritores, mas aposto que o escritor jamais pensou em por sua personagem rabiscando garranchos ao tentar produzir dentro de um ônibus que passava em uma estrada esburacada. Pergunto-me se ele próprio já escreveu em tais condições.
Um cheiro de merda me sobe às narinas e fico imaginando como haveria ele entrado em um ônibus climatizado.
Ônibus, merda e estrada esburacada acabam com a inspiração de qualquer um. É melhor eu voltar pra Grécia.
Essa viagem me mostrou um Brasil que eu queria esquecer. Um Brasil que me obriga a me sentir privilegiada, mesmo não o sendo.
Decidi escrever algo. O livro também falava sobre leitores e escritores, mas aposto que o escritor jamais pensou em por sua personagem rabiscando garranchos ao tentar produzir dentro de um ônibus que passava em uma estrada esburacada. Pergunto-me se ele próprio já escreveu em tais condições.
Um cheiro de merda me sobe às narinas e fico imaginando como haveria ele entrado em um ônibus climatizado.
Ônibus, merda e estrada esburacada acabam com a inspiração de qualquer um. É melhor eu voltar pra Grécia.
Essa viagem me mostrou um Brasil que eu queria esquecer. Um Brasil que me obriga a me sentir privilegiada, mesmo não o sendo.
quinta-feira, 1 de setembro de 2005
Over the arco-íris
Eu estava cabisbaixo, preocupado com as minhas dívidas, com um olhar melancólico espiando a chuva cair.
Ela caiu e pude ver o arco-íris que se formava no céu. Olhei para ele e me lembrei da minha infância e de todas as mágicas nas quais acreditava. Pensei que não havia momento melhor para pôr uma delas à prova.
Nunca pensei que fosse tão difícil chegar ao fim dor arco-íris. Escapei de ser atropelado umas vinte vezes e ouvi inúmeros xingamentos direcionados à minha pessoa, mas, inacreditavelmente, cheguei lá.
Procurei o pote cheio de moedas de ouro, mas ao invés disso encontrei a discografia completa do Chico Buarque.
Ela caiu e pude ver o arco-íris que se formava no céu. Olhei para ele e me lembrei da minha infância e de todas as mágicas nas quais acreditava. Pensei que não havia momento melhor para pôr uma delas à prova.
Nunca pensei que fosse tão difícil chegar ao fim dor arco-íris. Escapei de ser atropelado umas vinte vezes e ouvi inúmeros xingamentos direcionados à minha pessoa, mas, inacreditavelmente, cheguei lá.
Procurei o pote cheio de moedas de ouro, mas ao invés disso encontrei a discografia completa do Chico Buarque.
domingo, 28 de agosto de 2005
Panqueca americana
- Vá pra merda.
- O correto seria "vá à merda".
- Foda-se. Tome no cu. Quebre a perna, perca a mão, fique cego, tenha um câncer e uma infecção generalizada. Mor-ra.
- O correto seria "vá à merda".
- Foda-se. Tome no cu. Quebre a perna, perca a mão, fique cego, tenha um câncer e uma infecção generalizada. Mor-ra.
quarta-feira, 24 de agosto de 2005
O Novo Testamento segundo Thaïs
Para grande surpresa de seu marido, a Virgem Julia estava grávida. Felizmente, um anjo explicou para Virgem Julia que seu filho era Juvêncio Cristo, Senhor do mundo, o glorioso irmão de Deus (e estudante nas horas vagas). No dia de seu nascimento, os anjos ordenaram que os pastores seguissem o brilho da buceta para encontrá-lo. Além disso, três doentes macacos vieram trazendo valiosos presentes: camas e chuveiros. Passado algum tempo, sucedeu que Juvêncio Cristo foi batizado, sendo submergido em sakê. Então proferiu o sermão da ilha. No sermão da ilha, Juvêncio Cristo ensinou: Bem-aventurados os homofóbicos, pois eles serão os claustrofóbicos; Bem-aventurados são os hipocondríacos, pois deles será o Reino dos Céus. Juvêncio Cristo também fez muitos milagres, como quando transformou demente em ninfomaníaca durante o casamento de um amigo; também fez um incoerente recuperar-se com uma simples palavra. Infelizmente, os governantes ficaram muito bravos com a influência de Juvêncio Cristo, e então voaram e bateram e correram Juvêncio Cristo, que apenas disse: perdoai-os, eles não sabem o que fazem. Mas algum dia ele retornará em glória e magnificência para o julgamento final, então prepare-se! Juvêncio Cristo retornará. O fim está próximo.
Ateus.net
Ateus.net
terça-feira, 23 de agosto de 2005
sexta-feira, 12 de agosto de 2005
Em Brasília...
- O senhor está dizendo que no meu lugar assumiria a culpa? Não que eu tenha o que assumir, mas eu não vi o senhor assumindo qualquer coisa até o momento em que foi descoberto. Mas se eu estivesse envolvido em qualquer maracutaia, eu agiria como um homem e assumiria a culpa agora na frente de vocês.
Nesse momento um grito ecoa do fim da sala:
- Bicha!
Nesse momento um grito ecoa do fim da sala:
- Bicha!
terça-feira, 9 de agosto de 2005
Pé, mão, e cabeça na estrada
Eu tinha acabado de ler "On the road - Pé na estrada" e senti - como a maioria das pessoas deve ter sentido - aquela necessidade urgente de cair na estrada.
Juntei a grana que tinha ganhado da minha vó no natal e peguei um ônibus até a BR para Recife. Lá comecei a pedir caronas. Imaginei que seria mais fácil para mim, pelo fato de eu ser mulher. Não cheguei a pegar chuva nem nada. Consegui uma carona até Goiana e lá passei a noite para descansar um pouco. Eu estava meio preguiçosa, provavelmente não tinha pego ainda o espírito da estrada.
No dia seguinte voltei para a beira do asfalto e comecei a balançar minha mão. Eu estava com menos sorte nesse segundo dia e tive a brilhante idéia de pôr uma saia pra chamar mais atenção. Foi pei, buf. Em quinze minutos eu estava dentro de um carro com mais dois homens a caminho de Maceió. Boa carona, pensei eu.
Passamos de Recife e já perto da fronteira com Alagoas o rapaz que estava dirigindo entrou em uma estrada de terra. Era óbvio que aquele não era o caminho para Maceió. Mas já era cerca de cinco horas da tarde, achei que eles pudessem estar procurando um restaurante para jantar.
Cada vez ficávamos mais longe da civilização e passei a ficar mais aflita. Perguntei ao colega dele por que estávamos indo naquela direção e o outro freou o carro bruscamente. Parecia que eles estavam só esperando essa pergunta minha. Malditos carros de duas portas. Cada um trancou a sua respectiva e passou para o banco de trás, ficando cada um de um lado meu. Suei frio, senti uma dor de barriga estranha, uma vontade de vomitar, fiquei desesperada. Me agarrei à minha mochila e eles me agarraram. Gritei e o motorista me mandou calar a boca. Esperneei e ele mirou o cano de uma arma na minha testa. Falou que se eu resistisse morria ali, on the road. Esbravejei que preferia morrer a me deixar se estuprada e ainda cuspi no olho dele. Haha. Que satisfação. Pei, no meio da testa e buf no banco do carro.
Eu estava com menos sorte no segundo dia.
Juntei a grana que tinha ganhado da minha vó no natal e peguei um ônibus até a BR para Recife. Lá comecei a pedir caronas. Imaginei que seria mais fácil para mim, pelo fato de eu ser mulher. Não cheguei a pegar chuva nem nada. Consegui uma carona até Goiana e lá passei a noite para descansar um pouco. Eu estava meio preguiçosa, provavelmente não tinha pego ainda o espírito da estrada.
No dia seguinte voltei para a beira do asfalto e comecei a balançar minha mão. Eu estava com menos sorte nesse segundo dia e tive a brilhante idéia de pôr uma saia pra chamar mais atenção. Foi pei, buf. Em quinze minutos eu estava dentro de um carro com mais dois homens a caminho de Maceió. Boa carona, pensei eu.
Passamos de Recife e já perto da fronteira com Alagoas o rapaz que estava dirigindo entrou em uma estrada de terra. Era óbvio que aquele não era o caminho para Maceió. Mas já era cerca de cinco horas da tarde, achei que eles pudessem estar procurando um restaurante para jantar.
Cada vez ficávamos mais longe da civilização e passei a ficar mais aflita. Perguntei ao colega dele por que estávamos indo naquela direção e o outro freou o carro bruscamente. Parecia que eles estavam só esperando essa pergunta minha. Malditos carros de duas portas. Cada um trancou a sua respectiva e passou para o banco de trás, ficando cada um de um lado meu. Suei frio, senti uma dor de barriga estranha, uma vontade de vomitar, fiquei desesperada. Me agarrei à minha mochila e eles me agarraram. Gritei e o motorista me mandou calar a boca. Esperneei e ele mirou o cano de uma arma na minha testa. Falou que se eu resistisse morria ali, on the road. Esbravejei que preferia morrer a me deixar se estuprada e ainda cuspi no olho dele. Haha. Que satisfação. Pei, no meio da testa e buf no banco do carro.
Eu estava com menos sorte no segundo dia.
sábado, 6 de agosto de 2005
Dez é um real
- Dez é um real, tem de doce-de-leite e chocolate.
Vi aquele homem entrando no ônibus com um macacão azul e uma fala mecânica. Demorei para entender o que ele dizia.
- Dez para sair, obrigado e boa viagem.
Mas quando ele se aproximou vi que carregava algum doce na mão.
- Dez é um real e dá direito a um chocolate.
A mulher sentada mais próxima de mim perguntou se ele vendia pastilha e o homem dos caramelos respondeu:
- Dez é um real, tem de doce-de-leite e chocolate.
Só então entendi o que diabos o homem do macacão azul repetia como um robô.
Vi aquele homem entrando no ônibus com um macacão azul e uma fala mecânica. Demorei para entender o que ele dizia.
- Dez para sair, obrigado e boa viagem.
Mas quando ele se aproximou vi que carregava algum doce na mão.
- Dez é um real e dá direito a um chocolate.
A mulher sentada mais próxima de mim perguntou se ele vendia pastilha e o homem dos caramelos respondeu:
- Dez é um real, tem de doce-de-leite e chocolate.
Só então entendi o que diabos o homem do macacão azul repetia como um robô.
sexta-feira, 5 de agosto de 2005
Caçando calangos: primeiro capítulo III
Quando saí de casa, minha cadela estava fuçando as pedras do quintal atrás de lagartixas. Ela foi contaminada pelos homens calangos, pensei. Eu estava ficando paranóica. Pelo menos foi o que concluí naquela hora. Ela nem me deu atenção enquanto eu era ‘escoltada’ pelos calanguinhos. Não pude me despedir dela nem da minha família, fui informada pelos homens que eu não poderia informar a minha missão a pessoa alguma, e por isso me obrigaram a deixar o celular desligado em casa. Eu só poderia me comunicar por e-mails devidamente autorizados. Eu estava em cativeiro. Eu estava sendo mantida em cativeiro por um calango.
Malditos sulistas e malditos nordestinos. Eu estava cagando e andando pra toda essa história de levar o calango pro sul. Eu queria ficar junto da minha família, do meu namorado, da minha cadela, queria continuar o meu curso (que agora eu provavelmente seria muitíssimo prejudicada sendo reprovada por faltas), queria arranjar um trabalho pra comprar aquele depilador eletrônico, queria comprar uma roupinha pra minha cadela não passar frio e queria continuar minha coleção de mangá.
Mas não, vá ajudar os fracos e oprimidos nordestinos que estão sendo tão injustiçados. E não sou eu uma fraca e oprimida nordestina? Quer injustiça maior que obrigar uma jovem de dezenove anos a obedecer um maníaco que acredita ter o plano perfeito para acabar com os preconceitos contra os paraíbas?
No Rio de Janeiro fui hospedada em um quarto com apenas uma cama de solteiro (o maldito nem pra me arranjar uma cama de casal), um computador ligado à internet e um guarda-roupa. Como não tive tempo nem de pegar um livro antes de sair de casa, só me restou o computador para entretenimento. Depois de colocar minhas roupas todas no guarda-roupa, liguei o computador e tive mais notícias do calango chefe.
Malditos sulistas e malditos nordestinos. Eu estava cagando e andando pra toda essa história de levar o calango pro sul. Eu queria ficar junto da minha família, do meu namorado, da minha cadela, queria continuar o meu curso (que agora eu provavelmente seria muitíssimo prejudicada sendo reprovada por faltas), queria arranjar um trabalho pra comprar aquele depilador eletrônico, queria comprar uma roupinha pra minha cadela não passar frio e queria continuar minha coleção de mangá.
Mas não, vá ajudar os fracos e oprimidos nordestinos que estão sendo tão injustiçados. E não sou eu uma fraca e oprimida nordestina? Quer injustiça maior que obrigar uma jovem de dezenove anos a obedecer um maníaco que acredita ter o plano perfeito para acabar com os preconceitos contra os paraíbas?
No Rio de Janeiro fui hospedada em um quarto com apenas uma cama de solteiro (o maldito nem pra me arranjar uma cama de casal), um computador ligado à internet e um guarda-roupa. Como não tive tempo nem de pegar um livro antes de sair de casa, só me restou o computador para entretenimento. Depois de colocar minhas roupas todas no guarda-roupa, liguei o computador e tive mais notícias do calango chefe.
quarta-feira, 3 de agosto de 2005
Era uma vez
Era uma vez duas irmãs: Anike e Anego. Era ou eram? Uma vez?
Eram duas vezes duas irmãs. Eram sim, porque mais tarde cada uma debandou para seu lado na vida.
Eram duas vezes duas irmãs. Eram sim, porque mais tarde cada uma debandou para seu lado na vida.
terça-feira, 2 de agosto de 2005
Haikai
Spik(sic)tupinik
(Glauco Mattoso)
Rebel without a cause, vômito do mito
da nova nova nova nova geração,
cuspo no prato e janto junto com palmito
o baioque (o forrock, o rockixe), o rockão.
Receito a seita de quem samba e roquenrola:
Babo, Bob, pop, pipoca, cornflake;
take a cocktail de coco com cocacola,
de whisky e estricnina make a milkshake.
Tem híbridos morfemas a língua que falo,
meio nega-bacana, chiquita-maluca;
no rolo embananado me embolo, me embalo,
soluço - hic - e desligo - clic - a cuca.
Sou luxo, chulo e chic, caçula e cacique.
I am a tupinik, eu falo em tupinik.
bunda no trono
assim que amanhece
dor de barriga
Thaïs Gualberto
quinta-feira, 28 de julho de 2005
Caçando calangos: primeiro capítulo II
Eu precisava saber mais antes de me meter em um avião para o Rio de Janeiro. Pelo menos eu esperava que fosse um avião. Só faltava ele querer me mandar em um pau-de-arara.
Esperei que fosse tudo um mal-entendido. Esperei que o subalterno dele fosse mais idiota que eu e tivesse abordado a garota errada, mas eu sabia que isso era muito improvável. Alguém que soubesse tanto da minha vida não cometeria um erro tão banal. A única coisa inaceitável era abaixar a cabeça para tudo e seguir copiosamente o plano desse tal C.
Escrevi novamente para o e-mail dele, mas a única resposta de recebi foi uma “mail delivery failed”. E agora? Seria eu obrigada mesmo a largar tudo e ir pro Rio de Janeiro como queria o maldito?
No dia seguinte acordei com dois homens batendo na minha porta. Às cinco da manhã, acordei com o barulho da campainha. Campainha maldita, olha a hora que voltou a funcionar. Devia ter continuado quebrada. Enrolei-me no roupão e meti a cara na janela, louca para xingar um. Ainda com a vista meio embaçada, vi do outro lado do muro dois homens de estatura média, com uma pele morena desbotada e um cabelo castanho cortado de qualquer jeito que não chame a atenção. Vestidos de marrom da cabeça aos pés, gritaram ao me ver na janela:
- Arrume-se, viemos te buscar!
Entrei em pânico. Abaixei-me bruscamente e fiz o maior esforço para pensar em algo a uma hora daquelas. Mas eu não era uma pessoa produtiva pela manhã...
Esperei que fosse tudo um mal-entendido. Esperei que o subalterno dele fosse mais idiota que eu e tivesse abordado a garota errada, mas eu sabia que isso era muito improvável. Alguém que soubesse tanto da minha vida não cometeria um erro tão banal. A única coisa inaceitável era abaixar a cabeça para tudo e seguir copiosamente o plano desse tal C.
Escrevi novamente para o e-mail dele, mas a única resposta de recebi foi uma “mail delivery failed”. E agora? Seria eu obrigada mesmo a largar tudo e ir pro Rio de Janeiro como queria o maldito?
No dia seguinte acordei com dois homens batendo na minha porta. Às cinco da manhã, acordei com o barulho da campainha. Campainha maldita, olha a hora que voltou a funcionar. Devia ter continuado quebrada. Enrolei-me no roupão e meti a cara na janela, louca para xingar um. Ainda com a vista meio embaçada, vi do outro lado do muro dois homens de estatura média, com uma pele morena desbotada e um cabelo castanho cortado de qualquer jeito que não chame a atenção. Vestidos de marrom da cabeça aos pés, gritaram ao me ver na janela:
- Arrume-se, viemos te buscar!
Entrei em pânico. Abaixei-me bruscamente e fiz o maior esforço para pensar em algo a uma hora daquelas. Mas eu não era uma pessoa produtiva pela manhã...
quinta-feira, 21 de julho de 2005
Para Quaintance,o leitor crítico sabe que o seu atual repertório de informações é confiável porque é submetido a constantes avaliações. Ele também sabe o valor relativo de cada elemento da sua hierarquia de valores. Ele está consciente dos conceitos que são estrelas e constelações a guiar sua vida, dos conceitos que são satélites dependentes, dos conceitos que são apenas meteoros de breve intensidade.
Para Quaintance, o leitor crítico é um computador.
* SILVA, Ezequiel Theodoro da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas; SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1998 (Coleção Leituras no Brasil).
terça-feira, 19 de julho de 2005
sexta-feira, 1 de julho de 2005
Caçando calangos: primeiro capítulo I
Pai, me ensina a ser palhaço?
O sertanejo tinha esquecido de me dizer para qual e-mail mandaria as informações. Imaginei que fosse o e-mail do meu MSN, já que ele estava disponível no meu fotolog e orkut. Não era. Comecei a pensar que ele estivesse blefando. Onde ele encontraria os endereços dos meus outros e-mails? Vasculhei o meu gmail, mas fui encontrar o e-mail do calango chefe no endereço que eu só divulgava aos meus amigos. O homem tinha mesmo pesquisado sobre minha vida.
Boa noite.
Sei que você deve estar confusa a essa altura, mas espero que entenda melhor o meu propósito depois de ler esta mensagem.
Meu subalterno deve ter lhe informado do supérfluo, e para isto estou escrevendo-lhe este e-mail. Infelizmente não posso encontrá-la pessoalmente, estou atualmente morando em São Paulo. Aliás, foi aqui que conheci o autor do cordel que pedi para que te entregassem. Só depois que passei a trabalhar com construção civil pude perceber como os nordestinos que fugiram da seca vêm sofrendo física e psicologicamente. Sei que você é uma garota inteligente e vai me ajudar a combater esse problema.
Por enquanto, envio-te apenas essa MP3 anexa. A música é de um grupo chamado Cordel do Fogo Encantado e tem muito a ver com o tema que estamos discutindo.
Amanhã enviarei outra mensagem dizendo tudo que quero que você faça. Sei que depois de ouvir essa música não terá mais dúvidas quanto à sua missão.
Até a próxima,
C.
O e-mail não serviu para tirar minhas dúvidas. Aliás, só me deixou mais irritada. Eu conhecia o grupo que ele mencionou, o nome da música que ele mandou anexa era Morte e vida Stanley. Fiz o download e comecei a escutá-la enquanto pensava na merda na qual tinham me jogado. Resolvi responder o e-mail do calango chefe:
Obrigada pela música, é mesmo muito boa. No mais, não tenho o que agradecer. Eu gostaria que você parasse de brincar com a minha vida e dissesse de uma vez o que está tramando.
É engraçado você dizer que eu sou uma garota inteligente, porque o seu “subalterno” discorda piamente da sua opinião.
Atenciosamente,
Garota Calango
E esperei ansiosamente pela resposta no dia seguinte. Aliás, esse maldito mobilizou o resto da minha vida. Não me interessava por qualquer coisa na internet que não fossem meus e-mails. Não tinha mais vontade de ver meu namorado e minha cadela estava carente. O calango já estava roubando três dias da minha vida, eu tinha que dar um basta nessa situação.
Exatamente ao meio dia a resposta chegou.
Minha querida,
Não se preocupe com o que diz o meu subalterno, ele é um idiota.
Agora eu já sabia porque o homem calango tinha tanto gosto em me chamar assim.
Voltando ao que nos interessa, não imaginei que a minha intromissão fosse deixá-la possessa. Peço desculpas quanto a isso. Espero que entenda o quanto é necessária para mim. É óbvio que não a escolhi aleatoriamente. Peço desculpas novamente, por ter me intrometido tão profundamente na sua vida, imagino o desconforto que isso deve estar lhe causando.
Como prometido, irei dizer-lhe agora o que quero que faça por mim. Infelizmente, preciso dizer que isso não é um pedido. Você não está em condições de se recusar a fazer o que eu quero. Só espero que reaja melhor que o meu subalterno que conheceu. Ele foi muitíssimo mal-educado.
Em primeiro lugar, espero que tenha entendido que apenas usei o calango como metáfora. Da mesma maneira poderia ter escolhido o peba ou o urubu, mas tenho certeza de que sabe tão bem quanto eu o quanto os nascidos na parte sul do país gostam de associar a nossa imagem á de caçadores de calango vestidos de cangaceiros.
Eu preciso que você se torne uma estrela nacional. Se possível internacional. Sei o quanto adora cantar e escrever, e preciso de uma jovem paraibana para mostrar ao país e talvez até ao mundo que precisam abrir a cabeça e os olhos. Não se preocupe com a mídia, eu cuido dela. Quero apenas que vá para o Rio de Janeiro e lá receberá o resto das instruções. Creio que essa será a última vez que nos falaremos, então gostaria de agradecer de antemão o favor que fará a todos os seus conterrâneos.
E não se preocupe com meus outros subalternos, serão todos mais simpáticos que o primeiro.
Um abraço sincero do seu amigo,
C.
PS.: Adorei o codinome que adotou.
No final das contas, o e-mail dele não esclareceu muita coisa. Pareceu-me um riquinho querendo entrar na indústria da música. Mas se fosse só isso não faria sentido ter escolhido a mim. Com certeza existiriam milhares de garotas pelo mundo que cantariam melhor que eu e seriam mais bonitas também. Não que eu seja feia...
O sertanejo tinha esquecido de me dizer para qual e-mail mandaria as informações. Imaginei que fosse o e-mail do meu MSN, já que ele estava disponível no meu fotolog e orkut. Não era. Comecei a pensar que ele estivesse blefando. Onde ele encontraria os endereços dos meus outros e-mails? Vasculhei o meu gmail, mas fui encontrar o e-mail do calango chefe no endereço que eu só divulgava aos meus amigos. O homem tinha mesmo pesquisado sobre minha vida.
Boa noite.
Sei que você deve estar confusa a essa altura, mas espero que entenda melhor o meu propósito depois de ler esta mensagem.
Meu subalterno deve ter lhe informado do supérfluo, e para isto estou escrevendo-lhe este e-mail. Infelizmente não posso encontrá-la pessoalmente, estou atualmente morando em São Paulo. Aliás, foi aqui que conheci o autor do cordel que pedi para que te entregassem. Só depois que passei a trabalhar com construção civil pude perceber como os nordestinos que fugiram da seca vêm sofrendo física e psicologicamente. Sei que você é uma garota inteligente e vai me ajudar a combater esse problema.
Por enquanto, envio-te apenas essa MP3 anexa. A música é de um grupo chamado Cordel do Fogo Encantado e tem muito a ver com o tema que estamos discutindo.
Amanhã enviarei outra mensagem dizendo tudo que quero que você faça. Sei que depois de ouvir essa música não terá mais dúvidas quanto à sua missão.
Até a próxima,
C.
O e-mail não serviu para tirar minhas dúvidas. Aliás, só me deixou mais irritada. Eu conhecia o grupo que ele mencionou, o nome da música que ele mandou anexa era Morte e vida Stanley. Fiz o download e comecei a escutá-la enquanto pensava na merda na qual tinham me jogado. Resolvi responder o e-mail do calango chefe:
Obrigada pela música, é mesmo muito boa. No mais, não tenho o que agradecer. Eu gostaria que você parasse de brincar com a minha vida e dissesse de uma vez o que está tramando.
É engraçado você dizer que eu sou uma garota inteligente, porque o seu “subalterno” discorda piamente da sua opinião.
Atenciosamente,
Garota Calango
E esperei ansiosamente pela resposta no dia seguinte. Aliás, esse maldito mobilizou o resto da minha vida. Não me interessava por qualquer coisa na internet que não fossem meus e-mails. Não tinha mais vontade de ver meu namorado e minha cadela estava carente. O calango já estava roubando três dias da minha vida, eu tinha que dar um basta nessa situação.
Exatamente ao meio dia a resposta chegou.
Minha querida,
Não se preocupe com o que diz o meu subalterno, ele é um idiota.
Agora eu já sabia porque o homem calango tinha tanto gosto em me chamar assim.
Voltando ao que nos interessa, não imaginei que a minha intromissão fosse deixá-la possessa. Peço desculpas quanto a isso. Espero que entenda o quanto é necessária para mim. É óbvio que não a escolhi aleatoriamente. Peço desculpas novamente, por ter me intrometido tão profundamente na sua vida, imagino o desconforto que isso deve estar lhe causando.
Como prometido, irei dizer-lhe agora o que quero que faça por mim. Infelizmente, preciso dizer que isso não é um pedido. Você não está em condições de se recusar a fazer o que eu quero. Só espero que reaja melhor que o meu subalterno que conheceu. Ele foi muitíssimo mal-educado.
Em primeiro lugar, espero que tenha entendido que apenas usei o calango como metáfora. Da mesma maneira poderia ter escolhido o peba ou o urubu, mas tenho certeza de que sabe tão bem quanto eu o quanto os nascidos na parte sul do país gostam de associar a nossa imagem á de caçadores de calango vestidos de cangaceiros.
Eu preciso que você se torne uma estrela nacional. Se possível internacional. Sei o quanto adora cantar e escrever, e preciso de uma jovem paraibana para mostrar ao país e talvez até ao mundo que precisam abrir a cabeça e os olhos. Não se preocupe com a mídia, eu cuido dela. Quero apenas que vá para o Rio de Janeiro e lá receberá o resto das instruções. Creio que essa será a última vez que nos falaremos, então gostaria de agradecer de antemão o favor que fará a todos os seus conterrâneos.
E não se preocupe com meus outros subalternos, serão todos mais simpáticos que o primeiro.
Um abraço sincero do seu amigo,
C.
PS.: Adorei o codinome que adotou.
No final das contas, o e-mail dele não esclareceu muita coisa. Pareceu-me um riquinho querendo entrar na indústria da música. Mas se fosse só isso não faria sentido ter escolhido a mim. Com certeza existiriam milhares de garotas pelo mundo que cantariam melhor que eu e seriam mais bonitas também. Não que eu seja feia...
quinta-feira, 30 de junho de 2005
Caçando calangos III
Assim que cheguei ao local exato do primeiro encontro ouvi um barulho de carroça se aproximando por trás de mim. Não tive coragem de me virar, mas prestei atenção nos movimentos do homem misterioso, descendo do carro e chegando cada vez mais perto, até ficar do meu lado. Pensei em cumprimentá-lo, mas depois lembrei que não faria diferença.
- Leu?
- Li sim. Por que você me deu isso?
- Isso você vai saber no tempo certo.
- Tempo certo?
- Pare de fazer perguntas e me escute.
Eu calei a boca e esperei que ele começasse a falar. Esperei muito. Comecei a desconfiar da rapidez do pensamento dele. Virei o rosto para poder vê-lo melhor e percebi que tinha marcas de sol e do boné. Talvez o excesso de sol na cuca tenha danificado a capacidade de raciocínio do homem.
- Você concorda com o que o poema diz?
- Não. Por que você deu este poema a mim? Eu nem gosto de ler poemas.
- Isso não vem ao caso.
- O que espera de mim? Que eu analise o texto? Olha, eu faço Letras, mas não sou a pessoa mais indicada para isso, se quiser posso te indicar algum colega meu...
- Cala a boca e escuta.
Suspeitei que ele me obrigasse a ouvir o silêncio dele novamente, mas começou a falar logo em seguida:
- Você não concorda com o poema, então? Você não acha que o nordestino é injustiçado no sul e no sudeste?
- Olha, se você quer discutir política comigo poderia ao menos escolher um lugar menos perigoso.
- Eu não quero discutir política com você. Quero que você me ajude.
- Eu? Por que eu? Eu sou tãaaaao egoísta...
- Não é não.
- Desde quando você me conhece melhor que eu mesma?
- Desde que eu passei a pesquisar a sua vida.
- Você tem me perseguido? Eu vou ser seqüestrada?
- Não, idiota.
Fazia muito tempo que alguém não me chamava de idiota. Isso doeu.
- Você tem que me ajudar a levar o calango pro sul.
- Se eu sou idiota, você é doente.
- Você é idiota e não me conhece. Eu te conheço.
- Pra que você quer a ajuda de uma idiota, então?
- Para que você se comunique com os outros idiotas.
- Cara, eu te odeio tanto... – ele ignorou o meu comentário e continuou a falar no mesmo tom de sempre.
- Eu vou te mandar pra lá e você vai ser a encarregada do calango.
- Encarregada do calango? – não consegui conter o riso – Onde eu estou? Em algum fanzine de terceira?
- Idiota. Volte para casa agora. Você vai receber um e-mail com todas as informações que precisa.
- Você pode ao menos me dar uma carona na sua carroça? Já está tarde, fica meio perigoso voltar sozinha.
- Não.
- Leu?
- Li sim. Por que você me deu isso?
- Isso você vai saber no tempo certo.
- Tempo certo?
- Pare de fazer perguntas e me escute.
Eu calei a boca e esperei que ele começasse a falar. Esperei muito. Comecei a desconfiar da rapidez do pensamento dele. Virei o rosto para poder vê-lo melhor e percebi que tinha marcas de sol e do boné. Talvez o excesso de sol na cuca tenha danificado a capacidade de raciocínio do homem.
- Você concorda com o que o poema diz?
- Não. Por que você deu este poema a mim? Eu nem gosto de ler poemas.
- Isso não vem ao caso.
- O que espera de mim? Que eu analise o texto? Olha, eu faço Letras, mas não sou a pessoa mais indicada para isso, se quiser posso te indicar algum colega meu...
- Cala a boca e escuta.
Suspeitei que ele me obrigasse a ouvir o silêncio dele novamente, mas começou a falar logo em seguida:
- Você não concorda com o poema, então? Você não acha que o nordestino é injustiçado no sul e no sudeste?
- Olha, se você quer discutir política comigo poderia ao menos escolher um lugar menos perigoso.
- Eu não quero discutir política com você. Quero que você me ajude.
- Eu? Por que eu? Eu sou tãaaaao egoísta...
- Não é não.
- Desde quando você me conhece melhor que eu mesma?
- Desde que eu passei a pesquisar a sua vida.
- Você tem me perseguido? Eu vou ser seqüestrada?
- Não, idiota.
Fazia muito tempo que alguém não me chamava de idiota. Isso doeu.
- Você tem que me ajudar a levar o calango pro sul.
- Se eu sou idiota, você é doente.
- Você é idiota e não me conhece. Eu te conheço.
- Pra que você quer a ajuda de uma idiota, então?
- Para que você se comunique com os outros idiotas.
- Cara, eu te odeio tanto... – ele ignorou o meu comentário e continuou a falar no mesmo tom de sempre.
- Eu vou te mandar pra lá e você vai ser a encarregada do calango.
- Encarregada do calango? – não consegui conter o riso – Onde eu estou? Em algum fanzine de terceira?
- Idiota. Volte para casa agora. Você vai receber um e-mail com todas as informações que precisa.
- Você pode ao menos me dar uma carona na sua carroça? Já está tarde, fica meio perigoso voltar sozinha.
- Não.
Gritos
- Seu José está furioso hoje.
- Você sabe por quê?
- Eu não. Mas hoje nem é dia de lua cheia.
- E o que isso tem a ver?
- Olha... Dizem que os loucos ficam mais loucos na época de lua cheia.
- Vai ver os loucos eram os lobisomens.
- Os lobos homens.
- Os loucos homens.
- Você sabe por quê?
- Eu não. Mas hoje nem é dia de lua cheia.
- E o que isso tem a ver?
- Olha... Dizem que os loucos ficam mais loucos na época de lua cheia.
- Vai ver os loucos eram os lobisomens.
- Os lobos homens.
- Os loucos homens.
terça-feira, 28 de junho de 2005
Caçando calangos II
No dia seguinte, eu refiz o mesmo trajeto para encontrar o sertanejo misterioso, mas, obviamente, o mundo não era o mesmo. Descendo a Epitácio Pessoa encontrei uma cobra atropelada, fato, para mim, muitíssimo assustador.
Lembro-me da minha infância, quando meu pai me contava dos amigos dele na Inglaterra que perguntavam a ele se caçávamos cobras aqui no Brasil. Eu e meu pai sempre ríamos dessa história, considerando-a absurda. Ao ver aquela cobra espragatada no asfalto senti como se todos os ingleses rissem de mim. A sensação de angústia remeteu-me novamente à lembrança do homem da cabeça chata e do seu cordel. Seus primeiros versos diziam:
Neste grande mundo cão
Quem não é grã-fino sofre
Do diabo come o pão
De centavo pinga o cofre
É difícil ter um irmão
Que não seja do enxofre
Quem quer melhorar de vida
Quer dar o melhor pra família
Desce pra terra querida
Sem dinheiro nem mobília
Espera que sua ida
Seja aquela maravilha
É no sul que nordestino
Dá-se conta da verdade
Norte velho ou sul menino
Pobre sofre a eternidade
Os moleque sempre fino
Buxo d’água não se evade
Melhor era no nordeste
Onde era tudo irmão
Calango matava fome
Calango era a salvação
Mas a infelicidade consome
Sertanejo no sudeste
Como uma jovem que sempre morou em uma capital litorânea do nordeste, aqueles versos me irritaram profundamente. Tive a impressão de que haviam sido feitos por algum jornalista da Globo. Mas por que aquele homem teria me entregado aquele folheto? Comecei a desconfiar que ele quisesse a minha participação em algum grupo militante.
Lembro-me da minha infância, quando meu pai me contava dos amigos dele na Inglaterra que perguntavam a ele se caçávamos cobras aqui no Brasil. Eu e meu pai sempre ríamos dessa história, considerando-a absurda. Ao ver aquela cobra espragatada no asfalto senti como se todos os ingleses rissem de mim. A sensação de angústia remeteu-me novamente à lembrança do homem da cabeça chata e do seu cordel. Seus primeiros versos diziam:
Neste grande mundo cão
Quem não é grã-fino sofre
Do diabo come o pão
De centavo pinga o cofre
É difícil ter um irmão
Que não seja do enxofre
Quem quer melhorar de vida
Quer dar o melhor pra família
Desce pra terra querida
Sem dinheiro nem mobília
Espera que sua ida
Seja aquela maravilha
É no sul que nordestino
Dá-se conta da verdade
Norte velho ou sul menino
Pobre sofre a eternidade
Os moleque sempre fino
Buxo d’água não se evade
Melhor era no nordeste
Onde era tudo irmão
Calango matava fome
Calango era a salvação
Mas a infelicidade consome
Sertanejo no sudeste
Como uma jovem que sempre morou em uma capital litorânea do nordeste, aqueles versos me irritaram profundamente. Tive a impressão de que haviam sido feitos por algum jornalista da Globo. Mas por que aquele homem teria me entregado aquele folheto? Comecei a desconfiar que ele quisesse a minha participação em algum grupo militante.
domingo, 26 de junho de 2005
Caçando calangos
Eu estava sóbria quando ele me apareceu. Devia ter cerca de um metro e sessenta de "altura", cabeça chata (provavelmente de ter carregado muita lata d'água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Mariiiiiiiia...) pele morena queimada do sol e um olhar desconcertante. Eu estava descendo a Epitácio Pessoa às nove da noite, preocupada e com medo de que saísse algum meliante das matas do rio Jaguaribe quando ele me apareceu. Acho que melei minha calcinha de cocô quando essa figura parou na minha frente, mas com medo da reação dele ao farejar meu medo, fiz o possível para cumprimentá-lo normalmente. Ele não só ignorou a minha rara demonstração de educação como falou da maneira mais seca e grossa possível. Aí eu tive certeza de que estava melada.
O sertanejo entregou-me um folheto de cordel com a xilogravura de um calango na capa. Pelo menos eu achei que fosse um calango. Nunca tive muita certeza da diferença entre calango, lagartixa e víbora. Acho que nunca tinha visto um calango. A única coisa que ele me disse foi que voltasse para casa, lesse aquele folheto e voltasse no dia seguinte para aquele mesmo ponto da avenida, no mesmo horário para encontrá-lo.
Foi aí que minha curiosidade superou o meu medo.
O sertanejo entregou-me um folheto de cordel com a xilogravura de um calango na capa. Pelo menos eu achei que fosse um calango. Nunca tive muita certeza da diferença entre calango, lagartixa e víbora. Acho que nunca tinha visto um calango. A única coisa que ele me disse foi que voltasse para casa, lesse aquele folheto e voltasse no dia seguinte para aquele mesmo ponto da avenida, no mesmo horário para encontrá-lo.
Foi aí que minha curiosidade superou o meu medo.
quinta-feira, 23 de junho de 2005
Entrelinhas II
Date: Sat, 6 Dec 2003 19:57:46 -0500 [12/06/2003 10:57:46 PM BRT]
To: I
Subject: Re: agora eu tb sou xique!!!!!
Vou responder seus e-mails um por um agora!!!
Não tenho culpa se eles são grandes e no fim nunca dá tempo de respondê-
los ;PPP (e não, eu não quero que você escreva menos!!)
Eu ainda não vi "O homem que copiava" ;P Mas que bom que você gostou
viu ;) E sim, claro que eu ainda lembro do morto ;D Você tem falado com
ele? Jamais imaginei que esse filme tivesse qualquer coisa a ver com o
meu conto, mas eu vi num trailer que ele começa a falsificar dinheiro
por causa da doidinha que ele gostava, né?
Na hora de você pedir o acarajé, pode pedir quente ou frio (com ou sem
pimenta, respectivamente). Eu sempre peço sem, sou muito mole pra essas
coisas ;P
Aqui não é SP mas também tem pizza delivery ;P e tem também China in
Box ;P Mas não duvido que tenha disso lá na Bahia... Foda que o acarajé
lá da feirinha é 6 reais $_$~~
Sim, e eu desisti da estória do livro. Ia acabar saindo muito caro pra
mim, acho melhor seguir meios mais tradicionais, como tentar publicar
algo no jornal... É mais saudável e mais barato XP~
beijinhos, até o próximo e-mail ;D
To: I
Subject: Re: agora eu tb sou xique!!!!!
Vou responder seus e-mails um por um agora!!!
Não tenho culpa se eles são grandes e no fim nunca dá tempo de respondê-
los ;PPP (e não, eu não quero que você escreva menos!!)
Eu ainda não vi "O homem que copiava" ;P Mas que bom que você gostou
viu ;) E sim, claro que eu ainda lembro do morto ;D Você tem falado com
ele? Jamais imaginei que esse filme tivesse qualquer coisa a ver com o
meu conto, mas eu vi num trailer que ele começa a falsificar dinheiro
por causa da doidinha que ele gostava, né?
Na hora de você pedir o acarajé, pode pedir quente ou frio (com ou sem
pimenta, respectivamente). Eu sempre peço sem, sou muito mole pra essas
coisas ;P
Aqui não é SP mas também tem pizza delivery ;P e tem também China in
Box ;P Mas não duvido que tenha disso lá na Bahia... Foda que o acarajé
lá da feirinha é 6 reais $_$~~
Sim, e eu desisti da estória do livro. Ia acabar saindo muito caro pra
mim, acho melhor seguir meios mais tradicionais, como tentar publicar
algo no jornal... É mais saudável e mais barato XP~
beijinhos, até o próximo e-mail ;D
segunda-feira, 20 de junho de 2005
Porra...
- Eu recebi uma carta de um ex-namorado meu.
- E o que ele dizia nela?
- É uma carta enorme, parece-me cheia de rancor.
- Uau.
- Uau nada. Ele começa a carta dizendo que finalmente tinha se livrado de mim.
- Como assim?
- Acho que ele descobriu que não é mais apaixonado por mim.
- Há quanto tempo você acabou?
- Uns seis anos.
- Porra...
- E o que ele dizia nela?
- É uma carta enorme, parece-me cheia de rancor.
- Uau.
- Uau nada. Ele começa a carta dizendo que finalmente tinha se livrado de mim.
- Como assim?
- Acho que ele descobriu que não é mais apaixonado por mim.
- Há quanto tempo você acabou?
- Uns seis anos.
- Porra...
sábado, 18 de junho de 2005
No oftalmologista
- Agora sente aqui e encoste o rosto aqui.
Ele escolheu uma lente.
- Leia isso.
- A, c, e, f, y, z.
Mudou a lente.
- O, i, g, h, n, w.
Tapou a visão do meu olho esquerdo e começou a trocar as lentes do direito.
- Que tal essa lente?
- Não, tá embaçada.
- Ótimo. Que tal essa?
- Essa tá melhor.
- E essa?
- Também.
- E que tal essa?
- Também.
Voltou para a lente anterior começou a alternar as três últimas.
- Essa ou essa?
- Sei lá, pra mim é a mesma coisa.
- Tem uma pequena diferença, preste atenção.
- Tá...
- Essa ou essa?
- Ã... Essa.
- Essa?
- É.
- Tem certeza?
- O que é isso? "A Porta dos Desesperados"? Eu já falei que pra mim parece tudo a mesma merda, é claro que eu não tenho certeza.
- Tudo bem... Você tem miopia, astigmatismo e falta de educação.
- Isso eu já sabia antes da consulta. Qual o meu grau?
- Esse ou esse.
- Ai meus sais...
Ele escolheu uma lente.
- Leia isso.
- A, c, e, f, y, z.
Mudou a lente.
- O, i, g, h, n, w.
Tapou a visão do meu olho esquerdo e começou a trocar as lentes do direito.
- Que tal essa lente?
- Não, tá embaçada.
- Ótimo. Que tal essa?
- Essa tá melhor.
- E essa?
- Também.
- E que tal essa?
- Também.
Voltou para a lente anterior começou a alternar as três últimas.
- Essa ou essa?
- Sei lá, pra mim é a mesma coisa.
- Tem uma pequena diferença, preste atenção.
- Tá...
- Essa ou essa?
- Ã... Essa.
- Essa?
- É.
- Tem certeza?
- O que é isso? "A Porta dos Desesperados"? Eu já falei que pra mim parece tudo a mesma merda, é claro que eu não tenho certeza.
- Tudo bem... Você tem miopia, astigmatismo e falta de educação.
- Isso eu já sabia antes da consulta. Qual o meu grau?
- Esse ou esse.
- Ai meus sais...
segunda-feira, 6 de junho de 2005
Ciao Sampa
- Nunca comi em boteco.
- Oh, é mesmo! Você veio a Sampa e não comeu um "Virado à Paulista" num boteco!
- ...
- Ah, sim. Volta pra cá quando pra comer isso?
- Heheehe. Quando eu me aposentar.
- Oh, é mesmo! Você veio a Sampa e não comeu um "Virado à Paulista" num boteco!
- ...
- Ah, sim. Volta pra cá quando pra comer isso?
- Heheehe. Quando eu me aposentar.
Para Bandini
ESTREVISTADOR: Estamos aqui com Tatiana, uma jovem que só depois de conhecer as privações da vida pôde apreciar as maravilhas que o mundo tem a oferecer. (VIRA O ROSTO DA CÂMERA PARA O ENTREVISTADO) Diga-nos, como foi essa sua jornada? (APÓIA AS MÃOS NAS PERNAS E FAZ CARA DE INTERESSADO)
ENTREVISTADO: Tudo começou (PAUSA) quando eu me mudei para a cidade grande. (GRANDE PAUSA. CLOSE) Eu era uma jovem feliz que tinha uma vida confortável, mas tudo mudou quando eu fui para aquele apartamento... As dificuldades começaram quando ele apareceu...
ENTREVISTADOR: Ele quem?
ENTREVISTADO: O gato. (CLOSE NOS OLHOS) Eu sempre achei que ele era apenas mais uma criatura alegre e brincalhona... (PASSA O TAPE COM IMAGENS CASEIRAS DO GATO) Nunca imaginei que ele guardasse um poder tão maligno dentro de si... (FIM DO TAPE) Minha vida nunca mais foi a mesma depois que ele entrou por aquela porta (A PORTA É FILMADA).
PASSA O DEPOIMENTO DA PORTA:
"Quando o gato chegou eu não quis abrir, né. Mas não teve jeito. Bateram tanto em mim que eu tive que abrir. Eu já senti o mal neles, nos habitantes. Porque eu já sinto o mal de longe, né. Toda vez que o gato me encara eu fico com medo. Tem hora que eu travo mesmo."
ENTREVISTADOR: E você? Será que também convive com o mal? Será que o mal também está encarando a sua porta? Será que precisa renovar as energias da sua casa? Fique ligado nos próximos episódios do programa para saber como pressentir e expulsar o mal da sua vida.
ENTREVISTADO: Tudo começou (PAUSA) quando eu me mudei para a cidade grande. (GRANDE PAUSA. CLOSE) Eu era uma jovem feliz que tinha uma vida confortável, mas tudo mudou quando eu fui para aquele apartamento... As dificuldades começaram quando ele apareceu...
ENTREVISTADOR: Ele quem?
ENTREVISTADO: O gato. (CLOSE NOS OLHOS) Eu sempre achei que ele era apenas mais uma criatura alegre e brincalhona... (PASSA O TAPE COM IMAGENS CASEIRAS DO GATO) Nunca imaginei que ele guardasse um poder tão maligno dentro de si... (FIM DO TAPE) Minha vida nunca mais foi a mesma depois que ele entrou por aquela porta (A PORTA É FILMADA).
PASSA O DEPOIMENTO DA PORTA:
"Quando o gato chegou eu não quis abrir, né. Mas não teve jeito. Bateram tanto em mim que eu tive que abrir. Eu já senti o mal neles, nos habitantes. Porque eu já sinto o mal de longe, né. Toda vez que o gato me encara eu fico com medo. Tem hora que eu travo mesmo."
ENTREVISTADOR: E você? Será que também convive com o mal? Será que o mal também está encarando a sua porta? Será que precisa renovar as energias da sua casa? Fique ligado nos próximos episódios do programa para saber como pressentir e expulsar o mal da sua vida.
sexta-feira, 13 de maio de 2005
Lavagem
- Essa batata não tá muito boa hoje...
- É que hoje é o dia de pagar os policiais.
- Que emocionante, estou comendo em um restaurante da máfia grega.
- Qual você acha que é a área deles?
- Tráfico de drogas?
- Não...
- Tráfico de crianças para a prostituição?
- Deve ser isso... Olha só aquele garçom de gravatinha... Ele tem cara de quem a qualquer instante vai sacar uma arma e atirar em todos no restaurante... Acho que vou lá falar com ele e pedir pra que não faça isso enquanto eu estiver almoçando aqui... Vai, termina logo de comer que eu quero fumar o meu digestivo.
- É que hoje é o dia de pagar os policiais.
- Que emocionante, estou comendo em um restaurante da máfia grega.
- Qual você acha que é a área deles?
- Tráfico de drogas?
- Não...
- Tráfico de crianças para a prostituição?
- Deve ser isso... Olha só aquele garçom de gravatinha... Ele tem cara de quem a qualquer instante vai sacar uma arma e atirar em todos no restaurante... Acho que vou lá falar com ele e pedir pra que não faça isso enquanto eu estiver almoçando aqui... Vai, termina logo de comer que eu quero fumar o meu digestivo.
Fosfobox
- Porra, que sina!
- O que foi?
- Eu devia ter nascido homem. E viado. Ou então ter nascido no Japão.
- Por que?
- Porque eu só gosto de viado e de japonês, putamerda.
- Você tava paquerando algum viado?
- Tava. E ele deu mole pra mim.
- E você? Ficou que nem uma mongolóide na frente dele?
- Não, eu fiquei dançando do lado dele. Eu não dou em cima de viado. Mas aí chegou outra e eles começaram a se beijar.
- Mas ele é viado...
- E daí? Seria só por uma noite. Ele estava lambendo o pescoço dela. Era o meu pescoço que ele deveria estar lambendo.
- Meu deus...
- Por que que eu não nasci viado?
- Vai passar, calma. Daqui a pouco você volta ao normal.
- O que foi?
- Eu devia ter nascido homem. E viado. Ou então ter nascido no Japão.
- Por que?
- Porque eu só gosto de viado e de japonês, putamerda.
- Você tava paquerando algum viado?
- Tava. E ele deu mole pra mim.
- E você? Ficou que nem uma mongolóide na frente dele?
- Não, eu fiquei dançando do lado dele. Eu não dou em cima de viado. Mas aí chegou outra e eles começaram a se beijar.
- Mas ele é viado...
- E daí? Seria só por uma noite. Ele estava lambendo o pescoço dela. Era o meu pescoço que ele deveria estar lambendo.
- Meu deus...
- Por que que eu não nasci viado?
- Vai passar, calma. Daqui a pouco você volta ao normal.
terça-feira, 10 de maio de 2005
Água com cocô
- Ô Thaïs?
- Oi?
Pausa.
- Por que toda vez que eu chego você está no banheiro?
- O quê?
- Toda vez que eu chego aqui você está no banheiro.
- ... Se eu te disser você jura ficar calado e não contar a mais ninguém?
- Tá... Mas conta logo.
- É que eu sou meio anfíbia.
- Como?
- É. Quando vocês não estão aqui eu fico embaixo d'água para me hidratar.
- O que você tomou hoje?
- Água. Hohoho...
- Com cocô?
- Talvez.
- Oi?
Pausa.
- Por que toda vez que eu chego você está no banheiro?
- O quê?
- Toda vez que eu chego aqui você está no banheiro.
- ... Se eu te disser você jura ficar calado e não contar a mais ninguém?
- Tá... Mas conta logo.
- É que eu sou meio anfíbia.
- Como?
- É. Quando vocês não estão aqui eu fico embaixo d'água para me hidratar.
- O que você tomou hoje?
- Água. Hohoho...
- Com cocô?
- Talvez.
segunda-feira, 9 de maio de 2005
A verdade sobre A Lâmpada Maravilhosa
Eu sempre fui muito cético em relação a magias e misticismos, sempre disse a todos em alto e bom som que não acreditava em deus, anjos ou fantasmas. Descobri que era um mentiroso quando me deparei com uma lâmpada igual à do Alladin no meio da rua. Olhei para os dois lados antes de escondê-la no meu casaco e correr para casa louco de curiosidade.
Sentei-me na poltrona e deixei a lâmpada em cima do centro enquanto a encarava e me punia ao mesmo tempo. Tolo foi o termo mais sutil que usei entre vários outros.
Finalmente cansado da dúvida, precipitei-me sobre a lâmpada e comecei a esfregá-la entre as minhas mãos.
Não sei dizer se fiquei maravilhado ou apavorado quando constatei que estava saindo uma fumacinha multicolorida de dentro da lâmpada, era "a maravilhosa"!
Depois que a sala já estava repleta de fumaça, vi esta começar a se condensar e formar um vulto. Depois de alguns minutos estava na minha frente uma mulher de traços belíssimos e corpo escultural. Pude ver nitidamente que ela tinha traços árabes, fiquei encantado com aquela beleza exótica. Imagino que para cada um que possua a lâmpada o gênio toma uma forma árabe do seu gosto...
Passado esse momento, ela começou a falar comigo, provavelmente dizia que eu tinha direito de realizar três desejos, mas eu não entendo árabe, então não posso ter certeza. Tentei fazer os meus pedidos em português, mas ela apenas me encarava com um olhar de dúvida. Lembrei-me da propaganda do CCAA e comecei a falar em inglês, mas ela parecia continuar a não me entender (maldita propaganda enganosa). Ainda tentei falar em espanhol e francês (apesar de não ter domínio dessas línguas), mas nada adiantou. O negócio era árabe.
Acabei pedindo um kibe, uma esfiha e um beirute. Pelo menos estavam mais gostosos que os do Habib's.
Sentei-me na poltrona e deixei a lâmpada em cima do centro enquanto a encarava e me punia ao mesmo tempo. Tolo foi o termo mais sutil que usei entre vários outros.
Finalmente cansado da dúvida, precipitei-me sobre a lâmpada e comecei a esfregá-la entre as minhas mãos.
Não sei dizer se fiquei maravilhado ou apavorado quando constatei que estava saindo uma fumacinha multicolorida de dentro da lâmpada, era "a maravilhosa"!
Depois que a sala já estava repleta de fumaça, vi esta começar a se condensar e formar um vulto. Depois de alguns minutos estava na minha frente uma mulher de traços belíssimos e corpo escultural. Pude ver nitidamente que ela tinha traços árabes, fiquei encantado com aquela beleza exótica. Imagino que para cada um que possua a lâmpada o gênio toma uma forma árabe do seu gosto...
Passado esse momento, ela começou a falar comigo, provavelmente dizia que eu tinha direito de realizar três desejos, mas eu não entendo árabe, então não posso ter certeza. Tentei fazer os meus pedidos em português, mas ela apenas me encarava com um olhar de dúvida. Lembrei-me da propaganda do CCAA e comecei a falar em inglês, mas ela parecia continuar a não me entender (maldita propaganda enganosa). Ainda tentei falar em espanhol e francês (apesar de não ter domínio dessas línguas), mas nada adiantou. O negócio era árabe.
Acabei pedindo um kibe, uma esfiha e um beirute. Pelo menos estavam mais gostosos que os do Habib's.
terça-feira, 3 de maio de 2005
MSN: Brasis
Let´s take a trip together ? diz:
q frio
Let´s take a trip together ? diz:
ow meu deus
Let´s take a trip together ? diz:
eu nao mereço isso
Taï diz:
;P
Taï diz:
eu nunca pensei que fizesse frio no Rio de Janeiro ;P
Let´s take a trip together ? diz:
aiaiaiai
Let´s take a trip together ? diz:
tah parecendo o povo daqui achando q nao tem agua ai..
Let´s take a trip together ? diz:
viva a GLOBO
Taï diz:
hahahahaahah
Taï diz:
porra, eu achei que aí fosse que nem aqui ;P
Let´s take a trip together ? diz:
ela faz o q quer mesmo, e as aulas de geografia nao servem de nada
Taï diz:
rio 40° e blá³ ;P
Let´s take a trip together ? diz:
aqui é quente, no verao, mas aqui tem as 4 estaçoes, nao tao bem definido qnto no sul
Let´s take a trip together ? diz:
mas como o sul tah virando deserto
Let´s take a trip together ? diz:
o clima temperado tah vindo pro sudeste
Taï diz:
uau
Let´s take a trip together ? diz:
fora sao paulo q soh tem asfalto
Taï diz:
4 estações *____*
Taï diz:
passei minha vida toda sem saber o que é isso...
Taï diz:
como me disse alguém, é só sol e sol com chuva
Let´s take a trip together ? diz:
ehehehhehe
Let´s take a trip together ? diz:
=P
Let´s take a trip together ? diz:
aqui tem um outono lindo qndo nao ta nublado
Taï diz:
;~~
Taï diz:
agora é outono?
q frio
Let´s take a trip together ? diz:
ow meu deus
Let´s take a trip together ? diz:
eu nao mereço isso
Taï diz:
;P
Taï diz:
eu nunca pensei que fizesse frio no Rio de Janeiro ;P
Let´s take a trip together ? diz:
aiaiaiai
Let´s take a trip together ? diz:
tah parecendo o povo daqui achando q nao tem agua ai..
Let´s take a trip together ? diz:
viva a GLOBO
Taï diz:
hahahahaahah
Taï diz:
porra, eu achei que aí fosse que nem aqui ;P
Let´s take a trip together ? diz:
ela faz o q quer mesmo, e as aulas de geografia nao servem de nada
Taï diz:
rio 40° e blá³ ;P
Let´s take a trip together ? diz:
aqui é quente, no verao, mas aqui tem as 4 estaçoes, nao tao bem definido qnto no sul
Let´s take a trip together ? diz:
mas como o sul tah virando deserto
Let´s take a trip together ? diz:
o clima temperado tah vindo pro sudeste
Taï diz:
uau
Let´s take a trip together ? diz:
fora sao paulo q soh tem asfalto
Taï diz:
4 estações *____*
Taï diz:
passei minha vida toda sem saber o que é isso...
Taï diz:
como me disse alguém, é só sol e sol com chuva
Let´s take a trip together ? diz:
ehehehhehe
Let´s take a trip together ? diz:
=P
Let´s take a trip together ? diz:
aqui tem um outono lindo qndo nao ta nublado
Taï diz:
;~~
Taï diz:
agora é outono?
terça-feira, 26 de abril de 2005
Swing II
Ele e ela.
O outro e a outra.
A outra acaba com o outro.
Eu e o outro.
Eu acabo com o outro.
Ele e ela acabam.
Eu e ele.
Ela e o outro.
Ele acaba comigo.
Ele e a outra.
Ele e a outra acabam.
E por aí vai...
O outro e a outra.
A outra acaba com o outro.
Eu e o outro.
Eu acabo com o outro.
Ele e ela acabam.
Eu e ele.
Ela e o outro.
Ele acaba comigo.
Ele e a outra.
Ele e a outra acabam.
E por aí vai...
domingo, 17 de abril de 2005
Se um gato pode ligar pro 911 por que minha cadela não poderia fazer um emoticon?
[22:06] [=
[22:06] que suástica é ssa???
[22:06] uau
[22:06] 45. (One Piece] Como subir até White Sea?
[22:06] Here's your 1st hint, _____é_ _a _______ _t____
[22:06] minha cadela fez um emoticon
Mas confesso que fui eu que apertei o "enter" ;x
[22:06]
[22:06]
[22:06]
[22:06]
[22:06]
[22:06]
Mas confesso que fui eu que apertei o "enter" ;x
Ode à praia de Cabo Branco
Cabo dos saudáveis e dos acabados
Dos sadios e dos saudosos
Cabo dos solitários e dos acolhidos
Dos sofridos e dos solenes
Cabo das tormentas
Dos tarados
Cabo da televisão
Dos turistas
Cabo de todos os brancos
De todos os negros
De todos os índios
É cabo que não acaba mais
Dos sadios e dos saudosos
Cabo dos solitários e dos acolhidos
Dos sofridos e dos solenes
Cabo das tormentas
Dos tarados
Cabo da televisão
Dos turistas
Cabo de todos os brancos
De todos os negros
De todos os índios
É cabo que não acaba mais
terça-feira, 12 de abril de 2005
Eu te amo, cachorra
Desde piquititinha (ou desde Tatinha) eu assisto filmes como "Meu Primeiro Amor" ou "Meu Primeiro Amor 2" (cara, eu adoro esse título!) e aprendi muito cedo a valorizar o relacionamento homem x mulher (se quiser substitua algum dos gêneros pelo de sua preferência), ou melhor, supervalorizar.
Muito antes de completar minha primeira década eu já escrevia bilhetinhos apaixonados e colocava na mochila do meu amado. Claro que nunca recebia retorno algum, mas isso não me desanimava. A palavra "amor" foi adicionada muito cedo ao meu vocabulário e a idéia de que a única maneira decente de se viver é ao lado da sua cara metade ficou impregnada em mim.
Mais de dez anos depois, eu finalmente compreendi que não é tão fácil viver um romance e que não existe "felizes para sempre". Mas agora eu não tenho mais paciência para esperar pelo anoitecer. Não quero esperar seis meses. Não quero dizer "eu te amo" só para a minha cadela.
Muito antes de completar minha primeira década eu já escrevia bilhetinhos apaixonados e colocava na mochila do meu amado. Claro que nunca recebia retorno algum, mas isso não me desanimava. A palavra "amor" foi adicionada muito cedo ao meu vocabulário e a idéia de que a única maneira decente de se viver é ao lado da sua cara metade ficou impregnada em mim.
Mais de dez anos depois, eu finalmente compreendi que não é tão fácil viver um romance e que não existe "felizes para sempre". Mas agora eu não tenho mais paciência para esperar pelo anoitecer. Não quero esperar seis meses. Não quero dizer "eu te amo" só para a minha cadela.
segunda-feira, 11 de abril de 2005
Pense rápido.
Ontem à noite eu estava entediada e cortei os meus dedões do pé. Pelo menos agora posso voltar a pegar emprestado os sapatos da minha mãe.
"Je t'aime tant"
Ela me disse que se eu mostrasse as minhas tristezas ao mundo elas se encantariam com ele e me abandonariam.
Já fiz isso há muito tempo e agora constato que elas me amam. Quase tanto quanto ela.
Já fiz isso há muito tempo e agora constato que elas me amam. Quase tanto quanto ela.
domingo, 10 de abril de 2005
- Oi.
- Oi. E aí, tá rica?
- Ham?? Rica? Ô. Hieheihieheiheihei.
- Ehuehueheuheueh.
- Já tenho dinheiro pro ônibus. Quero trabalhar, la la la la. Quer dizer, querer não quero muito. Heheheheheh.
- Entendo. Você quer é o dinheiro.
- Queria acordar e ganhar 50 reais, só por acordar.
- Eu também quero. Hehehehehe.
- Vamos falar pro tio Lula. Ehiehiehiehiehie. Um estímulo pra nós estudarmos.
- ... Porra. As latinhas de cerveja estão muito pesadas.
- Vai beber?
- Terminei uma agora.
- Sozinha?
- É.
- Aff. Você não vai fazer festa esse ano?
- Eu não. Meu pai ligou pra falar comigo, pra combinar alguma coisa amanhã... eu fiquei me controlando pra não chorar no telefone. Não sei exatamente porque, mas meu aniversário me deixou triste. Isso nunca tinha me acontecido.
- Sei como é... Fiquei muito triste no meu aniversário que passei em Campina Grande, me controlando o dia todo pra não chorar... é horrível. Mas nunca mais vou deixar acontecer, até porque meus aniversários são sempre meio vazios... Mas pra você deve estar sendo estranho. Mas fica assim não, você tem dezenove anos e eu dezoito... Sabe que eu acho que todo mundo aqui no Rio me acha maluca demais? É como se todo mundo me criticasse de um jeito ou de outro.
- Afe... Eu tenho andado mais estranha que o normal.
- É engraçado, porque parece que aqui as pessoas são mais provincianas do que aí. Mas acho que é só questão de não ter ainda conhecido as pessoas certas. Por quê?
- Acho engraçado imaginar que o povo deve olhar pra mim e achar que eu tenho algum problema mental.
- Eiehieheiheiehiehiehiehie. Por que olhariam assim?
- Porque eu tenho agido meio... debilmente. Sei lá... Acho interessante ficar olhando pro teto... Muitas vezes mais interessante que certas aulas. Não fico olhando pra luz porque fode meus olhos... Bah, não tem como explicar.
- Eu te endendo. Estamos tendo as mesmas reações, só que distantes uma da outra. Duas perdidas.
- Nossa... Somos almas gêmeas!
- Eu também ando assim, meio débil, sempre fui né, mas agora mais. Acho que somos, eheiheiheiheiehie.
- Heuehuehueh.
- Que não conseguem viver naturalmente longe, eu pelo menos ando meio sem elo comigo mesma, com minha vida, meu passado, minha história... É como se nada tivesse existido.
- Eu imagino.
- É horrível não ter ninguém pra dividir, pra lembrar, pra rir das merdas...
- Também ando meio perdida... Nem com Luciana e Kelly tenho andado mais... Tudo é tãaao estranho ao meu redor...
- Ao meu também, hehehehe... Parece que tô no lugar errado, na hora errada SEMPRE. Antes eu achava engraçada minha leseira, agora não acho mais.
- Ehehehehe.
- Fico me sentindo mal com cada coisa que faço, como se todo mundo estivesse me julgando.
- Poxa... Eu tenho dançado com bonecas e cachorras.
- Hehehehehe. Coitada da MaDona. Mas isso vai passar. Deve passar. Sempre passa, né? Já passei por coisas piores em Campina e tudo passou e voltou a ser bom.
- Ela gosta.
- Deve ser necessário, é o que dizem os mais velhos, ho ho ho. Gosta? Ela deve ficar tonta, ehiehiehie.
- Hehehehehehe. Ela fica doidinha. É tão meiga... Ainda bem que tenho ela pra me alegrar mais um pouco. Ainda tenho que tomar banho. A última vez foi sexta-feira. Tô com a escova no cabelo desde quinta-feira.
- Hahahahahaha.
- Já estou sentindo os piolhos nascerem.
- Tá mal, hein?
- AHuHAuHauHauHauHAUh.
- Minha mãe disse que você tá linda.
- Ela ainda não tinha me visto de cabelo curto.
- Hihihihi.
- Disse que antes você tava feinha, mas agora... hohohohoho, briiiiiincando, pelamordedeus, brincando! Amigo, amigo, ehehehehehehehe.
- Já te contei que descolori as pontas, né?
- Contou. Queria fotos...
- Quando tirar te mostro. Tirar que é o "pobrema", hehehe.
- Ehieheiheiehiehie. Manda K ir aí pra tirar. É teu aniversário, afinal, ehehehehe.
- Euehuehueheuheuhe. Será...
- Se tu não mandar eu mando, ho ho ho.
- Afe. Eu vejo se tiro alguma na casa de Angélica.
- Você vai lá?
- De vez em quando. Tenho visto mais ela e Luísa nesses últimos dias.
- Eduardo salvou Angélica da clausura, ehehehhe.
- Heuehuehueheuhe, é verdade... Meu joelho tá doendo. Acho que é de ficar sentada nessa cadeira...
- Ehehehhehehe. Meu joelho não dói de ficar sentada. Aliás, meu joelho é a única coisa que não dói... Queria um gravador de CD... Queria tanto.
- É bem útil.
- Ou melhor, queria um iPod. Ia ficar amarradona ouvindo música no trabalho, no ônibus, na aula, em todo momento. Ia fingir que estava prestando atenção nas merdas burguesas dos outros. Ia rir sem fingir... Ia ser ótimo.
- Heuheuheuheuhe. iPod é um MP3 player, né?
- Exato.
- Também queria...
- Deve ser muito caro, hieheiheiehiehie.
- Sim, meu pai vai me dar um celular, vou me livrar do meu tijolo. Meu pai me dá um celular e minha mãe me dá uma rede, hehehehehehehe...
- Rede? Ehiehieheihie.
- Sim. Ela me deu uma rede.
- Rede de dormir? Por que? Faz mal pra coluna, heiheihei.
- Sim. Ou, rede é legal. É emocionante. Só que eu não tenho armador no quarto e ficar na rede no terraço não rola, todo mundo que passar na rua te vê. Ah, Thiago me deu um CD de Nina Simone.
- Odeio tanto o meu computador, mas tanto, tanto!
- Tua mãe acabou de ligar, heheheh.
- Coitada, ela é carente.
- Ou.
- Me liga mil vezes. E eu tenho sempre que ter algo pra falar...
- Ela disse que Tânia queria me dar um presente...
- ... se não é porque não a amo mais. Por que ninguém me dá um presente? Heiheiehiehiehiehie. Aaaah, quero meu apartamento, um iPod e um computador novo. Acho que vou vender meu corpo. Pensa bem.
- Heueuheuehuehueh.
- Já acham que eu sou maluca, maluca e meia e ganhando dinheiro é vantagem, ehehehehe.
- Já vou, doidona.
- Ham? Doidona? Tá maluca?
- hUAhAhuHAuHUAhUAhuHA! Pô, eu sou uma pessoa antiga.
- Heiehiehiehiehie. Das antigas, doido.
- Não conheço as gírias novas da parada. hahhauHUaUAUAUHAUhA.
- É isso aí, bacana, ein? Mas tu vai pra onde?
- Do balacobaco. Sair. Meus braços estão doendo, acho que vou ver um filme.
- Eu hein, que falta do que fazer, ehiehiehiehiehie. Aposto que você já sabe o final. O meio e o início.
- Pia. Esse povo que faz cinema... Pra início de conversa eu nem sei que filme vou assistir, hehehehe.
- Eheiheiehiehieheihie. Tudo bem, então pega de olhos bem fechados.
- Só porque eu gosto de adivinhar os filmes.
- Eu entro em sebo assim agora, ehehehehhehe.
- Eita, hUAhUAhuahUHAuHA. Já deu em muita merda?
- Não, eheheiheiehiehie. Eu vou nas sessões que me interessam, hehehehehe. Vou começar a ler "Trópico de Câncer" de Henry Miller, o equatoriano disse que eu tinha um estilo parecido com o dele, fiquei tão feliz, ehieheiheiheiheie.
- Heuehuehueh. Eita. Tu sabe que Caio disse que eu fazia stream of consciousness naquele texto sobre a gente, né? Eu me caguei todinha. Sou a nova Virgina Woolf, hUahUAhHauHA.
- Que porra é isso? Sou ignorante, ehiehieheiheie.
- É uma característima dela e de Joyce. Deixa eu ver se tem falando aqui nomeu livro pra te dar uma esplicação mais certeira.
- Esplicação...
- Eita porra. Caralho. Que erro horroroso!
- Liga não, ehieheiheiheiehiehieheihie. É que eu sou nerd agora e reparo nessas coisas.
- Eu tô com essa mania feia agora. Não, eu também reparo! Sou chata que só a porra com isso, mas tô com mania de errar coisas que eu sei, como se não fosse suficiente errar as que não sei.
- Ehiehiehieheiheiheiehiehie. Eu também faço isso, beibe. É o normal, é o que acontece com seres dementes, hihihi. O que te incomodou na minha narrativa no conto? Nathalia disse "gostei, mas acho que você poderia melhorar algumas coisas na narrativa". Será que só quem vai gostar é você e Soromenho? Hieheiheiheiehiehi.
- Eheuehuehuehueh. Acho que só os erros gramaticais me incomodaram mesmo.
- Tanto assim? Hieheiheiheihe.
- Não.
- Me dê uma "esplicação", ho ho ho.
- Mas como disse, sou chata.
- Eu sou má.
- Tá masas. Caralho. Tá massa. Se prepare.
- Heiheiehiehieheiheie.
- Sim, mas continuando.
- Tô morrendo de rir aqui, professora de português. Fala.
- Não tem no livro. Mas seria mais ou menos os pensamentos dos personagens misturados no meio da narrativa, entende?
- Qual foi o texto?
- Aquele em inglês (dã) que eu postei no "Babados & Firulas".
- Tia Virginia era frígida, ho ho ho. Mas tudo bem, você não é. Tá, tudo bem então. Ehehehehehe.
- Eu sou. Hohohohoh. Ainda não tive um orgasmo com um homem esse ano. Tudo bem que falando assim parece mais que eu sou "lébsca", eheeheheh.
- Teve consigo mesma?
- Tive.
- Oi. E aí, tá rica?
- Ham?? Rica? Ô. Hieheihieheiheihei.
- Ehuehueheuheueh.
- Já tenho dinheiro pro ônibus. Quero trabalhar, la la la la. Quer dizer, querer não quero muito. Heheheheheh.
- Entendo. Você quer é o dinheiro.
- Queria acordar e ganhar 50 reais, só por acordar.
- Eu também quero. Hehehehehe.
- Vamos falar pro tio Lula. Ehiehiehiehiehie. Um estímulo pra nós estudarmos.
- ... Porra. As latinhas de cerveja estão muito pesadas.
- Vai beber?
- Terminei uma agora.
- Sozinha?
- É.
- Aff. Você não vai fazer festa esse ano?
- Eu não. Meu pai ligou pra falar comigo, pra combinar alguma coisa amanhã... eu fiquei me controlando pra não chorar no telefone. Não sei exatamente porque, mas meu aniversário me deixou triste. Isso nunca tinha me acontecido.
- Sei como é... Fiquei muito triste no meu aniversário que passei em Campina Grande, me controlando o dia todo pra não chorar... é horrível. Mas nunca mais vou deixar acontecer, até porque meus aniversários são sempre meio vazios... Mas pra você deve estar sendo estranho. Mas fica assim não, você tem dezenove anos e eu dezoito... Sabe que eu acho que todo mundo aqui no Rio me acha maluca demais? É como se todo mundo me criticasse de um jeito ou de outro.
- Afe... Eu tenho andado mais estranha que o normal.
- É engraçado, porque parece que aqui as pessoas são mais provincianas do que aí. Mas acho que é só questão de não ter ainda conhecido as pessoas certas. Por quê?
- Acho engraçado imaginar que o povo deve olhar pra mim e achar que eu tenho algum problema mental.
- Eiehieheiheiehiehiehiehie. Por que olhariam assim?
- Porque eu tenho agido meio... debilmente. Sei lá... Acho interessante ficar olhando pro teto... Muitas vezes mais interessante que certas aulas. Não fico olhando pra luz porque fode meus olhos... Bah, não tem como explicar.
- Eu te endendo. Estamos tendo as mesmas reações, só que distantes uma da outra. Duas perdidas.
- Nossa... Somos almas gêmeas!
- Eu também ando assim, meio débil, sempre fui né, mas agora mais. Acho que somos, eheiheiheiheiehie.
- Heuehuehueh.
- Que não conseguem viver naturalmente longe, eu pelo menos ando meio sem elo comigo mesma, com minha vida, meu passado, minha história... É como se nada tivesse existido.
- Eu imagino.
- É horrível não ter ninguém pra dividir, pra lembrar, pra rir das merdas...
- Também ando meio perdida... Nem com Luciana e Kelly tenho andado mais... Tudo é tãaao estranho ao meu redor...
- Ao meu também, hehehehe... Parece que tô no lugar errado, na hora errada SEMPRE. Antes eu achava engraçada minha leseira, agora não acho mais.
- Ehehehehe.
- Fico me sentindo mal com cada coisa que faço, como se todo mundo estivesse me julgando.
- Poxa... Eu tenho dançado com bonecas e cachorras.
- Hehehehehe. Coitada da MaDona. Mas isso vai passar. Deve passar. Sempre passa, né? Já passei por coisas piores em Campina e tudo passou e voltou a ser bom.
- Ela gosta.
- Deve ser necessário, é o que dizem os mais velhos, ho ho ho. Gosta? Ela deve ficar tonta, ehiehiehie.
- Hehehehehehe. Ela fica doidinha. É tão meiga... Ainda bem que tenho ela pra me alegrar mais um pouco. Ainda tenho que tomar banho. A última vez foi sexta-feira. Tô com a escova no cabelo desde quinta-feira.
- Hahahahahaha.
- Já estou sentindo os piolhos nascerem.
- Tá mal, hein?
- AHuHAuHauHauHauHAUh.
- Minha mãe disse que você tá linda.
- Ela ainda não tinha me visto de cabelo curto.
- Hihihihi.
- Disse que antes você tava feinha, mas agora... hohohohoho, briiiiiincando, pelamordedeus, brincando! Amigo, amigo, ehehehehehehehe.
- Já te contei que descolori as pontas, né?
- Contou. Queria fotos...
- Quando tirar te mostro. Tirar que é o "pobrema", hehehe.
- Ehieheiheiehiehie. Manda K ir aí pra tirar. É teu aniversário, afinal, ehehehehe.
- Euehuehueheuheuhe. Será...
- Se tu não mandar eu mando, ho ho ho.
- Afe. Eu vejo se tiro alguma na casa de Angélica.
- Você vai lá?
- De vez em quando. Tenho visto mais ela e Luísa nesses últimos dias.
- Eduardo salvou Angélica da clausura, ehehehhe.
- Heuehuehueheuhe, é verdade... Meu joelho tá doendo. Acho que é de ficar sentada nessa cadeira...
- Ehehehhehehe. Meu joelho não dói de ficar sentada. Aliás, meu joelho é a única coisa que não dói... Queria um gravador de CD... Queria tanto.
- É bem útil.
- Ou melhor, queria um iPod. Ia ficar amarradona ouvindo música no trabalho, no ônibus, na aula, em todo momento. Ia fingir que estava prestando atenção nas merdas burguesas dos outros. Ia rir sem fingir... Ia ser ótimo.
- Heuheuheuheuhe. iPod é um MP3 player, né?
- Exato.
- Também queria...
- Deve ser muito caro, hieheiheiehiehie.
- Sim, meu pai vai me dar um celular, vou me livrar do meu tijolo. Meu pai me dá um celular e minha mãe me dá uma rede, hehehehehehehe...
- Rede? Ehiehieheihie.
- Sim. Ela me deu uma rede.
- Rede de dormir? Por que? Faz mal pra coluna, heiheihei.
- Sim. Ou, rede é legal. É emocionante. Só que eu não tenho armador no quarto e ficar na rede no terraço não rola, todo mundo que passar na rua te vê. Ah, Thiago me deu um CD de Nina Simone.
- Odeio tanto o meu computador, mas tanto, tanto!
- Tua mãe acabou de ligar, heheheh.
- Coitada, ela é carente.
- Ou.
- Me liga mil vezes. E eu tenho sempre que ter algo pra falar...
- Ela disse que Tânia queria me dar um presente...
- ... se não é porque não a amo mais. Por que ninguém me dá um presente? Heiheiehiehiehiehie. Aaaah, quero meu apartamento, um iPod e um computador novo. Acho que vou vender meu corpo. Pensa bem.
- Heueuheuehuehueh.
- Já acham que eu sou maluca, maluca e meia e ganhando dinheiro é vantagem, ehehehehe.
- Já vou, doidona.
- Ham? Doidona? Tá maluca?
- hUAhAhuHAuHUAhUAhuHA! Pô, eu sou uma pessoa antiga.
- Heiehiehiehiehie. Das antigas, doido.
- Não conheço as gírias novas da parada. hahhauHUaUAUAUHAUhA.
- É isso aí, bacana, ein? Mas tu vai pra onde?
- Do balacobaco. Sair. Meus braços estão doendo, acho que vou ver um filme.
- Eu hein, que falta do que fazer, ehiehiehiehiehie. Aposto que você já sabe o final. O meio e o início.
- Pia. Esse povo que faz cinema... Pra início de conversa eu nem sei que filme vou assistir, hehehehe.
- Eheiheiehiehieheihie. Tudo bem, então pega de olhos bem fechados.
- Só porque eu gosto de adivinhar os filmes.
- Eu entro em sebo assim agora, ehehehehhehe.
- Eita, hUAhUAhuahUHAuHA. Já deu em muita merda?
- Não, eheheiheiehiehie. Eu vou nas sessões que me interessam, hehehehehe. Vou começar a ler "Trópico de Câncer" de Henry Miller, o equatoriano disse que eu tinha um estilo parecido com o dele, fiquei tão feliz, ehieheiheiheiheie.
- Heuehuehueh. Eita. Tu sabe que Caio disse que eu fazia stream of consciousness naquele texto sobre a gente, né? Eu me caguei todinha. Sou a nova Virgina Woolf, hUahUAhHauHA.
- Que porra é isso? Sou ignorante, ehiehieheiheie.
- É uma característima dela e de Joyce. Deixa eu ver se tem falando aqui nomeu livro pra te dar uma esplicação mais certeira.
- Esplicação...
- Eita porra. Caralho. Que erro horroroso!
- Liga não, ehieheiheiheiehiehieheihie. É que eu sou nerd agora e reparo nessas coisas.
- Eu tô com essa mania feia agora. Não, eu também reparo! Sou chata que só a porra com isso, mas tô com mania de errar coisas que eu sei, como se não fosse suficiente errar as que não sei.
- Ehiehiehieheiheiheiehiehie. Eu também faço isso, beibe. É o normal, é o que acontece com seres dementes, hihihi. O que te incomodou na minha narrativa no conto? Nathalia disse "gostei, mas acho que você poderia melhorar algumas coisas na narrativa". Será que só quem vai gostar é você e Soromenho? Hieheiheiheiehiehi.
- Eheuehuehuehueh. Acho que só os erros gramaticais me incomodaram mesmo.
- Tanto assim? Hieheiheiheihe.
- Não.
- Me dê uma "esplicação", ho ho ho.
- Mas como disse, sou chata.
- Eu sou má.
- Tá masas. Caralho. Tá massa. Se prepare.
- Heiheiehiehieheiheie.
- Sim, mas continuando.
- Tô morrendo de rir aqui, professora de português. Fala.
- Não tem no livro. Mas seria mais ou menos os pensamentos dos personagens misturados no meio da narrativa, entende?
- Qual foi o texto?
- Aquele em inglês (dã) que eu postei no "Babados & Firulas".
- Tia Virginia era frígida, ho ho ho. Mas tudo bem, você não é. Tá, tudo bem então. Ehehehehehe.
- Eu sou. Hohohohoh. Ainda não tive um orgasmo com um homem esse ano. Tudo bem que falando assim parece mais que eu sou "lébsca", eheeheheh.
- Teve consigo mesma?
- Tive.
sábado, 9 de abril de 2005
Satisfaction
Sabe qual a maior satisfação de uma mulher? Não, não é ter orgasmos múltiplos, aliás, isso é algo muito raro. É você saber que pode pegar qualquer roupa do seu guarda-roupa porque se depilou ontem. Você se torna uma pessoa mais forte depois que passa a se depilar com cera todos os meses. Fazer tatuagem vira fichinha. Lidar com os homens? Aí acho que só quem depila tudo - quando eu digo tudo, pensem em tudo mesmo, principalmente os lugares mais "inóspitos".
quinta-feira, 7 de abril de 2005
Taï "now we are together" says:
você também não viu minhas atualizações
Anike says:
vi sim
Anike says:
n me lembro pq to bebada
Anike says:
mas vi
Anike says:
eheheheh
Taï "now we are together" says:
já?
Anike says:
sim
Taï "now we are together" says:
bebeu em casa mesmo?
Anike says:
mais ou menos
Anike says:
comecei no leblon
Anike says:
passei pra botaqfogo
Anike says:
e cheguei em casa q tb eh em botafogo
Taï "now we are together" says:
ehhehe
Anike says:
soh q agora to bebendo sozinha
Taï "now we are together" says:
ah ;P
Taï "now we are together" says:
beber sozinha é mais triste que ir ao cinema sozinha ;P
Anike says:
ah
Anike says:
nao sei
Anike says:
faço os dois sozinha
Anike says:
entao nem ligo
Anike says:
ehehehehe
Taï "now we are together" says:
eu só bebo sozinha quando estou deprimida ;P~~
Taï "now we are together" says:
o bom de beber é socializar
Taï "now we are together" says:
pra mim, claro ;P
Taï "now we are together" says:
na semana santa eu tomei umas cervejas com Laina e comecei a falar dos meus problemas
Taï "now we are together" says:
huehuehuehuehuehe
Anike says:
ehehheheehhe
Taï "now we are together" says:
coisa que eu quase não faço com a minha terapeuta, claro
Taï "now we are together" says:
ela só fica perguntando como era a minha infância em casa
Taï "now we are together" says:
ela quer porque quer que eu admita que não fui suficientemente amada
Anike says:
ahiahiahihaiahihiahiahaihaiahiahiahiahaihia
Anike says:
natural
Taï "now we are together" says:
hheheheheheheh
Taï "now we are together" says:
vou ver o filme de novo
Anike says:
vai la
Anike says:
divirta-se
Taï: revendo o filme que acabei de ver. says:
obrigada
Taï: revendo o filme que acabei de ver. says:
você também ;*
Anike says:
õ
você também não viu minhas atualizações
Anike says:
vi sim
Anike says:
n me lembro pq to bebada
Anike says:
mas vi
Anike says:
eheheheh
Taï "now we are together" says:
já?
Anike says:
sim
Taï "now we are together" says:
bebeu em casa mesmo?
Anike says:
mais ou menos
Anike says:
comecei no leblon
Anike says:
passei pra botaqfogo
Anike says:
e cheguei em casa q tb eh em botafogo
Taï "now we are together" says:
ehhehe
Anike says:
soh q agora to bebendo sozinha
Taï "now we are together" says:
ah ;P
Taï "now we are together" says:
beber sozinha é mais triste que ir ao cinema sozinha ;P
Anike says:
ah
Anike says:
nao sei
Anike says:
faço os dois sozinha
Anike says:
entao nem ligo
Anike says:
ehehehehe
Taï "now we are together" says:
eu só bebo sozinha quando estou deprimida ;P~~
Taï "now we are together" says:
o bom de beber é socializar
Taï "now we are together" says:
pra mim, claro ;P
Taï "now we are together" says:
na semana santa eu tomei umas cervejas com Laina e comecei a falar dos meus problemas
Taï "now we are together" says:
huehuehuehuehuehe
Anike says:
ehehheheehhe
Taï "now we are together" says:
coisa que eu quase não faço com a minha terapeuta, claro
Taï "now we are together" says:
ela só fica perguntando como era a minha infância em casa
Taï "now we are together" says:
ela quer porque quer que eu admita que não fui suficientemente amada
Anike says:
ahiahiahihaiahihiahiahaihaiahiahiahiahaihia
Anike says:
natural
Taï "now we are together" says:
hheheheheheheh
Taï "now we are together" says:
vou ver o filme de novo
Anike says:
vai la
Anike says:
divirta-se
Taï: revendo o filme que acabei de ver. says:
obrigada
Taï: revendo o filme que acabei de ver. says:
você também ;*
Anike says:
õ
quarta-feira, 6 de abril de 2005
Por que não falo mais?
Por que não atualizo o blog todos os dias? Porque eu não tenho a vida suficientemente interessante e também não tenho mais imaginação. Será que se eu narrar tudo consigo fazê-los rir? Vamos tentar. Vou cagar e já volto.
Pronto. Hum, vejamos... Hoje eu acordei mais cedo que ontem mas passei a tarde na cama paquerando o prato de macarrão. Acho que estou com algum distúrbio alimentar bizarro, não tenho mais vontade de comer coisas saudáveis, não consigo engolir o meu almoço todo... Não é bulimia porque eu não vomito (apesar de viver enjoada) nem anorexia, senão eu não comeria chocolate, pizza... Levando em consideração o fato de que eu estou em processo de analfabetismo, talvez eu esteja regredindo. Estou voltando a ser criança, só que minha mãe não tem mais argumentos para me obrigar a comer (e mesmo se tivesse ela passa a semana em Campina Grande)... Certo, agora eu fiquei com medo. Finalmente saí da cama para tomar banho e ir para a terapia. E claro que não comi tudo. Deixei o purê e metade do macarrão com carne moída (o pior é que estava bom!). Como sempre, na terapia eu tive que falar sobre a minha infância. O negócio é que durante a sessão não só a psicóloga fica me analisando, mas eu também a analiso. Quando ela começa com as perguntas dela já sei que ela quer que eu fale sobre algum problema de infância que me traumatizou e me transformou no que eu sou hoje. Bach. Saí da terapia e vim pro computador.
E aí, foi bom pra vocês como foi para mim? Ugh.
Pronto. Hum, vejamos... Hoje eu acordei mais cedo que ontem mas passei a tarde na cama paquerando o prato de macarrão. Acho que estou com algum distúrbio alimentar bizarro, não tenho mais vontade de comer coisas saudáveis, não consigo engolir o meu almoço todo... Não é bulimia porque eu não vomito (apesar de viver enjoada) nem anorexia, senão eu não comeria chocolate, pizza... Levando em consideração o fato de que eu estou em processo de analfabetismo, talvez eu esteja regredindo. Estou voltando a ser criança, só que minha mãe não tem mais argumentos para me obrigar a comer (e mesmo se tivesse ela passa a semana em Campina Grande)... Certo, agora eu fiquei com medo. Finalmente saí da cama para tomar banho e ir para a terapia. E claro que não comi tudo. Deixei o purê e metade do macarrão com carne moída (o pior é que estava bom!). Como sempre, na terapia eu tive que falar sobre a minha infância. O negócio é que durante a sessão não só a psicóloga fica me analisando, mas eu também a analiso. Quando ela começa com as perguntas dela já sei que ela quer que eu fale sobre algum problema de infância que me traumatizou e me transformou no que eu sou hoje. Bach. Saí da terapia e vim pro computador.
E aí, foi bom pra vocês como foi para mim? Ugh.
sábado, 2 de abril de 2005
Relation ship
Antes do pôr-do-sol eles se encontram e decidem tomar um café. O lugar escolhido é calmo e bucólico. Eles escolhem uma mesa perto da mata e - demoram um pouco, mas - fazem seus pedidos. Depois disso começam a conversar sobre qualquer coisa. Nada que mudaria a vida dos dois naquele momento.
Seus pedidos chegam e eles se calam parcialmente. Ela bebe o seu suco e ouve atentamente o que ele fala periodicamente. Como sempre, ela tem medo, prefere só ouvir, sente-se sempre superficial e desinteressante quando começa a falar.
Então as palavras dão lugar ao canto das cigarras e ao farfalhar das árvores.
Eles se separam algum tempo depois, mas ela não pára de perguntar-se o que teria feito errado desta vez, o que virá então a acontecer, no que deveria acreditar. Ela sente a necessidade de esperar algo mas não sabe o quê.
Ela ainda precisa apanhar um pouco mais para saber que não adianta tentar ser outra que não ela mesma. Mas ela continua amedrontada. Desarmada. Desamada.
Thaïs Gualberto
Seus pedidos chegam e eles se calam parcialmente. Ela bebe o seu suco e ouve atentamente o que ele fala periodicamente. Como sempre, ela tem medo, prefere só ouvir, sente-se sempre superficial e desinteressante quando começa a falar.
Então as palavras dão lugar ao canto das cigarras e ao farfalhar das árvores.
Eles se separam algum tempo depois, mas ela não pára de perguntar-se o que teria feito errado desta vez, o que virá então a acontecer, no que deveria acreditar. Ela sente a necessidade de esperar algo mas não sabe o quê.
Ela ainda precisa apanhar um pouco mais para saber que não adianta tentar ser outra que não ela mesma. Mas ela continua amedrontada. Desarmada. Desamada.
Thaïs Gualberto
sexta-feira, 1 de abril de 2005
Conheçam o Umbigo:
- Vadia. Vagabunda.
- É o quê?
- Desculpe-me, é que eu tenho síndrome de Tourette - e segue adiante à procura de uma nova vítima - Babaca, cretino, vi-a-do!
- Ora, seu...
- Eu tenho síndrome de Tourette.
- E eu com isso?
- As palavras pulam da minha boca, não consigo controlá-las.
- Que estória absurda é essa? Eu por acaso tenho cara de idiota?
- Tem. Viu?! Eu jamais diria isso.
- É o quê?
- Desculpe-me, é que eu tenho síndrome de Tourette - e segue adiante à procura de uma nova vítima - Babaca, cretino, vi-a-do!
- Ora, seu...
- Eu tenho síndrome de Tourette.
- E eu com isso?
- As palavras pulam da minha boca, não consigo controlá-las.
- Que estória absurda é essa? Eu por acaso tenho cara de idiota?
- Tem. Viu?! Eu jamais diria isso.
quinta-feira, 31 de março de 2005
Quais seriam as sensações do amor?
- Êpa...
- O que foi?
- Acho que vou vomitar...
- Você está passando mal?
- ... Alarme falso, só estou amando.
PERGUNTA: Se Cebola é sobrenome, qual o verdadeiro nome do Cebolinha? Ele é judeu, pra ter nome de tubérculo? Pode reparar que ele não gosta de emprestar dinheiro...
- Êpa...
- O que foi?
- Acho que vou vomitar...
- Você está passando mal?
- ... Alarme falso, só estou amando.
PERGUNTA: Se Cebola é sobrenome, qual o verdadeiro nome do Cebolinha? Ele é judeu, pra ter nome de tubérculo? Pode reparar que ele não gosta de emprestar dinheiro...
quarta-feira, 30 de março de 2005
Eu os observo. Bebendo, conversando, trabalhando e anotando. Na esquina do bar eu os observo, sendo pouco observada. Melhor assim. Penso, e muito, mas nada encontro. Queria criar, mas minha musa parece estar de recesso. Não crio, não converso nem me divirto. E há quem não compreenda como se fica sozinho em meio à multidão.
terça-feira, 29 de março de 2005
Pedro Bó pergunta, Umbigo responde.
- Por que as coisas estão sempre no último lugar que procuramos?
- Porque você não vai continuar procurando depois de encontrar, vai?
- Porque você não vai continuar procurando depois de encontrar, vai?
sábado, 26 de março de 2005
Barbie de cinema. Sem sentido nem qualidade.
- Eu ainda tô sentindo o cheiro de Barbie do cinema...
- Tinha uma Barbie no cinema?
- Não.
- E de onde vinha o cheiro?
- Do cinema.
- Mas de que lugar do cinema?
- O cinema tem cheiro de Barbie.
- Barbie?
- É, Barbie nova.
- Você tá maluca?
- É que você nunca teve uma Barbie, não sabe como é o cheiro.
- Quem te disse que não?
- Você tinha uma Barbie?
- Eu não disse que tinha.
- Você sabe como é o cheiro de Barbie nova?
- Eu poderia saber.
- Como? Roubando as Barbies da sua irmã? Ou pedindo uma de presente pro seu pai?
- Por que não?
- É...
- As pessoas são capazes de coisas mais estranhas.
- Você não cheirava as caixas de Barbie, cheirava?
- Elas tinham um cheiro tão bom...
- Tinha uma Barbie no cinema?
- Não.
- E de onde vinha o cheiro?
- Do cinema.
- Mas de que lugar do cinema?
- O cinema tem cheiro de Barbie.
- Barbie?
- É, Barbie nova.
- Você tá maluca?
- É que você nunca teve uma Barbie, não sabe como é o cheiro.
- Quem te disse que não?
- Você tinha uma Barbie?
- Eu não disse que tinha.
- Você sabe como é o cheiro de Barbie nova?
- Eu poderia saber.
- Como? Roubando as Barbies da sua irmã? Ou pedindo uma de presente pro seu pai?
- Por que não?
- É...
- As pessoas são capazes de coisas mais estranhas.
- Você não cheirava as caixas de Barbie, cheirava?
- Elas tinham um cheiro tão bom...
quarta-feira, 16 de março de 2005
Musicalidade II
Se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isso vai lhe causar muita dor
Vou enfiar meu microfone pela sua boca
Não terá coragem nem de dizer que estou rouca
Saiba que isso vai lhe causar muita dor
Vou enfiar meu microfone pela sua boca
Não terá coragem nem de dizer que estou rouca
sexta-feira, 11 de março de 2005
Menina e mulher II
Outra coisa que me assustou no meu “novo corpo” foi o aumento da minha libido: de repente eu passei a sentir uns arrepios ao ver passar aqueles jovens saudáveis e cheios de vida...
Comecei a procurar namorados, mas logo me dei conta de que era algo muito mais difícil do que eu imaginava. Acho que as outras, que envelheceram antes de mim, foram mais espertas e pegaram logo todos que prestavam e eram heterossexuais. Primeiro eu pensei em “converter” um gay, mas depois vi que era mais fácil, lógico e saudável converter um não-gay, mesmo. Resolvi me contentar com os homens comuns e até que me renderam boas experiências, mas a vida útil dos relacionamentos era muito curta. Em menos de um ano o prazo de validade expirava e eu tinha que sair correndo. De vez em quando uma das mais experientes abria mão dos seus e eu conseguia fisgar, mas eu não era competente o suficiente para segura-lo e em pouco tempo ele me escapava.
Desisti da pesca muito cedo, mas não virei vegetariana, ainda tenho a esperança de que um peixe vai sair da água e vir pulando até mim. Não que isso seja provável, mas até lá eu me faço de celibatária.
Comecei a procurar namorados, mas logo me dei conta de que era algo muito mais difícil do que eu imaginava. Acho que as outras, que envelheceram antes de mim, foram mais espertas e pegaram logo todos que prestavam e eram heterossexuais. Primeiro eu pensei em “converter” um gay, mas depois vi que era mais fácil, lógico e saudável converter um não-gay, mesmo. Resolvi me contentar com os homens comuns e até que me renderam boas experiências, mas a vida útil dos relacionamentos era muito curta. Em menos de um ano o prazo de validade expirava e eu tinha que sair correndo. De vez em quando uma das mais experientes abria mão dos seus e eu conseguia fisgar, mas eu não era competente o suficiente para segura-lo e em pouco tempo ele me escapava.
Desisti da pesca muito cedo, mas não virei vegetariana, ainda tenho a esperança de que um peixe vai sair da água e vir pulando até mim. Não que isso seja provável, mas até lá eu me faço de celibatária.
quinta-feira, 10 de março de 2005
Menina e mulher I
O mundo tem mistérios que às vezes ninguém explica e estou certa que um dos mais absurdos aconteceu comigo.
Até os meus dez anos sempre levei uma vida normal e fazia tudo que as garotas da minha idade faziam: brincava de boneca, pulava corda e vivia me desentendendo com os meninos.
No dia vinte e quatro de outubro de mil novecentos e noventa e seis eu fui dormir da mesma maneira que vinha fazendo por toda a minha vida, mas por algum motivo que eu não saberia explicar, foi a noite mais estranha que já tive. Eu faria onze anos no dia seguinte, mas acordei com vinte e um. A primeira coisa que senti foi dor. A dor de ter todos os meus órgãos esticados e também a dor que eu sentia por estar usando uma calcinha apertada demais. Então veio a necessidade urgente de encontrar uma tesoura. Corri até o escritório da minha mãe (já que no meu estojo eu só tinha tesoura sem ponta para cortar papel) e cortei minha calcinha. Foi aí que eu conheci os meus pêlos pubianos. Corri de volta para o quarto e comecei a explorar as mudanças mais assustadoras. Além dos pêlos, haviam crescido também os meus seios e aparecido o meu primeiro desgosto de mulher: eu estava cheia de estrias.
Até os meus dez anos sempre levei uma vida normal e fazia tudo que as garotas da minha idade faziam: brincava de boneca, pulava corda e vivia me desentendendo com os meninos.
No dia vinte e quatro de outubro de mil novecentos e noventa e seis eu fui dormir da mesma maneira que vinha fazendo por toda a minha vida, mas por algum motivo que eu não saberia explicar, foi a noite mais estranha que já tive. Eu faria onze anos no dia seguinte, mas acordei com vinte e um. A primeira coisa que senti foi dor. A dor de ter todos os meus órgãos esticados e também a dor que eu sentia por estar usando uma calcinha apertada demais. Então veio a necessidade urgente de encontrar uma tesoura. Corri até o escritório da minha mãe (já que no meu estojo eu só tinha tesoura sem ponta para cortar papel) e cortei minha calcinha. Foi aí que eu conheci os meus pêlos pubianos. Corri de volta para o quarto e comecei a explorar as mudanças mais assustadoras. Além dos pêlos, haviam crescido também os meus seios e aparecido o meu primeiro desgosto de mulher: eu estava cheia de estrias.
quarta-feira, 9 de março de 2005
Miss Bitter's Blues
Mamma
They wanna get me insane
Help me mamma
Help me please
They're playin' with me, mamma
Kill 'em all
They're mean
I've seen
They're bad
Made me sad
And their beauty...
Their damn beauty
Makes me feel so mad
Pappa
What could you do?
They lied to me, pappa
And I hate liars
Will you kill them, pappa?
Do you promise?
Sister
Do you still remember your name?
They wanna get me insane
Help me mamma
Help me please
They're playin' with me, mamma
Kill 'em all
They're mean
I've seen
They're bad
Made me sad
And their beauty...
Their damn beauty
Makes me feel so mad
Pappa
What could you do?
They lied to me, pappa
And I hate liars
Will you kill them, pappa?
Do you promise?
Sister
Do you still remember your name?
segunda-feira, 7 de março de 2005
Last nite
- Ô morena...
- Esse não é o meu nome.
- Então me diga qual é.
- Pra quê?
- Para que eu possa repeti-lo em meus sonhos.
- Mas como é galanteador.
- Sou apenas sincero.
- Duvido muito.
- Não seja tão incrédula.
- Só se você parar de mentir.
- E por que acha que estou mentindo?
- Porque é o que todos fazem.
- Você está muito tensa. Olha, eu não vou te fazer mal.
- Claro que vai.
- ... Eu vou ali pegar uma cerveja, tá?
- Bush it.
Foi-se o tempo das comédias românticas, agora é a hora das tragédias.
- Esse não é o meu nome.
- Então me diga qual é.
- Pra quê?
- Para que eu possa repeti-lo em meus sonhos.
- Mas como é galanteador.
- Sou apenas sincero.
- Duvido muito.
- Não seja tão incrédula.
- Só se você parar de mentir.
- E por que acha que estou mentindo?
- Porque é o que todos fazem.
- Você está muito tensa. Olha, eu não vou te fazer mal.
- Claro que vai.
- ... Eu vou ali pegar uma cerveja, tá?
- Bush it.
Foi-se o tempo das comédias românticas, agora é a hora das tragédias.
domingo, 6 de março de 2005
sexta-feira, 4 de março de 2005
O julgamento de incógnitas
- A sessão está aberta. A promotoria pode ser apresentar.
Uma mulher morena de cabelos presos em coque se levanta e começa a falar em um tom sério:
- A senhora X admitiu ter matado friamente o seu namorado...
- Não.
A juíza a repreende pela interrupção e a ré se desculpa. A promotora prossegue:
- A senhora nega ter matado o senhor Y?
- Não.
- Mas não foi o que acabou de dizer?
- Eu não neguei tê-lo matado. Mas ele nunca disse ser meu namorado. Sempre me apresentava como uma amiga. E tampouco o fiz friamente, muito pelo contrário, eu estava em chamas.
- Será que poderia explicar para o júri o que quer dizer com “em chamas”?
- Eu estava furiosa com ele.
- E a senhora estava na TPM, então não pôde controlar seus impulsos?
- Ele foi um filho da puta.
A juíza fez outra repreensão.
- Por favor, controle o seu linguajar.
- Perdão, meritíssima. Mas a senhora, como mulher, e até mesmo a promotora, com certeza conhecem tão bem quanto eu os motivos pelos quais me deixei levar pelos meus impulsos, como bem disse.
A promotora se apressou em discordar da ré.
- Não sou eu quem está sendo acusada por assassinato.
- Mas vai me dizer que nunca teve vontade de esganar um namorado mentiroso?
- Ora, não vejo motivos para expor minha intimidade aqui para você.
- Eu só estou tentando lhe mostrar que a minha intimidade não é tão diferente da sua.
- Então me mostre. Quais foram os justificáveis motivos do homicídio?
- Nunca disse que eram justificáveis, promotora. E gostaria que a senhora fosse menos sarcástica. É a minha vida que está em jogo, não me faça sentir incontroláveis impulsos de estrangulá-la.
Essa última frase fez com que todos no local ficassem inquietos e causou problemas para que a juíza conseguisse controlar os ânimos dos presentes.
- Que pessoal sem senso de humor...
- Senhora X, por favor deixe de lado as piadinhas e diga o que tiver a dizer em sua defesa. – falou a juíza em um tom sério.
- Sim senhora.
Só então as faces da promotora começaram a retornar à sua cor original.
- Então... Ele foi muito gentil para me conquistar, mas isso é meio óbvio. No início dava sempre notícias, me informava sobre os detalhes da vida dele, me fazia quer que teríamos um futuro.
- Aí ele fez sexo com você e foi embora? Isso não é uma exclusividade sua, sabia? – interrompeu a promotora, impaciente.
- Nada do que eu vou dizer será inédito, promotora. Aliás, qual é o seu nome?
- Z.
- Z, ótimo. Então, Z, ele não estava comigo por causa do sexo. Eu não sou a Hilda Furacão, mas se fosse por isso eu entenderia e me contentaria em desprezá-lo. Mas ele sempre me tratou muito bem e parecia se preocupar comigo.
- Um motivo plausível para um assassinato.
- Mas será que dá pra você calar essa sua boca venenosa? – gritou X, impaciente.
A juíza começou a bater seu martelo, exigindo ordem. Mas X continuou:
- Não se preocupe, eu sei que vou ser presa! Eu só quero ter a chance de me explicar, será que eu posso? Afinal, foi para isso que convocaram esse julgamento, não é mesmo? Porque se for uma só uma encenação eu paro por aqui e me deixo ser levada para a cadeia.
Todos na sala permaneceram temerosos e silenciosos.
- Obrigada. – e continuou – Eu apenas cansei de ouvir sempre as mesmas desculpas. Eu cansei de me iludir com falsas promessas.
Z se controlava para não interrompê-la.
- Pra que ele dizia que era especial? Era a mim ou a si próprio que queria enganar? Eu juro diante deste tribunal que não vejo o que poderia tê-lo feito mentir para mim. Por que em um dia ele está todo carinhoso comigo e no outro se mostra totalmente blasé? Por mais que eu tenha tentado intensivamente nesses poucos anos da minha vida, nunca consegui entender o que os homens queriam. Talvez os exemplares masculinos do nosso júri possam me explicar. – nenhum jurado ousava abrir a boca – Não se preocupem, eu não vou matá-los, ninguém aqui me iludiu.
A juíza falou em um tom meio maternal:
- Senhora X, nós seres humanos somos volúveis. Um dia acordamos e vemos que o eu achávamos que queríamos ontem não é o que queremos hoje. Todos temos os nossos problemas, mas isso não é motivo para sairmos matando uns aos outros.
- Não... às vezes eu acho que eles fazem de propósito.
- Eles?
- Os homens.
- Ora essa, tenho certeza de que há muito homens sensíveis e muitas mulheres insensíveis por aí.
- Mas são justamente esses os piores! Eles te dizem o quanto gostam de crianças, o quanto os seus olhos são bonitos e um dia simplesmente descobrem que procuram algo mais especial. E você, que acreditava ter encontrado o cara com quem seria guardada junto em um vaso de porcelana, de repente perde as asas e cai. Aquelas palavras antes tão doces e melodiosas agora só servem para arranhar o seu coração.
X pára de falar e pode-se ouvir o choro de uma mulher no fundo da sala. A juíza pede a um guarda que a leve para fora, mas ela recusa o auxílio do segurança e se retira sozinha.
- Isso é tudo que eu tenho a dizer em meu favor.
- Mas e quanto à cena do crime
- Z, vamos fazer um recesso de dez minutos e depois você pergunta isso, ta? – a juíza engole toda a água que estava em sua boca e em seu copo e se retira do recinto.
A promotora fita a ré e esta fita suas mãos. A primeira sumiu, mas o julgamento foi retomado e a segunda se limitou a confirmar ou negar os fatos. Obviamente, foi condenada e passou longos vinte e cinco anos sem ouvir as mentiras ou as verdades ditas pelos homens. Saiu da cadeia envelhecida e amargurada, passando o resto a vida a cuidar de um furão que ganhou assim que teve a liberdade, o último homem da sua vida. Suicidou-se quando este morreu.
Thaïs Gualberto
Uma mulher morena de cabelos presos em coque se levanta e começa a falar em um tom sério:
- A senhora X admitiu ter matado friamente o seu namorado...
- Não.
A juíza a repreende pela interrupção e a ré se desculpa. A promotora prossegue:
- A senhora nega ter matado o senhor Y?
- Não.
- Mas não foi o que acabou de dizer?
- Eu não neguei tê-lo matado. Mas ele nunca disse ser meu namorado. Sempre me apresentava como uma amiga. E tampouco o fiz friamente, muito pelo contrário, eu estava em chamas.
- Será que poderia explicar para o júri o que quer dizer com “em chamas”?
- Eu estava furiosa com ele.
- E a senhora estava na TPM, então não pôde controlar seus impulsos?
- Ele foi um filho da puta.
A juíza fez outra repreensão.
- Por favor, controle o seu linguajar.
- Perdão, meritíssima. Mas a senhora, como mulher, e até mesmo a promotora, com certeza conhecem tão bem quanto eu os motivos pelos quais me deixei levar pelos meus impulsos, como bem disse.
A promotora se apressou em discordar da ré.
- Não sou eu quem está sendo acusada por assassinato.
- Mas vai me dizer que nunca teve vontade de esganar um namorado mentiroso?
- Ora, não vejo motivos para expor minha intimidade aqui para você.
- Eu só estou tentando lhe mostrar que a minha intimidade não é tão diferente da sua.
- Então me mostre. Quais foram os justificáveis motivos do homicídio?
- Nunca disse que eram justificáveis, promotora. E gostaria que a senhora fosse menos sarcástica. É a minha vida que está em jogo, não me faça sentir incontroláveis impulsos de estrangulá-la.
Essa última frase fez com que todos no local ficassem inquietos e causou problemas para que a juíza conseguisse controlar os ânimos dos presentes.
- Que pessoal sem senso de humor...
- Senhora X, por favor deixe de lado as piadinhas e diga o que tiver a dizer em sua defesa. – falou a juíza em um tom sério.
- Sim senhora.
Só então as faces da promotora começaram a retornar à sua cor original.
- Então... Ele foi muito gentil para me conquistar, mas isso é meio óbvio. No início dava sempre notícias, me informava sobre os detalhes da vida dele, me fazia quer que teríamos um futuro.
- Aí ele fez sexo com você e foi embora? Isso não é uma exclusividade sua, sabia? – interrompeu a promotora, impaciente.
- Nada do que eu vou dizer será inédito, promotora. Aliás, qual é o seu nome?
- Z.
- Z, ótimo. Então, Z, ele não estava comigo por causa do sexo. Eu não sou a Hilda Furacão, mas se fosse por isso eu entenderia e me contentaria em desprezá-lo. Mas ele sempre me tratou muito bem e parecia se preocupar comigo.
- Um motivo plausível para um assassinato.
- Mas será que dá pra você calar essa sua boca venenosa? – gritou X, impaciente.
A juíza começou a bater seu martelo, exigindo ordem. Mas X continuou:
- Não se preocupe, eu sei que vou ser presa! Eu só quero ter a chance de me explicar, será que eu posso? Afinal, foi para isso que convocaram esse julgamento, não é mesmo? Porque se for uma só uma encenação eu paro por aqui e me deixo ser levada para a cadeia.
Todos na sala permaneceram temerosos e silenciosos.
- Obrigada. – e continuou – Eu apenas cansei de ouvir sempre as mesmas desculpas. Eu cansei de me iludir com falsas promessas.
Z se controlava para não interrompê-la.
- Pra que ele dizia que era especial? Era a mim ou a si próprio que queria enganar? Eu juro diante deste tribunal que não vejo o que poderia tê-lo feito mentir para mim. Por que em um dia ele está todo carinhoso comigo e no outro se mostra totalmente blasé? Por mais que eu tenha tentado intensivamente nesses poucos anos da minha vida, nunca consegui entender o que os homens queriam. Talvez os exemplares masculinos do nosso júri possam me explicar. – nenhum jurado ousava abrir a boca – Não se preocupem, eu não vou matá-los, ninguém aqui me iludiu.
A juíza falou em um tom meio maternal:
- Senhora X, nós seres humanos somos volúveis. Um dia acordamos e vemos que o eu achávamos que queríamos ontem não é o que queremos hoje. Todos temos os nossos problemas, mas isso não é motivo para sairmos matando uns aos outros.
- Não... às vezes eu acho que eles fazem de propósito.
- Eles?
- Os homens.
- Ora essa, tenho certeza de que há muito homens sensíveis e muitas mulheres insensíveis por aí.
- Mas são justamente esses os piores! Eles te dizem o quanto gostam de crianças, o quanto os seus olhos são bonitos e um dia simplesmente descobrem que procuram algo mais especial. E você, que acreditava ter encontrado o cara com quem seria guardada junto em um vaso de porcelana, de repente perde as asas e cai. Aquelas palavras antes tão doces e melodiosas agora só servem para arranhar o seu coração.
X pára de falar e pode-se ouvir o choro de uma mulher no fundo da sala. A juíza pede a um guarda que a leve para fora, mas ela recusa o auxílio do segurança e se retira sozinha.
- Isso é tudo que eu tenho a dizer em meu favor.
- Mas e quanto à cena do crime
- Z, vamos fazer um recesso de dez minutos e depois você pergunta isso, ta? – a juíza engole toda a água que estava em sua boca e em seu copo e se retira do recinto.
A promotora fita a ré e esta fita suas mãos. A primeira sumiu, mas o julgamento foi retomado e a segunda se limitou a confirmar ou negar os fatos. Obviamente, foi condenada e passou longos vinte e cinco anos sem ouvir as mentiras ou as verdades ditas pelos homens. Saiu da cadeia envelhecida e amargurada, passando o resto a vida a cuidar de um furão que ganhou assim que teve a liberdade, o último homem da sua vida. Suicidou-se quando este morreu.
Thaïs Gualberto
quinta-feira, 3 de março de 2005
quarta-feira, 2 de março de 2005
O rei e a rainha
- Um, dois, três...
- Ô meu rei, você tá bem?
- Tô sim, pode dormir.
- Tu sabe que eu só durmo quando tu se deita.
- Uma mania muito feia, por sinal. Dorme que jajá eu vou pra cama.
- Eita home teimoso. Tá bom, vou tentar. Boa noite.
- Boa noite, minha abelha rainha.
- Eita home romântico...
- Doze, treze, catorze, tá quase lá... dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte.
Ele fecha a torneira e coloca a pasta na escova de dentes. Escova-os minuciosamente para não correr o risco de se esquecer de um dente sequer. Enxágua a boca e bochecha a água diversas vezes até certificar-se de que não há mais resquícios de pasta em sua boca. Guarda a escova de dentes com carinho e com cuidado e finalmente vai se deitar.
- O que é que você contava tanto lá, home?
- Tenho que tomar cuidado para não "ingerir coliformes fecais" por causa da escova de dentes. Você tem tampado a privada para dar a descarga?
- Boa noite, rei.
- Boa noite uma pinóia, me responda.
Thaïs Gualberto
- Ô meu rei, você tá bem?
- Tô sim, pode dormir.
- Tu sabe que eu só durmo quando tu se deita.
- Uma mania muito feia, por sinal. Dorme que jajá eu vou pra cama.
- Eita home teimoso. Tá bom, vou tentar. Boa noite.
- Boa noite, minha abelha rainha.
- Eita home romântico...
- Doze, treze, catorze, tá quase lá... dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte.
Ele fecha a torneira e coloca a pasta na escova de dentes. Escova-os minuciosamente para não correr o risco de se esquecer de um dente sequer. Enxágua a boca e bochecha a água diversas vezes até certificar-se de que não há mais resquícios de pasta em sua boca. Guarda a escova de dentes com carinho e com cuidado e finalmente vai se deitar.
- O que é que você contava tanto lá, home?
- Tenho que tomar cuidado para não "ingerir coliformes fecais" por causa da escova de dentes. Você tem tampado a privada para dar a descarga?
- Boa noite, rei.
- Boa noite uma pinóia, me responda.
Thaïs Gualberto
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005
mIRC diariamente
[A] ;DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD DDDDDDDDDDDDDDDDDD
[B] ????????
[A] ouxe
[A] tais lembrada de mim não eh?
[B] quem é você? o,o
[A] Júnior, tú é doida se não lembra de mim mermo eheheheheheheheh
[A] ;P
[B] tem certeza que você me conhece?
[B] qual o meu nome?
[A] Júnior
[B] o MEU
[A] qual o seu?
[A] ah sim
[A] não é a Juliana?
[B] não
[A] Ok desculpe
[B] normal
[B] ????????
[A] ouxe
[A] tais lembrada de mim não eh?
[B] quem é você? o,o
[A] Júnior, tú é doida se não lembra de mim mermo eheheheheheheheh
[A] ;P
[B] tem certeza que você me conhece?
[B] qual o meu nome?
[A] Júnior
[B] o MEU
[A] qual o seu?
[A] ah sim
[A] não é a Juliana?
[B] não
[A] Ok desculpe
[B] normal
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